Lá no início dos anos 2000, com o surgimento e popularização dos reality shows, muito se discutia a respeito dos limites do bom senso desse tipo de programa. O que era válido e o que era apelativo, ao explorar os participantes em troca de bons números de audiência. Esta é a Sua Morte – O Show trata justamente dessas questões.
Quando acontece uma tragédia num reality show estilo The Bachelor, seu apresentador (Josh Duhamel) põe a mão na consciência. Só que aparentemente isso não dura muito, ou ele não encontra muita coisa dentro dela. Pois logo, junto de uma executiva da emissora (a Jean Grey) e mais uma produtora, eles desenvolvem um novo programa de realidade.
Nele, pessoas desesperadas, geralmente precisando de auxílio financeiro, se matam em frente às câmeras e à plateia do auditório em troca de dinheiro para seus entes queridos. O que começa como uma tentativa até válida de fazer o espectador refletir sobre o valor da vida humana rapidamente se torna apenas mais um espetáculo raso para saciar nossos mais baixos instintos.
Uma curiosidade que talvez interesse os fãs de cultura pop é que o longa é dirigido por Giancarlo Esposito, o Gus Fring de Breaking Bad. Este é o seu segundo filme no comando. Ele já havia dirigido um, Gospel Hill, em 2008. Bom, para quem teve de lidar com Walter White, ficar atrás das câmeras deve ser moleza.
Enfim, o filme é interessante, seu desenvolvimento é bacana e a história é boa. Ainda que esteja uns bons anos fora do timing. Tivesse sido feito lá no já referido começo dos 2000, quando os reality shows viraram febre, gerando todo tipo de discussão a seu respeito, sua temática teria sido muito mais incisiva e oportuna.
Agora, com o formato já mais que estabelecido e longe dos anos de glória, não é tão impactante assim. A forma como suas críticas são feitas às vezes também resvalam no panfletarismo, uma coisa meio filme de faculdade, manja?
MORTES SOB OS HOLOFOTES
Eu tenho problemas com a forma como o personagem do Josh Duhamel se desenvolve. Para quem passou por um grande trauma e realmente parecia estar sentindo a tragédia, ser ele a tentar racionalizar e justificar uma ideia estapafúrdia como a do reality dos suicídios é no mínimo estranho.
Ainda assim, o desenvolvimento do seu personagem, seduzido pela fama e o sucesso e rapidamente se tornando exatamente aquilo que antes criticava, é bom. Algo que é pincelado por alto e eu gostaria de ver mais é a discussão mais jurídica a respeito de como viabilizar uma coisa dessas sem que a emissora seja processada ou os envolvidos presos por transmitirem ao vivo mortes planejadas.
Outra coisa que não ficou legal é justamente o fato de que Esposito deu um papel secundário a si mesmo, algo comum em filmes dirigidos por atores. Só que não só você sabe exatamente aonde esse personagem vai terminar desde a primeira vez que ele aparece, como, ao imbuir tal personagem com uma grande importância, acaba atrapalhando o clímax do filme.
Ao acreditar que seu personagem é tão importante para o desfecho da história, acabou não percebendo que, se trocasse a ordem de determinado acontecimento, o final teria ficado não só muito mais poderoso, como até fugiria do estilo “discursinho manjado”. É algo tão óbvio que eu não acredito que ninguém pensou em fazer essa mudança mínima.
Obviamente eu falei mais dos defeitos que das qualidades, pois são eles que mais chamam atenção. Mas mesmo com eles, o filme ainda é positivo e sua história é bacana o suficiente para garantir o interesse. Para quem gosta de um drama menos mainstream, que entra no campo da discussão sobre os limites do que vai ao ar na televisão, Esta é a Sua Morte – O Show é, com o perdão do trocadilho, um bom programa.
