DVD: Final Fantasy VII: Advent Children

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Ah, os produtos “caça-níqueis”. Basta algo fazer sucesso que logo aparecem coisas relacionadas a esse algo. Tá, é legal você conseguir comprar trilhas sonoras, bonequinhos e etc. O chato é quando esses sub-produtos têm qualidade questionável e, infelizmente é o caso deste Final Fantasy VII: Advent Children, um longa metragem em computação gráfica que ficou uns três ou quatro anos em produção.

Final Fantasy VII foi um dos jogos mais bem sucedidos da série e do console PlayStation One, além de ser, na modesta opinião deste que vos escreve, um dos jogos mais superestimados da história dos videogames. Bem, por alguma razão bizarra, os sub-produtos do jogo não saíram na época, mas no ano passado fomos bombardeados por coisas relacionadas a Final Fantasy VII. Provavelmente a Square (fabricante do jogo e produtora do filme) está querendo encher o seu cofrinho. Mas enfim, não estou aqui para falar sobre o jogo, mas sobre o filme.

Como eu talvez não seja muito imparcial (e nem esta é a idéia do site), chamei dois amigos para assistirem ao DVD comigo e a opinião dos três foi unânime: é uma droga. Fanboys furiosos, meu email é guilherme@delfos.jor.br. Sintam-se livres para descarregar a ira causada por esta resenha. Não, é sério, eu vou me divertir muito lendo os emails de fúria.

O filme começa exatamente onde o jogo acaba, para depois dar um flashback. Ah, e rola uma explicação da história. Interessante como essa explicação dura cerca de cinco minutos. Dá para ter uma idéia do quão bobinha é a história do jogo de mais de quarenta horas que tanta gente endeusa. Ops, já estou divagando de novo. Eu disse que a resenha é sobre o filme, então voltemos a ele.

O tema principal é uma doença chamada Geostigma. Peraí, eu disse que o tema principal é a tal doença? Bom, ela está lá (aparentemente é uma sujeira no braço das pessoas), mas não tem nenhuma relevância para a história. Três figuras misteriosas, claramente relacionadas ao vilão do jogo, Sephiroth, aparecem e atacam o personagem principal. Eles estão procurando a mãe. Parece meigo, mas na verdade a Mãe é um monstrengo intergaláctico chamado Jenova que teve células usadas para dar origem a esses carinhas e ao Sephiroth.

Agora vamos falar sobre a estética visual do filme. O personagem principal, Cloud, ficou parecendo uma curiosa mistura entre um emo e o vocalista do The Cure. É, é sério. Ah, e todos os personagens usam couro. Não entendi o porquê do visual claramente cyberpunk, uma vez que o jogo (base da história, afinal de contas) tem pouquíssimas referências a isso. Deve ser para o filme ficar estiloso como Matrix (uma série que odeio com todas as minhas forças). Aliás, muito visual e pouco conteúdo tem se tornado a norma para a Square. Não é à toa que ela se dá tão bem com a Sony.

Voltando aos personagens, infelizmente a maior parte do elenco do jogo foi estranhamente descaracterizado. O Barret, por exemplo, virou um idiota. Faz a gente agradecer pelo jogo originalmente não ter vozes.

Nem tudo está perdido: algumas cenas ficaram muito bonitas. Há uma específica, que acontece numa espécie de floresta (que, estranhamente, se chama Cidade Perdida) com árvores que irradiam uma luz branca que realmente me impressionou. Tenho que dar isso de crédito. O filme usa uma palheta de cores muito pobre, e raramente vemos coisas coloridas.

As movimentações dos personagens são muito artificiais, chegando mesmo a ser robóticas. Motion Capture existe para isso, pessoas. Um dos amigos que estava assistindo comigo, grande fã das animações da Pixar, ficou impressionado com a diferença de nível. É, talento não é para qualquer um. Basta olhar as animações dos cabelos dos personagens para perceber a diferença de nível. Ah, e as pessoas não se molham em nenhuma das várias vezes que caem na água.

Para quem, como eu, não gosta de câmeras lentas naquele estilo Matrix, as batalhas serão dolorosamente chatas. Elas acontecem o maldito tempo todo: em praticamente todos os golpes há uma câmera lenta.

Outra unanimidade entre nós três foi quanto aos diálogos mal feitos. Fazer o quê? O enredo não era grandes coisas, para começo de conversa. Quase um terço do filme é flashback e, dá para imaginar o quão confusa uma pessoa que não jogou Final Fantasy VII deve se sentir. Às vezes os vilões invocam uns monstrengos e quem não sabe que o que faz isso é um item do jogo, fica perdido. Ah, e ponto para os monstrengos, que estão bem feitos e são legais de olhar. A trilha sonora é bem idiota, cheia de corinhos genéricos. Ah, e pianinhos misturados com techno. Uga, mim não gostar disso.

Uma coisa que achei particularmente curiosa foram os celulares estilosos dos personagens. Por alguma razão engraçada, o filme dá bastante ênfase neles. Tem uma cena engraçada onde vemos um celular caindo lentamente em um lago. Tá, tem todo um significado filosófico nela, mas não deixa de ser engraçada. Será que a Square lançará um modelo de celular FF7:AC Limited Edition? Seria bem típico dela. Tem até uma cena onde o Vincent (personagem do filme e do jogo) aparece perguntando onde poderia comprar um telefone. Seria engraçado se os caras aproveitassem o momento para dar o endereço de uma loja onde o celular é vendido.

Na metade final do filme, os personagens esquisitos do jogo saem do nada para matar um monstrengo. É engraçado porque aparece todo mundo junto e não tinha nenhuma razão para isso acontecer. Personagens secundários têm muito mais tempo de cena. Se a idéia era fazer um fanservice com os personagens do jogo que todo mundo gosta, seria melhor que fizessem isso direito. Nenhum fã do jogo, acredito eu, quer ver o filme por conta dos três vilões esquisitões. Outra dúvida que eu tenho é sobre a gravidade. Em várias ocasiões, os personagens pulam e caem. Em outras, eles voam. Afinal de contas, eles podem ou não voar?

O DVD promo que recebemos tem apenas um extra: uma recontagem da história do jogo usando cenas dele próprio. É bem chatinho e desnecessário, visto que a introdução do filme já traz esse histórico.

Bom, agora vou esculachar algumas cenas específicas para convencer os fanboys mais cuca-frescar a escrever me xingando. É claro, algumas delas têm spoilers. Continue lendo por sua conta e risco. Lá vai:

Os três vilões acham a tal Mãe – na verdade uma caixa que parece uma bateria de carro cheia de um líquido bisonho. Supostamente, isso seria a cabeça do tal monstrengo intergalático, mas é um líquido estranho. Tem uma cena que dá a entender que a água vaza, e o afeminado vilão principal fica muito triste. Daí, um pouco mais tarde, a água aparece de novo dentro da caixa, que tinha quebrado durante uma luta estilosa. Estranho.

A cena onde eles derrotam um dragão gigante de armadura (muito legal) é especialmente engraçada – o Cloud é jogado para cima por todos os personagens. Quem idealizou isso é um gênio da comédia involuntária: eu quase tive que ir ao banheiro de tanto rir.

O Sephiroth, reconhecidamente o vilão mais legal da série Final Fantasy, aparece simplesmente porque tem que aparecer. Aí é que a gravidade perde totalmente o sentido e fica parecendo uma batalha de Dragon Ball Z, só que não tão legal. Ah, e eu até entendo que o personagem tenha que aparecer para deixar os fãs felizes, mas como é que a espada dele aparece também?

Bom, acabaram os comentários sobre as cenas. Tem muito, muito mais, mas eu tornaria essa resenha desnecessariamente longa, e eu já perdi mais tempo da minha vida do que eu gostaria com esse troço. A minha conclusão é a seguinte: se pegassem os personagens e trocassem por outros, eu duvido muitíssimo que alguém neste mundo fosse gostar desse negócio, mas nãããão, é Final Fantasy. É heresia falar mal. Ok, amigo, eu sinto muito, mas isso foi uma das piores coisas que eu já assisti na vida, e olhem que eu já assisti a coisas que tornariam a alma de um ser humano negra para toda a eternidade. Dou nota zero, e recomendo apenas aos fãs sem bom senso. Final Fantasy VII pode não ser o melhor jogo do mundo, mas pelo menos tem algum espírito. Isto aqui? Não tem nada.

Finalizando, eu gostaria de agradecer ao pessoal de divulgação da Sony Pictures, que enviou o filme com toda a boa vontade do mundo. Fiquei até com um pouquinho de pena de meter o malho no filme, mas realmente não dava, afinal, o DELFOS tem uma responsabilidade para com os leitores. O negócio é ruim demais. Agradeço ao pessoal, e levanto meu terceiro dedo para o filme.

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