Qualquer um que tenha prestado um mínimo de atenção às aulas de ciências sabe que homens e dinossauros nunca conviveram na Terra. Apesar de todo um imaginário criado pela indústria do entretenimento no sentido de afirmar o contrário, a verdade é que somente na ficção homens buscaram proteger-se em cavernas do ataque de dinossauros (caramba, muitas espécies eram vegetarianas!). No entanto, não deixa de ser sedutora a idéia de se imaginar a possibilidade de ambos dividirem um mesmo espaço; ou brigarem por ele. Em Jurassic Park essa possibilidade ganha ares de fundamentação científica e cenas que realmente encantariam paleontólogos “ganham vida”.
Talvez num outro mundo, o da música pesada, o convívio de homens, reles mortais que no momento das concessões divinas receberam uma dose de talento suficiente apenas para operacionalizar caixas eletrônicos; e dinossauros (criaturas plenas de poder e força, capazes de atuar em bandos ou solitariamente; de utilizar a força ou desenvolver estratégias sutis de sobrevivência; fadados à extinção para dar lugar a medíocres operacionalizadores de caixas eletrônicos) seja plenamente possível. E digo isso sem quaisquer influências de discos psicodélicos como Ziggy Stardust and the Spiders From Mars; ou daquelas circunstâncias que celebrizaram Wood e Stock do inigualável Angeli.
Digo isso porque se convencionou utilizar o termo dinossauro de maneira pejorativa, para fazer referência a músicos que, digamos, atingiram uma determinada faixa etária. Expediente utilizado sobretudo pelos novíssimos setores da vanguarda de críticos do Rock´n´Roll. Esses, meus amigos, ignoram quão grandiosa poderia ser a visão de dinossauros caminhando sobre a terra.
Nos últimos dias passaram pelo Brasil manadas inteiras desses seres em extinção. O grupo (ainda não definiram para ele espécie, gênero e família) conhecido como Uriah Heep trouxe espécimes como Mick Box e seus sempre brilhantes sapatos pretos, Trevor Bolder e seu indefectível blazer azul emitindo graves com a precisão de quem muito discretamente parece comandar a manada e, um pouco mais atrás, muito lentamente, talvez por causa de seu peso incrível (sem trocadilhos) Lee Kerslake e seus ataques mais precisos e virulentos que muitos velocistas dos blast-beats e seus bumbos duplos. Ah, sim; é um espécime raro esse, daqueles que batem e cantam ao mesmo tempo.
Um outro grupo muito estudado e apreciado por paleontólogos (sim, esse é o nome que se dá às pessoas que ficam estudando e com maior freqüência ouvindo dinossauros) que passou recentemente pelo Brasil foi o Deep Purple. Ian Gillan, classificado como the silver voice (a voz de prata), ainda é capaz de se fazer ouvir a quilômetros de distância, anunciando que seu grupo comanda um extenso território. Aliás, a marcação desse território é feita com muita maestria por dois espécimes que conduzem a caminhada com ritmos extremamente variados: Ian Paice e Roger Glover.
Por fim, os mais renomados paleontólogos anunciaram a toda a comunidade que o grupo formado pelos maiores espécimes (é sempre bom lembrar que há grandes divergências no meio acadêmico em relação à essa última afirmação) de dinossauros, verdadeiros Tyrannosaurus Rex, inicarão no próximo ano aquela que aparentemente será sua caminhada derradeira. O grupo conhecido como Black Sabbath que, para não atrair a ira dos críticos que querem sempre algo novo, retorna protegido por um outro nome científico: Heaven and Hell. Trazendo aquela que para muitos (incluo-me entre eles) foi sua melhor formação: Tonny Iommi, Geezer Butler, Ronnie James Dio e Vinnie Appice, fornece elementos para que os especialistas façam previsões de destruição em massa de tudo que estiver entre o céu e o inferno.
A música dos caras é datada? Óbvio que sim. Qualquer atividade artística está circunscrita em seu contexto de produção. Façamos aqui um exercício de futurologia: qual das novidades da próxima semana será objeto de discussões acaloradas de seus fãs daqui a três décadas? Difícil saber não é? Vou procurar meus CDs desses dinossauros antes que um grande cometa resolva surgir nos céus e uma mudança brusca de temperatura acabe com todos esses seres que dominaram a Terra por tanto tempo.