Quarentena é o remake estadunidense do espanhol [REC]. Eu vi [REC] duas vezes no cinema e Quarentena uma vez. Assim, assistindo ao filme neste DVD pela quarta vez e ainda em condições longe do ideal (é difícil ficar com medo na sala da sua casa, com a luz acesa e comendo chocolate), provavelmente não ia mais ter o mesmo efeito das salas de cinema, certo?
Errado! Tudo bem, por já saber tudo que acontece de cor e salteado, demorei mais para ficar com medo, mas pelamordehades, no terceiro ato (exatamente quando a maioria dos filmes fica ruim, graças a lições de amizade, partezinhas tristes e coisas do tipo), quando eles perdem o controle do prédio e as esperanças começam a ruir, eu estava precisando de um abraço. [REC]/Quarentena é assim tão bom! E tem um clímax digno de ser chamado assim.
FILME
Já falei bastante sobre [REC] na minha resenha e nosso amigo Cyrilove fez uma excelente comparação matriz/remake quando falou sobre Quarentena. Eu tenho pouco a acrescentar, até porque concordo com meu xará de olhar blasé em praticamente tudo.
Sendo mais específico, decididamente Quarentena tem um primeiro ato mais interessante, com seu clima mais cômico e leve, mas especialmente porque a Ângela Vidal de Jennifer Carpenter está muito mais simpática que a de Manuela Velasco. Só acho desnecessário o bombeiro ficar dando em cima da repórter. Deve ser coisa de estadunidense.
Por outro lado, nos momentos assustadores, a Espanha vence os EUA, especialmente por ser capaz de criar medo e tensão sem ter que apelar para momentos “Bu!”, na linha de cachorros saindo de trás da porta.
De qualquer forma, os dois filmes são bem parecidos e a principal diferença acaba sendo que a versão made in USA tem rostos mais famosos na tela. Mas sabe o que é curioso? Historicamente, quando um remake é feito, o elenco costuma ficar mais bonito. Foi assim em casos como A Profecia e A Fantástica Fábrica de Chocolate. Esse talvez seja a primeira exceção. Convenhamos, Jennifer Carpenter é uma excelente atriz e parece ser muito simpática, mas não é nenhuma beldade, especialmente se comparada à Manuela Velasco. ^^
IMAGEM
Excelente. Não assistia a um DVD desde que entrei no mundo dos Blu-rays e me surpreendi com a qualidade de imagem desse aqui, que está acima de muitos blockbusters por aí. Provavelmente encontramos neste disco a qualidade máxima de imagem que um DVD consegue chegar.
SOM
Esse é um ponto em que este disco merecia o Selo Delfiano Supremo com louvor. Disponível em português e inglês, ambos em Dolby Digital 5.1, a mixagem é ótima e utiliza todas as caixas quase o tempo todo. Trata-se de uma das melhores mixagens que tive o prazer de ouvir desde a versão estendida de A Sociedade do Anel. Porém, ela ganha ainda mais brilho graças à excelente construção sonora do filme.
Tudo é feito de forma totalmente desprovida de música. Ao mesmo tempo, não existem momentos de silêncio. Repare como, mesmo quando não tem ninguém falando, o prédio parece um local perigoso e hostil, graças aos barulhos do ambiente. O troço é tão absurdamente bem feito que eu colocaria este DVD como a coisa com mais atmosfera sonora desde Bioshock. E, se você jogou o shooter filosófico, sabe que isso não é pouca coisa.
EXTRAS
Nós sabemos que Quarentena não é um blockbuster com orçamento ilimitado. Assim, acredito que ninguém esperava um DVD duplo e cheio de extras, certo? Confira o que temos aqui:
– Making of: o nome fala tudo. E não é que é bem interessante? É curioso que às vezes parece que um filme mais cru, com uma iluminação mais natural, parece ser mais difícil de fazer do que um estiloso. O único defeito é que eles ignoram completamente a existência de [REC], e isso não é legal. Dura cerca de 10 minutos.
– Maquiagem de Robert Hall: não apenas maquiagem, mas é um documentário de sete minutos dedicado aos efeitos especiais. É legal ver as justificativas para as escolhas de design.
– Anatomia de uma cena: três minutos mostrando como foi feita a cena da mulher que cai no vão das escadas.
– Trailers: alguns trailers de filmes, em sua maioria desconhecidos, e uma propaganda de Blu-Ray. Alguém me explica porque não tem trailer de Quarentena aqui?
– Comentários de John Erick Dowdle e Drew Dowdle: aquela coisa de sempre. Você assiste ao filme enquanto os dois ficam falando. Reservado para fãs extremamente hardcore.
O total não chega nem a meia-hora de material em vídeo extra. De qualquer forma, esse é o tipo de DVD que você compra pelo filme, não pelos extras, já que não se trata de uma superprodução. Pelo menos tudo o que tem aqui é legal e não tem nada “enchendo linguiça”.
CONCLUSÃO
Sinceramente, não sei se [REC] saiu ou vai sair em DVD no Brasil. Acredito que não. Neste caso, nossa dúvida é automaticamente eliminada e fãs do cinema Z têm a obrigação de ter este filme em casa. Aliás, não só do cinema Z, mas de todo o gênero terror. É muito difícil um longa realmente ter a capacidade de dar medo sem ficar gritando “bu!” a todo momento. Quando isso acontece, porém, deve ser divulgado. Compre Quarentena aqui.
CURIOSIDADE
– Jennifer Carpenter conseguiu a façanha de estar em dois dos filmes mais assustadores que já vi. Um deles, obviamente, é esse. O outro? Esse aqui.
BÔNUS TRACK
Depois do lançamento de [REC], a delfonauta Luciana Carneiro me enviou um e-mail com algumas teorias e perguntas deveras interessantes sobre a história do filme. Como praticamente todas elas também se encaixam em Quarentena, escrevi para a moça pedindo a permissão para publicar o e-mail aqui. Confira a história dela com o filme e divirta-se tentando esclarecer as dúvidas e teorias da nossa amiga nos comentários. Contudo, se você não assistiu, fique avisado que a partir daqui vivem estragões peludos e malvados, famintos por miolos. Ah, e a redação, obviamente, é toda da Luciana Carneiro, já que é um e-mail dela. ^^
E REC. Meu amigo, o que é aquilo? Há anos que eu não pulava na cadeira, porque filmes de terror não me assustam mais, só dá nojinho… Mas nesse eu pulei pra caramba. Fui assistir no Bourbon, no sábado de tarde. Eu adoro cinema vazio, assim como você, mas estava lotado dessa vez, e foi engraçadíssimo.
Chegou num ponto que as pessoas riam de nervoso. Pipoca voando pra todo lado. Tinha uma pessoa na minha frente que, quando caiu uma pipoca na frente dela [eu vi, estava tentando controlar a tontura], deu um berro, bem na cena em que o médico do governo se transforma e bate na porta de vidro. Aliás, história engraçada: eu mostrei a sua resenha [só os Alfredinhos] pro namorado, mas não deixei ele ler e disse que queria muito ver. Ele detesta filme de terror, passa mal, fica enjoado, um horror. E ele só perguntou “é terror?”. Não menti, falei que era de zumbis. Mas só falei que era espanhol já sentada na poltrona do cinema. Ele soltou um “Vixe… onde foi que você me enfiou dessa vez?”. Eu já levei ele pra assistir a um monte de filme que ele não gostou. Tem vários exemplos, mas eu só consigo me lembrar do Closer, agora.
Surpresa! Não só gostou [apesar de ter saído do cinema em pandarecos, demorou uma eternidade no banheiro depois] como estamos falando sobre ele para os amigos, que já foram em peso assistir no domingo!
Váááááárias teorias e algumas dúvidas:
– A primeira vítima não foi nem a velha, nem o cachorro, foram os gatos da velha. Eles atacaram o cachorro e a velha. A velha deu no que deu. A menina demorou mais por dois motivos: organismo de criança é forte pra caramba, e ela só foi lambida, não mordida. Tem gente que discorda, já que o rostinho dela tem uma marquinha logo acima do lábio direito. Como os gatos pegaram? Ou eles entraram no apartamento da cobertura, ou foram pombos. E essa hipótese me deixa apavorada.
– Cadê os gatos, by the way?
– Quem é o moleque que quebra a câmera? Não pode ser o filho dos chineses, a porta estava trancada.
– Que droga de quarto lacrado é esse? Não tinha nem uma porta fechada no apartamento!
– E zumbi cresce?
– Por que as infecções são cada vez mais rápidas?
– Se a menina estava todo esse tempo lá, como é que ninguém nunca ouviu nada? E como ela comia? Pombos? Os zumbis do Epidemia e do Resident Evil morriam de fome depois de um tempo. E aí, vai deixar o prédio lacrado até quando?
– Se tem a saída do bueiro, e se eles são atraídos por cheiro, como é que os zumbis também não tentaram arrombar aquela saída?
– Se eles descobrirem a fita do gravador, eles vão processar o Vaticano?”
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