Um Lugar Silencioso faz parte desta nova leva de filmes de terror que almejam ser respeitados como arte. Você sabe a quais me refiro, certo? Obras como O Babadook, Corrente do Mal e Corra. Quem acompanha o DELFOS sabe de nosso apreço aqui por filminhos de medo. Ainda que a imensa maioria do que a gente veja por aí seja ruinzinho, não é um problema do gênero, mas dos longas em si. Um bom terror é algo realmente especial. E sim.
UM LUGAR SILENCIOSO É UM BOM TERROR
Surpreendentemente, Um Lugar Silencioso é um filme pós-apocalíptico. Criaturas surgiram sabe-se lá de onde e começaram a matar a humanidade. Elas são cegas, mas têm uma audição bastante desenvolvida, algo bem comum em videogames. Em outras palavras, fez barulho, morreu.
No filme acompanhamos a família de John Krazinski e Emily Blunt. A história já começa depois do surgimento das criaturas, então não espere por grandes explicações ou mesmo participação da civilização.
Eles fazem o possível para viver em completo silêncio. Se comunicam por linguagem de sinais. Andam descalços. Não sei como tomam banho, mas aparentemente deram um jeito de fazer um sapeca-iá-iá, porque a Emily Blunt está grávida.
Esta é a graça do filme, e o que o torna diferente da maioria dos lançamentos do gênero.
UM DESIGN DE SOM IMPRESSIONANTE
Este provavelmente vai ser o aspecto mais comentado do filme, e acho bem possível que ele leve vários prêmios nesta categoria. Como você deve imaginar, é uma obra bastante silenciosa. Silenciosa do tipo que, se você se mexe, o cinema todo ouve o ranger da poltrona. Era comum ouvir até alguém respirando fundo, para você ter uma ideia do silêncio.
Cada som que vem do filme almeja um impacto, seja criar medo ou acalmar. É quase um filme mudo (lembro de duas cenas com conversas faladas), mas não se preocupe que não é chato. É, sim, tenso.
O que o arrasta para baixo é a quantidade de vezes que ele tenta assustar simplesmente com aumento de trilha sonora. Ele é tão cara de pau neste aspecto que só não chega a fazer literalmente o susto do “pulo do gato” porque o bicho que pula do nada não é um gato, mas um guaxinim.
Esta insistência em usar os artifícios mais manjados do gênero contrasta consideravelmente com suas ambições de ser um terror mais cabeça. E é uma pena, pois ele realmente se dá bem quando arrisca mais.
O design das criaturas também é bem interessante, especialmente a forma que vemos seus ouvidos.
UM PÓS-APOCALÍPTICO INTIMISTA
Arrisco dizer que os melhores filme de terror são aqueles com poucos atores e baixo orçamento, pois são os que costumam se arriscar mais. Apesar de insistir em clichês, Um Lugar Silencioso e sua história não verbal definitivamente não é comercial, e ganha muito por isso.
Basicamente, toda a história é focada na sobrevivência da família (lembro de apenas uma cena com outros personagens), o que o torna um verdadeiro survival horror. Assim como os outros filmes dessa categoria de terror mais ambicioso em voga atualmente, Um Lugar Silencioso é interessante e eu recomendo assisti-lo, ainda que com algumas ressalvas.