Na minha pímpolhice, eu assisti muito a Os Trapalhões. Curiosamente, ao contrário de Chaves, Xuxa ou Changeman, tenho pouquíssimas lembranças de seus programas. Talvez eu tenha parado de acompanhar na primeira infância, e as memórias sumiram. Mas uma coisa que eu lembro é que a graça e o carisma do programa vinham totalmente do Mussum e do Zacarias. Agora, um deles ganha sua cinebiografia, em Mussum, o Filmis.
Já registrei aqui muitas vezes meu desprezo por cinebiografias. Porém, Mussum, o Filmis tinha um trunfo que a maior parte deles não tem. Eu conhecia o personagem, mas não conhecia a pessoa. E muito menos a vida dessa pessoa. E olha, devo dizer que realmente gostei. Muito mais do que esperava.
CRÍTICA MUSSUM, O FILMIS
Uma das muitas surpresas, para mim, foi o fato de que Mussum já era famoso antes dos Trapalhões. Não apenas como ator e comediante, mas como sambista. Ele alcançou algum sucesso tocando reco-reco em um grupo de Samba, e foi justamente isso que abriu as portas da TV para ele.
O filme combina aquilo que todos sabemos, como o carisma sobrehumano do sujeito, com um monte de coisas que, para mim, foram novidades. Tipo quantas vezes ele casou ou como sua carreira de fato começou.
NO LUGAR CERTO, NA HORA CERTA
Todo mundo sabe que, para fazer sucesso, você precisa de sorte. Porém, este aspecto costuma ser minimizado em biografias de qualquer tipo, como se apenas talento garantisse fortuna. Não aqui. A ideia que Mussum, o Filmis me passou foi que o ator tinha talento, mas teve também muita sorte. Em especial, ele era muito mais um intérprete do que um criativo.
Seu nome artístico, Mussum, foi dado a ele pelo Grande Otelo. O personagem Mussum que todos conhecemos, foi criado por Chico Anysio. Ou pelo menos é o que o filme mostra. Anysio escolheu o figurino que ficou tão característico, assim como criou a sua forma de falar. Cacildis, eu não sabia disso.
Daí, ao aparecer na TV como o personagem, o Renato Aragão o achou engraçado, e o convidou para se juntar aos Trapalhões, grupo de comédia já formado e com um programa de TV em planejamento. Nada disso tira o mérito de Mussum, especialmente como intérprete, mas o que o filme passa é que ele usou seu carisma e sua capacidade interpretativa para alcançar o sucesso através de graça feita por outros. O que também é válido, claro. Não à toa, o Mussum do “filmis” se considera sambista, muito mais do que comediante. E foi muito legal ver algumas esquetes dos Trapalhões refilmadas com o elenco do filme que, veja só, está todo muito bem.
CINEBIOGRAFIA + NOVIDADES
Talvez esta história toda não seja novidade para você, mas eu só conhecia o Mussum dos Trapalhões, e foi legal conhecer uma nova história, especialmente em um gênero cinematográfico criativamente tão vazio quanto as cinebiografias.
Outra novidade que temos em Mussum, o Filmis, é que o filme não é um drama. Ele mostra, sim, problemas pessoais do artista que retrata, mas faz isso sem nunca abrir mão do humor. E, você sabe, a vida – e a arte – são mais gostosas com humor. Mussum sabia disso, mesmo que seu humor viesse da criatividade das pessoas que o rodeavam.