Eu adoro filmes que falam de amor e acredito que já disse isso antes. Aliás, é interessante como o tema amor, no cinema, consegue adquirir feições bem diversas e específicas de determinada cultura ou religião. O chinês Wong Kar Wai em seu Amor à Flor da Pele, interpretou este sentimento à sua maneira oriental, mostrando uma situação entre um homem casado que amava uma mulher também casada, sem nenhuma possibilidade de consumar isso do modo físico. É uma linda história de amor, mas muito triste exatamente porque não acontece nada que ultrapasse o plano mental de ambos.
Já esse italiano Dias de Abandono, como o próprio título pode levar o espectador a descobrir, fala sobre a separação de um casal. O filme se foca na mulher que é abandonada pelo marido, quando este se vê apaixonado por uma ninfeta (humm… ninfetas. É uma pena que os italianos prefiram as mulheres acompanhadas de espaguete e não de bacon). Mário, o marido, um homem completamente careca, mas ainda charmoso, larga Olga, sua esposa meio velhusca, e também os dois filhos pequenos (um menino e uma menina), para assumir o relacionamento com uma jovem e bela loira (se fosse ruiva, garanto que o Corrales ia estar me amaldiçoando neste momento, por ter sido eu a ver este filme e não ele).
Brincadeiras à parte, esse filme de Roberto Faenza é muito tocante, muito triste e muito real também, e isso só verifica quem de fato conviveu com um casal que está se separando. Eu, por exemplo, acompanhei isso de perto com o divórcio de meus pais e posso dizer que Dias de Abandono mostra exatamente, em todos os seus tristes detalhes, como fica uma mulher madura quando seu marido decide trocá-la por uma mais nova.
O filme é, na verdade, o retrato de uma família desmembrada, na medida em que a deprimida Olga não consegue mais dar atenção aos filhos e estes tampouco têm o devido cuidado do pai, que agora vive um romance e quase não os vê. Entretanto, como os italianos encaram a vida com um certo otimismo e alto astral, assim como alguns brasileiros e bem diferente dos povos nórdicos como os frios holandeses e alemães, Dias de Abandono não é aquele tipo de filme que puxa o espectador “pra baixo” e nem é capaz de funcionar aos deprimidos como um estopim para atitudes suicidas.
Não vou dizer que o final é feliz porque o diretor não se sujeitaria a algo tão clichê, mas posso adiantar aqui, para os mais ansiosos, que o filme termina como a vida, ou seja, não muito alegre, mas também não tão triste, afinal, todos nós lutamos para esquecer a dor de uma relação que acabou e chega uma hora que finalmente conseguimos. Nos primeiros meses sofremos um bocado, mas depois o tempo apaga e a família (no caso de haver filhos) supera a tristeza. No entanto, o esquecimento nunca é completo, pois quando escutamos uma determinada música, sentimos um determinado cheiro ou somos levados à lembrança por qualquer outro motivo, damos aquele suspiro de alívio por tudo ter passado e dizemos: “Ah, como é triste quando o amor acaba!”.