O Tuatha de Danann é uma banda bem especial. A mistureba de sonoridades que eles fazem é algo raro no rock, e difícil de fazer comparações. Se pressionado, eu os definiria como uma mistura entre Jethro Tull e Blackmore’s Night, com uma pitada leve (bem leve) de heavy metal. E você me conhece: eu amo muito tudo isso! In Nomine Éireann é o mais recente álbum deles, lançado em dezembro de 2020.
Para completar minha simpatia pela banda, faço um flashback para o que a Fernanda Takai, do Pato Fu, falou em sua apresentação no Rock in Rio de 2001 (sim, eu estava lá): “precisamos de um mundo mais fofinho”. Isso me marcou já em 2001, e agora, em 2021, em que as pessoas andam tão adversariais e agressivas, é ainda mais verdade. A meu ver, o Tuatha de Danann contribui para isso, com suas canções alegres, dançáveis e cantaroláveis. Mas vamos ao álbum em si.
TUATHA DE DANANN – IN NOMINE ÉIREANN
O disco já me conquista imediatamente, com a abertura instrumental Nick Gwerk’s Jigs. Ao ouvi-la, imediatamente imaginei um duende tocando uma flautinha enquanto pula em uma perna só. Para melhores resultados, imagine que o duende em questão tem a cara do Ian Anderson.
Por mais que eu goste dela, ela demonstra também algo que me incomodou em todas as várias instrumentais presentes no álbum: elas são um tanto repetitivas. Em geral, elas pegam uma (ótima) melodia, e a repete com leves variações por três ou quatro minutos. Isso as impede de atingir o ápice de grandes instrumentais de rock, o que é uma pena, pois essas melodias sobre as quais todas essas instrumentais são construídas são muito boas. E eu sou um daqueles caras estranhos que adora um rock instrumental.
SHOW ME THE MONEY!
A excelente Molly Maguires (provavelmente parente distante do Jerry*) começa a festa com as músicas cantadas. E ela traz tudo que eu gosto no Tuatha de Danann: é feliz, animada e bonitinha. Ela também apresenta o vocalista Bruno Maia alternando sua voz entre o limpo mais próximo de um folk, com um tempero dos vocais gritados do metal mais extremo.
O Tuatha de Danann não é uma banda especialmente pesada. Eu mesmo não os classificaria como representantes do heavy metal, embora eles normalmente sejam enquadrados no gênero. Porém, Molly Maguires é a mais pesada e próxima de um metal tradicional presente em In Nomine Éireann. Curiosamente, ela não é uma canção composta pela banda, mas uma versão de uma música tradicional (algo que também se repete várias vezes ao longo do álbum).
*A quem interessar possa, Molly Maguires era um grupo de mineiros do século XIX, cuja história já virou um filme.
Guns and Pikes, a próxima, é engraçada. Ela parece algo que você ouviria em um brinquedo da Disneyworld tematizado em piratas do caribe, a ponto de que eu ficava esperando entrar um “yo-ho, a pirate’s life for me“. Também é um som bem legal, alegre e divertido, dá até vontade de dançar. Aliás, estou esperando a Ubisoft lançar um Just Dance Tuatha de Danann. Eu compraria isso muito forte!
E A MOÇA?
The Calling traz dois novos sabores ao disco: vocais femininos e o fato de ser uma música própria. Os vocais de Manu Saggioro aproximam ainda mais o som da banda de Blackmore’s Night. E vou dizer, eu gosto ainda mais do estilo da banda quando o vocal principal é de uma mulher. Bruno Maia aqui faz harmonizações e backing vocals e o resultado é bem interessante. Se tornou uma das minhas preferidas do disco.
Essa medalha, no entanto, vai para The Wind That Shakes the Barley, mais uma canção tradicional, aqui com vocais femininos de Daísa Munhoz. Essa é deliciosamente pegajosa, e tem um climão que ativa minha imaginação bem forte. Fico imaginando altas aventuras em alto mar, de preferência envolvendo sereias e krakens.
IN NOMINE ÉIREANN: SYMPATHY FOR THE DEVIL
The Devil Drink Cider, que vem já mais próxima ao final do disco, é outra sonzeira deliciosa, dançante e pegajosa. Nessa, gosto de imaginar um demônio vestido com trajes típicos irlandeses fazendo uma brincadeira alcóolica com um coleguinha enquanto canta a música. Aqui, Bruno Maia mais uma vez alterna sua voz limpa com seu lado mais pesado, e funciona muito bem.
Dentre as instrumentais, The Dream One Dreamt é minha preferida, e talvez a mais trabalhada do disco. Suas melodias de violino dão vontade de brincar de dança circular em torno de uma fogueira em uma floresta tropical (ou em um parque de concreto, tipo o Ibirapuera). Tem até um solo de baixo muito legal, e você sabe, é difícil esse instrumento chamar minha atenção.
Eu costumo usar a palavra “delicinha” para me referir a jogos de plataforma. Mas não dá para fugir: o som do Tuatha de Danann é uma delicinha também. E, além de alegre e dançante, duas características que não são tão comuns no rock, eles são uma banda diferente das outras e com muita personalidade. Isso tudo junto coloca In Nomine Éireann no campo de discos que precisam ser ouvidos. Mas no futuro gostaria de ver a banda se apoiando menos em canções tradicionais e trabalhando mais com músicas próprias.
SAIDEIRA:
O disco termina com King, cujo clipe você pode conferir aí embaixo. Qualquer relação dessa letra com o Seu Jair não é mera coincidência.