Guillermo del Toro se tornou um cineasta muito admirado, graças a filmes como Hellboy, Labirinto do Fauno e Círculo de Fogo. E eu gosto de alguns desses, mas em geral a temática é melhor do que a execução – especialmente nos dois últimos. Esta é a crítica O Beco do Pesadelo, onde nosso camarada William of the Bull sequer buscou uma temática interessante. Aliás, pelo título você não diria que se trata de um terror? Pois é, nem é.
CRÍTICA O BECO DO PESADELO – A PRIMEIRA METADE
O Beco do Pesadelo é claramente dividido em duas metades. Na primeira, acompanhamos Bradley Cooper começando a trabalhar para um circo viajante. É aquele tipo de circo com freakshows e tal, muito comum na cultura pop, mas que eu nunca vi na vida real. Talvez essas atrações tenham deixado de existir antes de eu nascer, ou talvez nunca tenham engrenado aqui no Brasil. Mas você já viu esse tipo de atração no cinema, quadrinhos e outros, mesmo que nunca tenha visto pessoalmente.
Ele logo faz amizades e se apaixona. Mas também gruda num mentalista aposentado para aprender os segredos desse tipo de show. Você sabe qual o tipo de show a que me refiro, certo? Se não sabe, vale assistir ao trecho de South Park abaixo, onde o Stan explica como funciona o truque.
Eu até gosto desse tipo de show. Mas como show. É que nem mágica. É legal “brincar” de ser enganado, mas você tem que saber que é um truque, feito para divertir. Quando você começa a acreditar que o David Copperfield é um feiticeiro da vida real, a coisa vira charlatanismo. E isso é ainda mais grave com essa galera que diz falar com o além, já que, sem responsabilidade, eles podem atingir pessoas em luto e muito vulneráveis. Adivinha o que acontece na segunda metade!
CRÍTICA O BECO DO PESADELO – A METADE QUE VEM DEPOIS
Eventualmente, o personagem de Cooper vai sair do circo e montar um show de mentalismo ao lado da patroa. Ele tem as manhas e tem talento. E a coisa começa como um show mesmo, e com a filosofia de “não fazer show de assombração”. Mas é claro que não vai parar aí.
Não demora para um ricaço aparecer no show do Rocket Racoon e pedir uma consulta particular. O dinheiro é alto, e o nosso protagonista aceita, apesar dos protestos da patroa. Isso vai levá-lo a um buraco profundo e envolvê-lo com pessoas perigosas, que não gostam de ser enganados.
QUANDO AS DUAS METADES SÃO DOIS FILMES
O Beco do Pesadelo muda muito em cada uma das suas partes. Na primeira, estão todos os atores famosos com exceção da Cate Blanchett. E esta parte é focada no dia a dia dos artistas do circo, e na relação entre os personagens. A coisa é totalmente slice of life, e parece não ir a lugar algum.
Daí na segunda metade, a maioria dos personagens some, e o gênero muda para um suspense. E aí, só aí, a gente começa a ver aonde o longa quer chegar. A questão é que nesse ponto a projeção já passou dos 60 minutos e está dando no saco.
Eu sou conhecido nos meus círculos sociais inexistentes por ser um editor implacável. E olha, dava para cortar toda a primeira metade, sem nenhum prejuízo para a narrativa. Sim, você não saberia como o protagonista aprendeu o show ou onde conheceu a patroa, mas a história em si está toda na segunda parte. O que vem antes parece um prólogo ruim e longo demais.
A DIREÇÃO DO TORO
Segundo as estatísticas, muito provavelmente você, meu querido leitor, é fã do Guillermo del Toro. E apesar de o filme carecer de uma edição mais implacável, devo dizer que a direção é realmente muito boa. O Beco do Pesadelo é muito bonito, com planos estilosos, ótimas atuações e um belo figurino.
Del Toro, como outros diretores que eu curto, opta pelo uso de planos longos, o que muito me agrada. E consegue somar isso a movimentos de câmera naturais que deixam tudo mais belo. Então se você admira cinema como uma arte visual, este é daqueles longas que vale ver no cinema. Infelizmente, pouco oferece além disso. Apesar de belo, o sentimento que O Beco do Pesadelo mais me causou foi tédio.