Eu Sou a Lenda

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Filmes de zumbi, tradicionalmente, são feitos com pouco dinheiro e com atores desconhecidos ou em fim de carreira. Esse não é o caso de Eu Sou a Lenda. “Hein? Zumbis?”, deve estar exclamando o delfonauta, para o qual eu respondo “Hell, yeah, bitch! (fazia tempo que eu não escrevia isso aqui) Zumbis, cara!”.

Ok, provavelmente o Riroca, que sempre se manifesta quando qualquer pessoa por aqui fala que Extermínio tem zumbis também vai se manifestar neste texto. Afinal, assim como no longa de Danny Boyle, os miolentos deste filme não são mortos-vivos, mas pessoas doentes, infectadas por um vírus semelhante ao da raiva. Claro, ainda assim eles vivem atrás de miolos, portanto, são zumbis.

Tudo começa com a entrevista de uma cientista dizendo que curou o câncer. Corta para três anos depois e vemos uma Nova Iorque destruída, que lembra deveras (e eu enfativo esse deveras com a palavra “assaz”, para deixar claro que não estou brincando) o cenário de Gears of War. A cidade está deserta e, durante muito tempo, parecem sobrar nela apenas o cientista Robert Neville (Will Smith) e sua cadela Samantha. Acontece que os zumbis aqui se queimam na luz do Sol. Isso faz com que seja seguro passear pela cidade de dia, e só a noite é realmente perigosa. Essa solidão e o fato de os diálogos de mais da metade do filme estarem mais para monólogos, já que a cadelinha não responde, fazem com que o espectador seja lembrado do pentelhudo Náufrago. Daí eu me lembro que o Evil Dead 2 também tem trechos longos sem diálogo e, por também apresentar zumbis, talvez seja uma comparação melhor. Mas falta a Eu Sou a Lenda o humor do longa de Sam Raimi e, convenhamos, Robert Neville não tem o carisma do Ash, então mantenho a comparação com aquele estrelado por Tom Hanks.

Isso tudo faz com que o filme seja um pouco lento demais, inclusive com trechos que flertam com o dramalhão desnecessário, tipo família falecida e tal. Tem até uma cena completamente absurda, que trouxe de volta à minha memória o terrível Perfume (Corrales coloca as mãos no rosto na clássica posição do Esqueceram de Mim e grita “Nãããããoooo!”), onde o protagonista metralha um manequim, por algum motivo que provavelmente só o roteirista é capaz de imaginar.

Outro momento bem chato é depois que o cientista encontra uma moça (Alice Braga) e um moleque. Os diálogos entre eles são extremamente mal construídos e é outro absurdo a mulher nunca ter ouvido falar de Bob Marley (cacilda, TODO MUNDO já ouviu falar de Bob Marley, e isso não vai mudar em três ou quatro anos no futuro, quando o filme se passa. Ou será que eles acham que o Reggae nunca chegou ao Brasil?).

Para completar os defeitos, acho que Will Smith não foi uma boa escolha para o papel. Nada a ver com a atuação dele, que está excelente, como sempre (aliás, é difícil acreditar que o Fresh Prince virou um tremendo ator), mas assim como o Tom Cruise não tem cara de um estadunidense médio e, portanto, não foi uma boa escolha para Guerra dos Mundos, Will simplesmente não tem a cara de acadêmico que se espera de um cientista – e isso prejudica a imersão na história.

Apesar dos três parágrafos acima, devo admitir que Eu Sou a Lenda é um filme bem irregular. Isso significa que, sim, ele tem trechos chatíssimos, que parecem influenciados por Náufrago, mas também tem outros bem legais, que acabam valendo o ingresso em um sábado sem nada melhor para fazer. O clímax, em especial, é deveras emocionante – e é também o único momento onde o drama dá lugar para a ação. Pena que não existam mais cenas assim nele.

Tem outros bons momentos, é claro, mas tudo é lento e pretensioso demais e, como é comum em filmes com orçamentos bombados, as críticas sociais onipresentes em longas de zumbi abrem espaço para roteiros-maker Tabajara e poucas novidades.

Este era um longa que prometia bastante. Não se trata de uma obra tosca ou ruim, de forma alguma, mas também não dá para dizer que cumpriu suas promessas. Será que Will Smith nunca mais vai participar de um filme realmente tremendão e divertido, como Eu, Robô, ou MIB?

Curiosidade:

– No convite para esta cabine, constava um aviso de que seria uma cópia sem legenda. Isso me deixou deveras empolgado, pois nunca tive oportunidade de conferir um filme sem as malditas letrinhas aqui no Brasil. Infelizmente, acho que o povo deu um gás e conseguiu legendar a tempo. Dammit!

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
eu-sou-a-lendaPaís: EUA<br> Ano: 2007<br> Gênero: Drama<br> Roteiro: Mark Protosevich e Akiva Goldsman, baseado em roteiro de John William Corrington e Joyce Hooper Corrington e em livro de Richard Matheson.<br> Produtor: Akiva Goldsman, David Heyman, James Lassiter, Neal H. Moritz e Erwin Stoff.<br> Diretor: Francis Lawrence<br> Distribuidor: Warner<br>