Esquadrão Suicida

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Os EUA deram sorte. O Superman era bonzinho, compartilhava dos valores estadunidenses. Mas e se o próximo Superomão fosse um terrorista? Como os soldados sem poderes vão conseguir vencer um super-humano? Mais ou menos pelo mesmo motivo, o governo estadunidense da Marvel criou Os Vingadores, juntando vários heróis em uma única equipe de pintudice épica.

Já a DC gosta de viver perigosamente. Antes de fazer um filme solo do Batman, resolveram pegar o personagem já quarentão e experiente e colocá-lo contra o Superman logo de cara. Por que eles resolveriam o problema do mesmo jeito? Por que formar um time de super-heróis quando você pode juntar um bando de vilões sanguinários e deixar tudo mais emocionante?

Em parte, é porque o filme da Liga da Justiça ainda não está pronto. Mas especialmente porque fazer um longa do Esquadrão Suicida acaba sendo uma jogada semelhante à Marvel com Os Guardiões da Galáxia. Se der certo, belezura, mas se não der, o grupo não é lá muito conhecido, então dá para simplesmente ignorar no futuro.

HUM… ARLEQUINA…

O filme do Esquadrão Suicida não se dá tão bem quanto o dos Vingadores em deixar todos os seus personagens brilharem. Não, ele claramente é o filme do Pistoleiro (Will Smith) e, em menor grau, da Arlequina (Margot Robbie). A diferença no status da galera já fica clara logo na abertura, onde cada um dos vilões ganha uma apresentação estilosa.

Esta abertura é muito forte. É estilosa, é engraçada e empolga, além de trazer um monte de músicas legalzudas dos anos 60, 70 e 80. Mas é inegável que, enquanto o Pistoleiro e a Arlequina são apresentados em histórias detalhadas e completas, todos os outros são desenvolvidos de forma bem mais apressada. Não se preocupe, os genéricos, como Killer Croc e companhia, também ganham uma apresentação estilosa, com participação de alguns grandes heróis da DC e tudo – só são bem mais rápidas.

Eu sempre achei que a Arlequina fosse roubar o filme. Afinal, ela é a personagem mais legal e divertida entre os protagonistas. De fato, ela rouba boa parte da projeção. Ela é engraçada e parece um desenho animado hiper-sexualizado, meio como a Jessica Rabbit.

Margot Robbie está linda como a personagem e deveras sexy também, e olha que normalmente eu gosto de moças menos magrinhas. Obviamente, eu não vejo problema na Arlequina ser sexualizada. A personagem é assim no gibi e deixá-la mais comportada no cinema a desvirtuaria. Seria como adaptar o Justiceiro fazendo com que ele não matasse os bandidos, com a diferença de que violência é – ou deveria ser – bem pior do que sexo.

Se os endinheirados de Hollywood pensassem que a personagem não cairia bem para o público do cinema, é melhor simplesmente deixar ela para sempre nos quadrinhos do que arrancar sua alma para adaptá-la para a tela grande. Então devo dizer que, se eu fosse o diretor deste filme, teria mantido a personagem exatamente do jeito que ela está, pois temos uma das melhores transposições que já vimos das HQs para o cinema.

Por outro lado, a personagem muda bastante ao longo da projeção. Ela se torna muito mais séria e menos cartunesca, muito mais uma moça bela, recatada e do lar do que a psicopata que tem uma relação de amor e ódio com o Coringa.

O Coringa, aliás, aparece bem pouco, mas peca em dar uma interpretação mais séria ao palhaço do crime. Eu gosto muito do personagem, e talvez por isso mesmo sou bem exigente em suas adaptações. Considero que sua melhor apresentação em outra mídia foi nos jogos Arkham, e nem estou falando da interpretação de Mark Hamill, mas ao desenvolvimento do personagem mesmo.

Em um dos jogos Arkham da geração passada, tem uma cena em que o Coringa cai de um prédio, e o Batman pula atrás para salvá-lo. Quando o morcegão pega o palhaço, este ao invés de se sentir aliviado, começa a dar socos no herói. Este tipo de atitude resume bem o que tornou o Coringa um dos vilões mais populares das HQs, e esta essência auto-destrutiva e cômica não está no Coringa de Jared Leto, que parece um criminoso até bem tradicional, não mais psicopata ou louco do que qualquer outro vilão que vemos no cinema.

ARCO DRAMÁTICO

Este arco dramático da personagem Arlequina acaba se expandindo para todo o filme. O que começa como uma diversão descompromissada com altos traços de humor negro acaba parecendo uma animação para crianças.

Acha que estou exagerando? Na segunda metade do filme os personagens constantemente falam do valor da amizade e parecem mais o grupo do Era do Gelo do que os vilões sanguinários que são – ou deveriam ser.

Isso já é até esperado. Hollywood tem uma tradição de transformar anti-heróis em heróis. Veja o que fizeram com o Sawyer em Lost, por exemplo. É por aí.

E daí voltamos ao mesmo problema que eu apresentei acima em diminuir a sexualidade da Arlequina. Se é para transformar vilões em heróis, por que fazer este filme, e não um filme dos Novos Titãs ou qualquer outro grupo de personagens secundários da DC?

É aí que Esquadrão Suicida se perde. E é uma pena, pois ele passa tão perto de acertar. Da abertura até um ponto que deve ficar mais ou menos na metade, ele é realmente muito bom, bem como deveria ser. Porém, a moralização da coisa acaba vencendo, e o filme sofre por isso.

O caminho escolhido por si só já apresenta falhas, mas até poderia funcionar se fosse melhor desenvolvido. O problema é que estamos falando de um filme com pouco mais de duas horas de duração. É pouco tempo para mudar completamente seus personagens. Veja como foi desenvolvida a transformação de Walter White de um professor de química a um traficante frio e calculista em Breaking Bad e compare com o que acontece com os vilões/heróis de Esquadrão Suicida. É tudo muito rápido, muito Hollywood moralista e com isso o filme perde muito em sua conclusão.

Ainda assim, temos aqui um filme legal. Bastante superior a Batman Vs. Superman, quem diria que este seria o melhor filme da DC no ano e não aquele que mostraria seus dois medalhões.

Durante boa parte de sua projeção, Esquadrão Suicida é divertido, engraçado e deveras estiloso. Ele continua estiloso até o fim, mas vai aos poucos perdendo suas outras qualidades. Vale assistir? Até vale, mas a Warner FNORD! e a DC ainda estão longe de bater a Marvel no seu universo cinematográfico.

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Batman: Dead End – Um fan film melhor que muita coisa oficial. Joel Schumacher, estou falando com você!

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Batman – O Cavaleiro das Trevas – Seria este o melhor Coringa de todos os tempos?

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Os extras do DVD de Batman Begins – Para quem curte umas horinhas a mais de diversão em casa.

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge – O final da trilogia.

Superman – O Retorno – Bryan Singer homenageia os filmes antigos do azulão.

O Homem de Aço – O marco zero do Universo Cinematográfico DC? O tempo dirá.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
esquadrao-suicidaPaís: EUA<br> Ano: 2016<br> Gênero: Ação<br> Duração: 130 minutos<br> Roteiro: David Ayer<br> Elenco: Will Smith, Margot Robbie, Jared Leto e Viola Davis.<br> Diretor: David Ayer<br> Distribuidor: Warner<br>