A essa altura o delfonauta já sabe que nosso coleguinha Carlos Cyrino é um autor publicado. Mais do que isso, os delfonautas realmente dedicados com certeza estavam no lançamento e já têm sua cópia autografada na estante. Para os que ainda não se convenceram a adquirir o livro, espero que essa resenha ajude a decidir.
MAS, CORRALES, POR QUE EU ACREDITARIA NA SUA OPINIÃO? VOCÊ NÃO FALARIA MAL DO LIVRO DO SEU AMIGO, NÉ?
De fato, delfonauta questionador, eu nunca escreveria um texto aqui que prejudicasse meu estimado colega. Mas também valorizo minha credibilidade, então se achasse que esse livro não merecesse uma resenha positiva, simplesmente não a faria. Como fiz – e você está lendo – pode acreditar que é porque gostei mesmo, e acredito que você também vai gostar.
O LIVRO
O protagonista é Eduardo Vieira, um jornalista de vinte e tantos anos que está cansado da sua vida inútil e vazia, do emprego, da namorada e das pessoas em geral. Um belo dia, um colega de trabalho morre, e isso acaba servindo de catalisador para nosso herói mudar toda a sua vida. Ou tentar. Se ele vai ou não conseguir escapar do Monstro Chamado Sociedade você só vai saber no final da leitura. E já aviso: vai ser uma leitura pesada.
Isso porque Eduardo Vieira não é um bom sujeito, e ele sabe disso. Ele é egoísta, cruel e não quer mudar. Boa parte das coisas que ele fala (a narrativa é em primeira pessoa) são chocantes, dado o desprendimento que o personagem tem da vida e das outras pessoas. Muitas dessas coisas você mesmo já pensou e até concorda, mas não deixa de ser chocante ver um caboclo falando delas como se fossem as coisas mais normais do mundo.
Esse aspecto de um personagem sem papas na língua e sem compromissos com a sociedade me lembrou a narrativa do clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, porém, como obra completa, percebi mais semelhanças de Espaços Desabitados com duas outras obras. Vamos analisar essas semelhanças separadamente.
A semelhança de Espaços Desabitados com o filme que uniu Larry David e Woody Allen está no fato de que o livro, tal qual o longa, é, antes da história ou de qualquer outra coisa, uma viagem pela mente de seu protagonista.
Sim, Espaços Desabitados tem uma história. Coisas acontecem nele, mas elas só fazem sentido graças aos pensamentos de Eduardo Vieira, que são apresentados muitas vezes em longos trechos, justamente os melhores momentos do livro. Claro, o aproveitamento destes pedaços estará diretamente ligado com o quanto você se identifica com Eduardo. E o quanto você se identifica com Eduardo depende de quanto você se identifica com o nosso amigo Cyrilove.
Não, não se trata de uma autobiografia, mas o nosso amigo/autor buscou muito em sua própria vida para compor a de seu personagem e várias de suas opiniões e gostos pessoais são apresentados no livro. Conversei com ele sobre isso, ao que ele respondeu que “tem bastante coisa autobiográfica, mas tem também muita mentira”, e eu acredito nele (inclusive sei até quais partes são “mentira”). Ainda assim, foi difícil não imaginar Eduardo com a cara do Cyrino.
E, como o Cyrino e eu somos bem parecidos na forma com que encaramos as pessoas e a sociedade, o livro acaba tendo também muito a ver comigo e com a minha forma de pensar. É, eu realmente não sou uma boa pessoa, mas você já devia saber disso. =P
CLUBE DA LUTA
A outra semelhança forte que senti ao ler Espaços Desabitados foi com Clube da Luta – e desse eu sei que o autor gosta.
Isso porque, quando decide tentar escapar da vida ridícula que a sociedade lhe impôs, Eduardo vai, um a um, se livrando de tudo e de todos. Pessoas, produtos, e até a sua coleção de discos acabam indo para o beleléu. E essa parte tem bastante a ver, espiritualmente falando, com a jornada do personagem do outro Eduardo, o Norton, embora Eduardo Vieira não se enfie em lutas físicas (pelo menos não até bem perto do final).
No geral, ambos se parecem especialmente em sua mensagem, pois até no gênero se diferem. Clube da Luta, para aqueles que entenderam sua ideia, é uma comédia. Espaços Desabitados até tem seus momentos engraçados, mas no geral é um livro amargo, desiludido e bastante triste. E é bom exatamente pelos mesmos motivos.
REFERÊNCIAS
Se tem uma coisa da qual nerds gostam é de referências, e o nerd true que se habilitar a ler Espaços Desabitados vai encontrar literalmente centenas delas.
Guia do Mochileiro das Galáxias? Check. Monty Python? Check. E ninguém escapa da inquisição espanhola, especialmente sem levar toalhas.
Porém, embora a narrativa esteja repleta de referências, a maioria delas está nas divisões. Os nomes dos capítulos, por exemplo, lembram a forma que a série Friends batizava seus episódios. Cada capítulo ainda é dividido em várias partes menores, e cada um desses leva o nome de uma música traduzido para o português, em uma seleção que vai de Queen a Ramones, de Pearl Jam a Megadeth, além de um montão (montão mesmo) de Beatles.
É muito legal tentar sacar quais são as músicas e de quais bandas, e não é muito difícil, pois a maioria delas é bastante conhecida. Chega a ser impressionante como nosso amigo conseguiu encaixar tão bem esses títulos à sua história e ficou tão legal que eu amaldiçôo o Cyrilove por ter tido essa ideia antes de mim. =)
PALAVRAS FINAIS
Espaços Desabitados é um livro especial, que realmente falou comigo e cuja leitura foi agradabilíssima. É especial por ser pessoal, e é por isso que tem potencial de falar com cada um de nós, delfianos ou delfonautas.
Se você gosta dos textos do Cyrino e se identifica com o cara, compre agora mesmo o seu Cyrilivro.
CURIOSIDADES QUE VOCÊ SÓ ENCONTRA EM UMA RESENHA ESCRITA POR UM AMIGO DO AUTOR
– O Cyrino também é um Carlos Eduardo, e é daí que vem o primeiro nome do seu protagonista. Já o Vieira é parte do sobrenome da mãe do Cyrilove.
– Ficou com vontade de comprar? Você pode encomendar o livro na Livraria Cultura ou então diretamente no site da editora Toró na Cuca.