É quase inacreditável, mas a série Mega Man X voltou! A Capcom lança hoje as coletâneas Mega Man X Legacy Collection 1 e 2, em comemoração aos 30 anos de Mega Man. A nova coletânea traz todos os jogos, de Mega Man X a X8. Melhor ainda: ela está caprichada, igual aos relançamentos recentes da série clássica (Mega Man Legacy Collection 1 e 2).
Mega Man X Legacy Collection 1 e 2 é um alívio aos fãs órfãos da versão “adulta” do robô azul. A série X ficou sem nenhum lançamento oficial por 12 anos! Agora, temos todos os jogos disponíveis nos videogames atuais, mais bonitos do que nunca e cheios de extras. Além disso, há fortes indícios de que a Capcom irá continuar com a série e lançar Mega Man X9. Parece exagero, mas isso tudo é um sonho realizado para muita gente.
Vamos falar sobre todas as novidades da coleção, pois imagino que você esteja curioso! Para começar, os oito jogos estão divididos em duas coletâneas. Os quatro primeiros (Mega Man X, X2, X3 e X4) estão em Mega Man X Legacy Collection. Os restantes (Mega Man X5, X6, X7 e X8) estão em Mega Man X Legacy Collection 2. Todos receberam melhorias gráficas e têm opções de formatos de tela cheia, original e widescreen (escolhi jogar neste formato, então por isso as imagens nesta matéria podem parecer esticadas). Do X ao X6, é possível escolher filtros que lembram TVs antigas, o estilo pixelado, ou menos serrilhado.
Mega Man X Legacy Collection 1 e 2 vêm com galerias de arte, playlists de músicas, comerciais japoneses e norte-americanos da época, fotos de brinquedos e outros produtos licenciados. O modo Rookie Hunter dá uma boa aliviada na dificuldade, é opcional e pode ser ligado a qualquer momento. Há também o animê Day of Σ, que é uma prequência de Mega Man X. Curiosamente, ele está presente nas duas coletâneas.
De conteúdo 100% novo, temos o X Challenge. Nesse modo, você enfrenta dois Mavericks (chefes dos jogos) ao mesmo tempo. Quem conhece os originais sabe que essa premissa é assustadora, pois um único Maverick já é muito difícil. Para facilitar o combate, a tradição de Mega Man é de usar as armas dos chefes contra eles mesmos. Porém, aqui você só pode escolher três delas antes de começar! Nem tente trocar depois, pois a Capcom não deixa.
As fases de X Challenge são compostas de três lutas. Vencer uma delas significa entrar em outra com o mesmo HP da primeira! Ah, e elas têm limite de tempo: 10 minutos para vencer cada batalha dupla. Pelo menos, você tem duas vidas extras. O segredo do X Challenge está na escolha adequada das três armas. Escolha uma que funcione em um dos chefes de cada fase e enfrente o outro depois, com a X-Buster.
Fato: a quantidade de conteúdo é enorme. O fator replay é ridículo. São oito jogos, todos com o formato clássico de Mega Man. Há a fase inicial, oito de chefes (feitas na ordem que o jogador preferir) e mais algumas finais. Os protagonistas X, Zero e Axl ganham os poderes dos Mavericks vencidos. É uma fórmula vencedora.
O legado perdido da série Mega Man X
Os oito jogos de Mega Man X Legacy Collection foram lançados num período de 10 anos. Antes deles, a Capcom havia lançado seis Mega Man clássicos para o Nintendinho. Isso é muito jogo, em pouco tempo. Nos Estados Unidos, há um termo perfeito para descrever o que aconteceu com a série: franchise fatigue. É o esgotamento total, quando ninguém aguenta mais a mesma coisa, nem mesmo os fãs. Portanto, não é estranho que a Capcom tenha interrompido a série depois de 2005.
Com Mega Man X Legacy Collection, é fácil perceber que, lá atrás, a Capcom realmente exagerou na dose. O criador de Mega Man, Keiji Inafune, tinha decidido terminar a série X com X5. Porém, a Capcom fez Mega Man X6, sem o conhecimento dele, e o lançou um ano depois do X5!
Com um piscar de dedos, poderoso como o de Thanos em Guerra Infinita, a Capcom desfez a decisão de Inafune. Os três últimos jogos (X6, X7 e X8) ficaram estigmatizados como péssimos, os responsáveis por sujar o nome da franquia. E é aqui que eu discordo. Na verdade, eu nem acho que a Capcom agiu tão errado assim!
Interlúdio: a Capcom precisava lançar Mega Man
Na “vida real”, eu trabalho com marketing, inclusive com desenvolvimento de produtos. Posso dizer: quando você encontra um bom produto, é um fardo parar de fazer continuações dele e criar algo novo. Às vezes, a diretoria não aprova, igualzinho à Capcom. Outras vezes, a equipe é cobrada por resultados de vendas e mudar o jogo (literalmente, no caso do Mega Man) quase nunca é uma solução viável. O dia a dia de qualquer organização é de luta constante para equilibrar recursos. Se você tem algo que dá certo, por que parar de fazer?
É o mundo em que vivemos, ué. As pessoas consomem e alguém supre as necessidades delas. Isso não vai acontecer só uma ou duas vezes. Se o produto mudar demais, os fãs vão chiar e, no mínimo, perder o interesse. Se permanecer igual, eles vão reclamar também! Equilibrar essas vontades conflitantes é complexo. Infelizmente, precisamos conviver com a chamada obsolescência programada. Quem está do outro lado, no desenvolvimento de produtos, em certos momentos, tem de se comprometer.
É só ver o que aconteceu com Assassin’s Creed, por exemplo. A franquia estava a ponto de se deteriorar quando a Ubisoft parou de lançá-la por um ano. Resultado: tivemos um novo Assassin’s Creed no Egito! Ninguém precisou ser demitido, os fãs não precisaram xingar muito no Reddit. Eu continuo feliz, porque só joguei o 3 e o Revelations até hoje.
Onde quero chegar: Mega Man X recebe muito menos crédito do que merece. A série buscou melhorar e inseriu novidades em todos os jogos. É verdade: errou em vários momentos. Em outros, não mudou tanto. Porém, é perceptível que os japoneses realmente tentaram algo diferente.
Os oito jogos de Mega Man X Collection 1 e 2
Sei que falei bastante até aqui, mas foram 12 anos sem Mega Man X. Estava com saudades. Sem mais delongas, vamos aos jogos (os anos são as datas de lançamento dos jogos no Japão).
Mega Man X Collection 1 é 100% clássica
Mega Man X (1993, SNES/PC): o primeiro é o responsável por ter criado tudo que seria reutilizado nos jogos seguintes. Tudo era novo e empolgante. As habilidades de dash e de escalar as paredes tornaram a série X mais dinâmica do que a clássica.
Mega Man X é brutal, não tem dó de ensinar pela dor. A fase de introdução, inovadora para a época, ensina quase todas as regras do jogo sem dizer nada. Ela é super difícil para quem nunca jogou a franquia. Ao final dela, o jogo apresenta dois personagens icônicos: o vilão Vile e o herói Zero. Keiji Inafune quis Zero como protagonista, mas optou por criar um novo Mega Man, batizado de X. O receio era que os fãs do original não comprassem a ideia. Fez bem, Inafune. Fez bem.
Mega Man X envelheceu como um bom vinho. Ele não é só um excelente jogo, mas sim, um dos maiores clássicos de games de todos os tempos. Por ser o primeiro, o que mais surpreende é a visão esclarecida na execução do jogo. Tudo faz sentido. A história, a jogabilidade, os gráficos e o som se complementam para criar uma experiência marcante e inesperada. Ah, e como me esquecer? Secretamente, você pode dar hadoken nele!
Este jogo recebeu atenção especial nos últimos anos por estar no SNES Classic e, antes, por um vídeo popular que fala sobre as inúmeras proezas dele. Vale a pena conferir se você gosta de se aprofundar em game design.
Mega Man X2 (1994, SNES): X2 ficou famoso pela história de salvar Zero. Os gráficos são iguais ao primeiro, mas Mega Man X2 tem efeitos 3D usados em alguns chefes. Outra novidade significativa é o dash no ar, que realmente muda como você navega pelos cenários.
Algumas fases são bastante originais. Tem uma que analisa o seu personagem e cria um inimigo mais forte com base nisso. Outra permite o uso de moto pela primeira vez.
Aqui, começam algumas coisas que se tornariam problemas de repetição na série. Por exemplo, a morte e ressurreição de personagens, incluindo Sigma, seu principal vilão. No geral, X2 é bastante semelhante ao primeiro, mas não tão original.
Mega Man X3 (1995, SNES/Sega Saturn/Playstation/PC): sei que Mega Man X3 tem vários problemas, mas ele me marcou na infância. Então, a nostalgia grita forte com este aqui, presente na coletânea na versão do SNES!
Pela primeira vez, é possível controlar Zero. Ele não pode ser usado contra chefes e se morrer uma vez com ele, fica indisponível pelo restante do jogo. Não bastasse tudo isso, a mecânica de trocar de personagem não é com uma simples pressionada de botão. Você precisa pausar e chamar o Zero!
X3 tem muito mais esconderijos de armaduras e outros upgrades, o que faz voltar às fases vencidas algo frequente. Isso estende a duração do jogo sem necessidade. Havia maior equilíbrio nos dois anteriores.
Mega Man X4 (1997, Sega Saturn/Playstation/PC): X4 é o primeiro a dar uma bela repaginada nos gráficos, jogabilidade e história. As mudanças foram para melhor. Mais bonito, rápido e até frenético, X4 trouxe a opção de jogar com Zero por todo o jogo.
A Capcom investiu um bocado para transformar X4 em um sucesso. Temos animações excelentes que contam uma história mais elaborada e, importante, que não é intrusiva. O tom do jogo é mais sério e os temas são relevantes, como o avanço da inteligência artificial e robótica.
Outras qualidades? As habilidades dos chefes são as melhores desde o X e você pode jogar com o Zero! Para mim, é o segundo melhor em Mega Man X Legacy Collection.
Mega Man X Legacy Collection 2 é uma bagunça divertida
Mega Man X5 (2000, Playstation/PC): em X5, os personagens podem agachar. Por mais bobo que isso pareça, faz mudar o ritmo do jogo. A personagem Alia liga para X ou Zero sempre para ensinar algo que o jogador precisará fazer. É totalmente diferente da maior qualidade da franquia até então, que ensinava a jogar sem dizer qualquer palavra. X5 constantemente coloca o jogador no modo de espera.
X5 trouxe muita coisa de que eu não gosto. Por exemplo, a obrigação de salvar reploids, que é uma encheção de linguiça. Ao mesmo tempo, ele tem as armaduras mais legais e uma história que “encerra” a série.
É talvez o que mais me divide em Mega Man X Legacy Collection 2. Tem muita coisa boa, mas também muita ruim.
Mega Man X6 (2001, Playstation/PC): as minhas memórias de X6 eram de um jogo absurdamente difícil, o que continua verdadeiro 15 anos depois. No entanto, o que me surpreendeu é quão bom ele realmente é!
O fato de X6 desfazer tudo de X5 deu uma boa esfriada nos fãs. Porém, o design das fases é genial. Os personagens estão no auge de poder, mas em compensação, o jogo é dificílimo. Gosto bastante do game feel de X6. Ele é mais solitário. Há poucas interrupções e os inimigos não perdoam. As músicas são memoráveis e isso é sempre importante em um jogo de Mega Man.
Mega Man X7 (2003, Playstation 2/PC): o consenso é o seguinte: o pior da série é o X6 ou X7. Sobre o X6, não concordo. Como nunca tinha jogado o X7 e, até agora, não o terminei, não posso confirmar. O que posso dizer com certeza: o pessoal pegou pesado demais com ele!
Este jogo foi a primeira tentativa na série X de transformar a franquia em 3D. Onde os desenvolvedores não acertaram 100% foi na mira automática e nas câmeras. Anos depois, jogos como Metroid: Other M e Recore acertaram mais nessa jogabilidade de tiro em terceira pessoa.
Ruim mesmo são os diálogos esdrúxulos. O novo personagem, Axl, substitui o Mega Man no começo. Não dá, Capcom. Cadê meu robô azul?
Agora, a favor de X7. Você escolher dois personagens por fase e fazer a troca apertando um botão. Esta mecânica é muito legal! Outra coisa: a Capcom conseguiu manter as habilidades essenciais de dash e de escalar paredes no 3D. E elas funcionam. Se a porrada dos clientes, digo, fãs, não tivesse sido tão forte, talvez X7 fosse o início de algo inovador. Bem, não foi.
Mega Man X8 (2004, Playstation 2/PC): imagine as qualidades do X7 sem o 3D estranho. Acrescente milhares de coisinhas para coletar e upar seus equipamentos. O que descrevi é basicamente o X8! Eu também não o terminei ainda, mas a impressão é mais positiva do que negativa até agora.
X8 é gostoso de jogar, embora os gráficos não tenham resistido à passagem do tempo. Os personagens são quadrados. O Mega Man é mega esquisito. É, péssimo trocadilho, mas olhe isso aqui!
X8 destoa do restante da franquia. Seu problema maior é que ele não fechou essa série apaixonante com chave de ouro.
Mega Man X Legacy Collection 1 e 2 é imperdível
No passado, Mega Man X pecou pelo excesso. A overdose de jogos da série X e de Mega Man cansou. Se tivessem sido mais bem distribuídos pelo tempo, eles teriam sido melhores. A recepção seria calorosa.
Mega Man X Legacy Collection 1 e 2 não sofre disso. É uma edição de colecionador incrível, com jogos acima da média em qualidade e pelo menos um clássico atemporal. Se você é fã, como eu, é o melhor jeito de jogá-los. Se não é, vale a pena também, mas vá com calma. Prefira a primeira Mega Man X Legacy Collection e descubra por que Zero é um dos melhores personagens dos games. Ele é aquele de cabelo loiro, que parece uma menina.