Essa é nossa crítica Pinóquio. Quando eu fiquei sabendo que estava para estrear, e tinha o Roberto Benigni no elenco, eu imediatamente pensei: ué, mas esse filme não é velho? Tipo dos anos 90? Mas não, era um longa relativamente novo, de 2019. Após uma leve pesquisa, vi que estava certo. Ou quase. Tem outro Pinóquio com o Benigni, de 2002, e foi até dirigido por ele.
Isso é bem estranho. Eu não me lembro de o mesmo ator ter feito dois filmes diferentes contando a mesma história. O personagem é diferente (aqui ele é o Gepeto, no anterior era o Pinóquio), mas mesmo assim, é bem estranho que possa rolar uma conversa assim:
– Ei, você assistiu ao Pinóquio, aquele com o Roberto Benigni?
– Qual deles?
CRÍTICA PINÓQUIO
Acredito que a maior parte das pessoas, quando fala em Pinóquio, pensa no desenho da Disney de 1940. Para mim, a clássica animação é tão intrínseca à história que eu não sei dizer o que foi criado ali e o que foi adaptado.
Este filme conta a história conhecida. Ele é igual, mas é diferente, sabe? Tipo, tudo que eu me lembrava do desenho está aqui de alguma forma, mas tudo de uma nova forma. Por exemplo, o nariz do boneco crescer quando ele mente, normalmente lembrado como uma das principais características do personagem, aqui é reduzido a uma única cena. E essa cena poderia muito bem ser excluída, sem nenhum prejuízo para a história.
A principal diferença narrativa, no entanto, é quão triste esta versão é. Pinóquio se mete em uma série de confusões, sempre porque outros personagens querem tirar proveito dele. Isso também deixa o filme um tanto cansativo.
Durando pouco mais de duas horas, ele conta, na verdade, várias pequenas histórias quase independentes. Tem as moedas de ouro, a Ilha dos Prazeres, a baleia (aqui chamada de tubarão). E, verdade, o desenho da Disney também é assim. Mas isso demonstra como ele funcionaria melhor em um formato episódico. Uma curta série de TV, tipo com uns seis episódios de 30 minutos, parece que seria a melhor forma audiovisual de contar essa história hoje.
FALANDO EM AUDIOVISUAL
E falando em audiovisual, isso está acima de qualquer crítica. Pinóquio é, sem dúvida, o filme mais bonito que eu vi no cinema desde que as salas reabriram. E o mesmo elogio se estende à trilha sonora, com um punhado de canções belíssimas e cheias de sentimento.
Os bonecos, por exemplo, não só o protagonista, mas também os outros, são um exemplo de maquiagem. Você sabe que são pessoas maquiadas, mas elas realmente parecem feitas de madeira. A coisa é tão bem feita que você acaba entrando na fantasia, e quantos filmes, especialmente fora do circuito hollywoodiano, merecem esse elogio?
O longa é tão bonito que eu sinceramente duvido que o remake live action que está sendo feito pela própria Disney seja mais belo do que esse. E olha que ele tem o Robert Zemeckis como diretor! No máximo, consigo imaginar que ele seja tanto quanto.
E veja só, parece que a história do Pinóquio está ressurgindo com tudo no cinema, pois há uma TERCEIRA versão já filmada, com direção do Guillermo Del Toro. Não sei dizer se o Benigni tentou participar desses dois também, mas ele está numa posição invejável de poder aparecer na mesma história em quatro filmes. Eu não perderia essa oportunidade se fosse ele.
POLIGLOTA
Uma coisa que me incomodou bastante na sessão de imprensa é que o filme foi exibido em versão dublada. Em inglês. Originalmente, este longa é falado em italiano, mas a versão que eu vi era dublada em inglês com legendas em português. A assessoria de imprensa disse que o filme chega aos cinemas dublado e legendado, mas se a opção legendada for a que eu assisti, recomendo fortemente que você veja dublado. Afinal, se não vai ter a interpretação original dos atores, é melhor que eles falem a nossa língua logo.
Também atrapalha que, na dublagem em inglês, todos os personagens falam com sotaque italiano. Por quê? A interpretação na língua de Shakespeare também é bem fraca e cartunesca (especialmente pelo sotaque forçado), o que não combina com o tom dramático da narrativa.
Pinóquio é um daqueles filmes espetáculo, uma superprodução com um tremendo impacto visual, que é legal ver na tela grande. Eu gostei de ter tido essa oportunidade, mas o achei cansativo, e ele me deixou entediado em algumas de suas histórias. Curti ter visto no cinema uma vez, mas acho difícil que tenha vontade de ver de novo um dia.