Quando eu ouvi falar de Uma Noite de Crime, lá em 2013, fiquei apaixonado pela proposta. Porém, ao ver o filme, me decepcionei. A ideia era muito boa, muito política, para ser apenas um suspense ou um ação que não explorava este lado. Vários longas e uma série de TV depois, chegamos à nossa crítica Uma Noite de Crime A Fronteira. E finalmente a franquia resolveu arriscar uma temática mais política.

CRÍTICA UMA NOITE DE CRIME A FRONTEIRA

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Os Estados Unidos – e eu diria que o Brasil também – são movidos a ódio. A ideia do Expurgo, a tal Noite de Crime, vem disso. Libere seu ódio, seu sadismo e violência uma vez por ano, e se comporte no restante. Porém, aí que tá. Ódio, assim como sua antagonista Paz, são produtos diferentes de outros consumíveis. Ao contrário de bacon, água ou estus flasks, quanto mais se usa ódio ou paz, mais você tem. Alimente seu ódio, e ele não vai embora. Ele cresce.

E é isso que acontece em Uma Noite de Crime A Fronteira. O título original The Forever Purge deixa isso bem claro. Os estadunidenses tarados por sangue começam a achar que uma única noite para liberar sua violência não é o suficiente. Eles querem um Expurgo eterno.

O lado político entra no fato de essa vontade ter objetivos. Em uma revitalização da Doutrina Monroe, os purguentos querem a América Para Americanos. Mais especificamente, eles querem purificar os EUA exterminando os mexicanos. Como a gente já sabe, para estadunidenses o México não faz parte da América. E isso me lembra aquele vídeo em que o perguntam para os estadunidenses se eles conseguem falar X países da América e a graça é ver o tilt.

ESTADOS UNIDOS PARA ESTADUNIDENSES

O filme se passa no Texas, próximo à fronteira com o México. Quando os xenófobos resolvem estender o Expurgo além do legalmente permitido, México e Canadá abrem as fronteiras para refugiar estadunidenses. No drama do filme, acompanhamos um grupo de pessoas tentando chegar até o México e escapar do massacre.

Assim como os Uma Noite de Crime anteriores, este não tem quase nada de terror. Nada além de alguns sustos estúpidos com aumento de trilha sonora. Isso é um filme de ação, cheio de explosões, tiroteios e violência. E isso também é legal. Talvez até mais legal, dependendo do seu gosto cinematográfico.

O filme não elabora como os purguentos se organizaram para iniciar um Expurgo eterno, e isso é uma pena. Além disso, embora o foco seja no sentimento anti-mexicano do cidadão estadunidense médio, o conceito do Expurgo eterno é inicialmente apresentado com um trabalhador se revoltando contra os donos do meio de produção. Isso só é elaborado nessa cena inicial, mas demonstra que talvez os purguentos eternos não tenham concordado num MO.

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E olha, eu diria que o filme seria até mais interessante se focasse nesse lado mais marxista. Sei lá, todo esse sentimento anti-mexicano é um fenômeno intrinsecamente estadunidense. Outros países, como o Reino Unido, também são extremamente xenófobos com seus vizinhos (inclusive dando um tiro no próprio pé com o Brexit). Mas acredito que a revolta da classe trabalhadora seria algo mais universal. Eu, pelo menos, conheço pouquíssimas pessoas de fato satisfeitas com seu trabalho e sua renda. Mesmo que elas não sejam marxistas, poderiam se identificar com personagens lutando por melhorias sociais.

Mas daí provavelmente os purguentos seriam os protagonistas, e não os vilões. E a ideia aqui é sempre focar nas vítimas. Na turma apolítica que quer apenas sobreviver à noite de crime e seguir em frente com suas vidas. Curiosamente, apesar da série Uma Noite de Crime ser quase totalmente apolítica, eu gosto de todos eles. Sempre achei que o conceito renderia mais. Mas uma vez que percebi que a intenção era apenas fazer filmes de ação, comecei a curti-los pelo que eles eram.

XENOFOBIA

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E olha só que curioso. Desde o primeiro Uma Noite de Crime, eu esperava um filme mais político. Justamente quando não esperava mais, foi quando entregaram isso. Porém, mesmo assim eu diria que Uma Noite de Crime: A Fronteira é de longe o mais fraco da série.

E não digo isso por ideologia política. Pelo contrário, assim como a mensagem do filme, eu também acho xenofobia uma babaquice sem tamanho. Por mim não deveria nem existir fronteiras. Essa minha opinião tornou a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia mais embasbacante. Afinal, a existência da UE é o maior passo que a humanidade deu neste caminho.

Porém, entretanto, contudo, todavia… Uma Noite de Crime: A Fronteira simplesmente não é tão legal. Ele entretém, sim, mas admito que não segurou minha atenção durante toda a projeção. Tem uma cena que é um plano-sequência bem elaborado (e você sabe que eu adoro isso!) com os protagonistas se esgueirando por cantos da cidade, e acredita que nem isso me empolgou?

Eu gosto dos meus filmes de terror como gosto dos meus zumbis: políticos. Quem diria que justamente quando a franquia Uma Noite de Crime arriscaria este caminho, a obra acabaria sendo a mais chatinha. Porém, as coisas não são relacionadas. A Fronteira não é mais chatinho do que os outros por ser mais político. Simplesmente não é tão legal. Simples assim.

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