Devil May Cry 4

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Quem deveria escrever essa resenha é nosso amigo Júlio Rogas, que quer ser igual ao Dante quando crescer. Contudo, o cara ainda está na geração do PS2, então a árdua tarefa de jogar e avaliar a nova aventura do demônio fanfarrão caiu nas minhas mãos.

Muita dúvida envolveu este quarto Devil May Cry, graças a uma polêmica decisão da Capcom, que decidiu tirar do Dante o posto de protagonista, que seria cedido a um carinha que nunca tinha aparecido na série, chamado Nero. Contudo, quando o demo apareceu na Xbox Live, todos pudemos constatar que a sensação de jogar com o sujeito era mais ou menos a mesma do que com o Dante (inclusive com os mesmos golpes), e isso acalmou a turminha. Até porque a essa altura já tinha sido divulgado que 30% das fases seriam jogadas com o velho conhecido.

A DIFICULDADE

Ao jogar o demo e tomar uma dolorida e frustrante surra do chefe ali presente, fui obrigado a pensar duas vezes antes de comprá-lo. Afinal, o jogo anterior, Devil May Cry 3 era muito difícil. Tão difícil que isso chegava a estragar o jogo, pois era fuckin’ impossible vencer qualquer um dos seus chefes, mesmo no easy – o que era tornado ainda mais frustrante pela ausência de checkpoints (morreu no chefe, tem que jogar a fase inteira de novo). Algum tempo depois, saiu a Special Edition que tornou a dificuldade mais justa, mas o trauma permaneceu. Será que DMC 4 ia seguir o caminho original do terceiro ou o mais racional da Special Edition?

Esse trauma, inclusive, não parecia ser só meu, já que é possível até achar FAQs e assuntos discutindo a dificuldade deste quarto episódio em fórums. O que todo mundo pergunta é basicamente: esse jogo é tão difícil que eu não vou querer jogá-lo? E, para essas pessoas, eu respondo: não. Aliás, se você jogar no modo Human (o equivalente ao easy), ele é até bem fácil. Acredito que, na minha primeira jogada, eu só morri no duelo contra o Dante (e em uma missão secreta muito pentelha, mas disso falamos em breve). Além disso, existem checkpoints bem colocados, que não fazem você voltar muito no jogo, pelo menos considerando que a maior parte das suas falecidas será no chefe. Portanto, pode jogar sem medo.

GRÁFICOS E SONS

Os gráficos, o design dos cenários, dos personagens e, principalmente, a animação dos protagonistas são lindos. Os gráficos de DMC4 estão, sem exagero, entre os melhores do Xbox 3RL. O lado ruim, como sempre, são as câmeras, que estão constantemente trocando de ângulos, o que confunde bastante, pois o que era cima vira baixo e assim por diante.

O som é aquilo que já conhecemos dos outros jogos. Musiquinhas ambiente quando não tem inimigos na tela e um Metal Industrial com letras estúpidas (tipo “I see the fear when I look in your eyes”) durante as batalhas.

AS FASES

Aqui existe um problema grave. Quem já jogou a terceira edição sabe que a série tem sérios problemas de backtracking. Acontece que as fases não são independentes, é como se fossem capítulos que acontecem em um mesmo mundo. Assim, é comum você passar por um lugar onde tem um caminho que não dá para seguir e, depois de pegar alguns itens, umas duas fases depois, ter que voltar até lá para continuar o jogo. E isso é, sinceramente, um saco. Eu não consigo imaginar um único jogador que contemple essa possibilidade e pense: “puxa, que legal, vou ter que voltar todo o caminho que fiz nas últimas duas fases só para usar essa chave”.

Mas fica pior. Quando você chegar na fase em que começa a controlar o Dante, terá uma péssima surpresa. Você vai ter que voltar TODO o caminho do jogo, desde a última fase com o Nero até a primeira. E, no caminho, vai ter que enfrentar novamente 90% dos chefes.

Provavelmente para diminuir a repetição, os criadores colocaram pequenas diferenças nessas fases, só que todas elas contribuem para deixar isso ainda mais chato. Entre as mudanças, você vai encontrar coisas como limite de tempo (logo na primeira, quando você ainda está se acostumando com o novo personagem), um veneno que vai lentamente tirando sua energia e um inimigo que possivelmente pode ser o mais pentelho da história dos games. Aliás, tão pentelho que vai ganhar um parágrafo só para ele.

O bichinho em questão aparece se você ficar parado no mesmo lugar durante uns dois segundos. Se você não escapar (pulando ou saindo daquele ponto), ele teleporta você para uma arena onde tem que vencer alguns outros monstros. Depois que fizer isso, será teleportado de volta para o início da tela em que estava e terá que matar todos os inimigos de novo, sempre com a possibilidade de ser novamente engolido pela maldição dos dois segundos. Ou seja, nessa fase, esqueça combos estilosos, você tem que dar um golpe e sair correndo, pois se tentar mais que isso, será engolido.

Cá entre nós, duvido que qualquer pessoa tenha lido os dois parágrafos acima e considerado esses acréscimos uma boa decisão dos criadores. A impressão que fica é que o jogo terminaria antes de mudar para o Dante, mas a reclamação dos jogadores quanto à ausência do cafanfarrão fez a Capcom colocar o sujeito de volta e, como não tinha tempo de criar novas fases, optou por este caminho estúpido.

Mas tem mais. Depois de algumas fases com o Dante, inclusive um chefe bem legal e inédito, que lembra até algo saído do Shadow of the Colossus (que, aliás, deveria ser o último chefe), você volta a jogar com o Nero. E a fase em questão também poderia se encaixar entre as mais chatas da história.

Trata-se de um tabuleiro, onde você tem que bater em um dado e andar as casas que ele mostrar. Dependendo de onde parar, vai rolar uma luta, ganhar itens ou coisas do tipo. Mas o tabuleiro é circular e, para avançar, você precisa parar em uma casa específica, o que significa que, se você for muito azarão, essa fase é potencialmente infinita.

Quando você finalmente pára na casa em questão, tem outra surpresa desagradável: vai ter que lutar com um dos chefes pela TERCEIRA vez. E, quando vencer o chefe, volta para o tabuleiro, onde vai ficar até parar na maledeta casa e depois lutar com outro chefe e assim sucessivamente, até que tenha vencido 90% deles de novo. Legal, né? Considerando que cada uma da maior parte dessas lutas com chefes demora mais de 10 minutos, você com certeza não vai ficar empolgado pela repetição.

Para completar a decepção, alguém é capaz de acreditar que o último chefe também é repetido? Isso, pelo que sei, é algo inédito na história dos games. Curiosamente, Devil May Cry 4 é um jogo bem longo, ou seja, ele poderia ter terminado antes da entrada do Dante, que já teria uma duração razoável – e tornaria o game bem melhor.

JOGANDO COM NERO

Para começar, o Nero é até visualmente parecido com o Dante, já que usa um sobretudo colorido e também tem cabelos brancos. A personalidade também é semelhante e, assim como o demônio que conhecemos, o sujeito se diverte tirando sarro dos inimigos e dos chefes, embora de forma muito mais leve (ele ainda está aprendendo).

Outra semelhança são os golpes e as armas. Nero tem uma espadona e uma arma fraquinha que serve para atacar à distância. Os principais ataques de Dante fazem parte de seu acervo, como a corrida que termina com uma espetada da espada ou a espadada que joga o inimigo para o ar, seguida de um pulo para que você continue a surra sem pés no chão.

Agora vamos às diferenças. Para começar, Nero não tem nada da cafajestice do Dante. Aliás, o cara é completamente o oposto pois, enquanto Dante passa pelos jogos colecionando beldades à James Bond, Nero é fiel à sua namoradinha, que inclusive precisará ser salva em algum momento do jogo.

Quanto à jogabilidade, existem duas principais diferenças: Nero não ganha novas armas em nenhum momento (o que, acredite, não faz diferença nenhuma, já que mesmo com o Dante, as únicas que prestam são as originais) e o seu braço demoníaco.

O braço demoníaco é a melhor adição da história da franquia. Lembra quando você usava o golpe da corridinha para chegar perto de um inimigo, mas isso fazia o bichinho sair voando para o outro lado da tela? Pois então, seus problemas acabaram. Com essa nova ferramenta, você pode simplesmente puxar um demônio para perto de você e enchê-lo de porrada. Lembra do famoso come here do Scorpion, em Mortal Kombat? É mais ou menos a mesma coisa.

Além disso, o braço também serve para você agarrar os inimigos e arremessá-los, o que é o golpe mais forte do jogo, sobretudo contra alguns chefes (aliás, usar isso repetidamente é a única forma de vencer o Dante e eu só morri na primeira vez porque não sabia disso).

Juntando todos esses ataques, se você for criativo, pode fazer uns combos deveras estilosos. Imagine o seguinte: você usa a corridinha e joga o cara longe. Daí o puxa com o braço demoníaco e, em seguida, o joga para o alto com a espada, pula atrás dele e enche o coitado de porrada. Ele cai no chão, mas você ainda está no ar, daí simplesmente puxa ele de novo, o agarra (lembre-se, no ar), e joga o infeliz no chão transformando-o em pó. Não é legal? Pois então, é assim que se joga Devil May Cry 4 com o Nero.

JOGANDO COM DANTE

Jogar com Dante me remeteu à infância, mais especificamente, ao jogo The Lion King, de Mega Drive. Neste título, você controla o Simba criança e, nas últimas fases, ele cresce. Na minha primeira jogada, eu estava super ansioso para jogar com o Simbão e, assim que cheguei neste ponto, percebi como era mais legal com o Simbinha.

É exatamente assim que você vai se sentir quando mudar para o Dante, principalmente pela falta do braço demoníaco do Nero. Para compensar isso, o cafajeste-mor tem quatro (e, mais para frente, cinco) estilos de luta, como era no DMC 3, que servem para você defender, atacar com a espada, com armas de fogo ou desviar de golpes.

A novidade é que dá para trocar de estilo a hora que quiser, mas isso não tem muita utilidade durante uma luta. Por exemplo, você está no estilo da espada dando uma surra em um demônio. Aí vem outro por trás e, para defender, você vai ter que mudar de estilo e apertar o botão de defesa. Sinceramente, isso parece possível? O que acaba acontecendo é que você escolhe seu preferido (no meu caso, o da espada) e fica quase o tempo todo com ele, mudando só em ocasiões específicas.

Dante também ganha algumas armas novas sempre que derrotar um chefe, mas com exceção da Pandora, você deve ficar com as originais mesmo, que são bem mais estilosas.

O que realmente fica mais legal com o Dante são as cutscenes. É inegável, o demônio fanfarrão é um personagem muito mais divertido do que o Nero. O encontro dele com o chefe Berial (antes e depois da luta), por exemplo, vai entrar para a história como uma das cenas mais engraçadas dos games. Se você não vai jogar, recomendo que procure pela internet. Como eu sou legal, confira uma delas aí embaixo:

Aliás, faço uma pausa já que estamos falando das cutscenes para dizer que senti bastante falta daquela cenas de ação absurdas que tinha de monte no DMC 3. Aqui, sempre que seu personagem encontra um inimigo nessas cenas, o controle volta para você, não rola aquelas lutas fenomenais de outrora. O que aconteceu, Capcom? Ficou com preguiça de coreografá-las? Não me entenda mal, embora a história não seja grande coisa, as cutscenes são todas esteticamente lindas. Mas tirando as que aparecem logo no início do jogo (em especial a primeira luta entre Nero e Dante, que tem um desfecho surpreendente), são completamente desprovidas de ação.

Outro lado bom do Dante é que seus ataques são mais fortes e, principalmente nos combates contra os chefes, isso faz uma tremenda diferença. É uma pena que suas fases sejam todas versões pioradas das fases do Nero.

MISSÕES SECRETAS, UPGRADES E OUTRAS COISAS

O game conta com algumas missões opcionais, chamadas de Secret Missions, que são encontradas pelas fases sem grande dificuldade (só uma delas eu não achei naturalmente). Completando-as, você ganha um item que aumenta a sua barra de energia. O problema é que todas essas missões são muito chatas, variando entre mais fáceis, como “destrua todos os inimigos antes de acabar o tempo” e outras virtualmente impossíveis, como execute cinco royal guards sem errar nenhuma (a única que não consegui completar).

Entre as fases, você também poderá fazer upgrades gastando orbs que você ganha de acordo com sua “nota estilística”. O legal é que você pode “devolver” um golpe que aprendeu e comprar outro com o reembolso sempre que quiser. Uma idéia genial, que não dá para entender porque não foi implantada antes. E essencial também, já que, nas duas vezes que terminei o jogo, ainda não consegui o suficiente para ter todos os upgrades ao mesmo tempo.

Outra idéia genial é que suas barras de energia são do mesmo tamanho para o Dante e para o Nero. Em outras palavras, o que você comprar para um, vale para o outro. Quanto aos golpes, tudo que você juntou com o Nero (sendo gasto ou não) será válido para “upgradear” o Dante e vice-versa.

Quando você termina o jogo no modo Devil Hunter (o equivalente ao médio que, aliás, é difícil pra burro), libera o famoso Bloody Palace. Esse modo consiste em 101 arenas, com uma turminha de inimigos cada. Quando você mata todo mundo, vai para a próxima. Como se isso não fosse suficientemente difícil, ainda tem limite de tempo. Quanto mais estiloso e rápido você for na violência, mais tempo ganha de brinde. Boa sorte se você pretende não apenas sobreviver a todas elas, como também passar por todas antes do tempo acabar. Particularmente, eu sei que esse é o tipo de desafio que está além das minhas habilidades e não tenho a menor pretensão de conseguir fazer isso um dia.

Para terminar, uma última crítica. Se você deseja ver o verdadeiro final do jogo, precisa conseguir proteger a moçoila durante os créditos. Se um bichinho encostar nela, vai ter que jogar a última fase de novo para liberar o final. Isso foi uma péssima idéia por dois motivos. 1 – Eu nunca conheci um jogador de videogame que goste de fases onde precisa proteger um personagem indefeso. 2 – Se você, como eu, falhar na primeira tentativa, vai ter aquela sensação de conquista de quando se termina um jogo completamente substituída por frustração. E isso não é legal.

CONCLUSÃO

Devil May Cry 4 tem várias características que o tornam o melhor da série. Mas, ao mesmo tempo, a imensa repetição de fases e chefes e a falta do Dante como personagem afetam bastante a diversão. Fico torcendo para que, numa quinta edição, dêem algum jeito de passar o braço demoníaco do Nero para o Dante e eliminem de vez todo esse backtracking. Porque, tirando isso, temos aqui um beat’em up old-school que tem tudo para agradar aos jogadores mais velhos que não agüentam tanta empurração de caixas.

Uma boa forma de resumi-lo é que ele conta com todas as qualidades e defeitos dos jogos anteriores, então se você já jogou qualquer um da série, sabe o que esperar. Em outras palavras, DMC 4 é um jogo de macho. História de menos e porrada e mulheres gostosas de monte (aquela Lady deve ser uma das moçoilas mais lindas dos games, ao lado da Mai Shiranui). Se isso lhe apetece, meu amigo, vai fundo!

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
devil-may-cry-4Ano: 2008<br> Gênero: Porrada Estilosa<br> Plataforma: Xbox 360, PS3 e PC.<br> Fabricante: Capcom<br> Versao: Xbox 360<br> Distribuidor: Capcom<br>