Fazia um bom tempo que eu tinha total intenção de assistir a filmes de Bollywood, mas as estrelas nunca se alinharam. Pois cá estamos nós. Kill O Massacre no Trem é, salvo engano, o primeiro blockbuster indiano a que eu assisto. E, meu camaradinha do lado esquerdo do peito, amei o que vi!
CRÍTICA KILL O MASSACRE NO TREM
Eu achei que Kill O Massacre no Trem fosse um filme de ação. E é, em parte. Porém, o título nacional me enganou, mesmo sendo totalmente preciso. Kill retrata um Massacre no Trem. Mas o herói é o “massacrador”!
Tudo começa com um assalto. Um grupo enorme de assaltantes toma o controle de um trem para roubar cacarecos e joias. Eles não sabiam que Amrit, uma espécie de Jack Bauer indiano, estava no trem. Ao invés de arregar e fugir logo, eles resolvem escalar o conflito. Não demora para Amrit psicopatar total, e sair matando todos os vilões, um a um e com requintes de crueldade.
UM SLASHER ÀS AVESSAS
O cara é tão próximo do Jason que chega ao ponto de deixar “lembrancinhas” para suas futuras vítimas encontrarem. Em outro momento, ele escreve no corpo de um presunto com o próprio sangue (do presunto, não do herói) quantos bandidos já matou.
Sabe aquelas brigas de criança em que uma aponta pra outra e fala “foi ele que começou”? Pois certamente os ladrões começaram os conflitos do filme, mas virge maria, o herói com certeza terminou. Os ladrões passam o longa inteiro tentando fugir do trem, se borrando de medo, e a única coisa que faz o herói não ser considerado o vilão pelo público é justamente que “não foi ele que começou”.
BOLLYWOOD RULES: AS REGRAS DE BOLLYWOOD
Todo o longa é muito bacana, mas eu gostei especialmente da montagem e da narrativa. A gente (e com isso quero dizer eu) está tão acostumado com a forma estadunidense, alemã, francesa e tal de fazer cinema que Kill parece muito diferente. E isso é sempre positivo, em geral deixando tudo ainda mais divertido.
Um exemplo sem spoiler é a primeira vez que o herói encontra sua amada. Eles se olham com um sorriso e uma música romântica tão exagerada que parece o Professor Girafales com a Dona Florinda. Isso dá ao filme um humor muitas vezes não intencional, mas bem-vindo. Isso porque é uma história bem violenta, com dúzias de assassinatos, que pareceria um tanto pesada não fossem estes floreios narrativos.
O HUMOR DE UM FILME B
Assim, embora o roteiro em si não traga muitas piadas claras, como costumamos ver em um Testosterona Total, Kill consegue ser engraçado e divertido. É um filme B, em que o humor vem da linguagem e da estética, como se o próprio cineasta estivesse sempre piscando para você, dizendo “ei, é só um filme”. Não seria estranho se o longa terminasse com um número musical ou com os atores voltando para aplausos, mas isso – infelizmente – não acontece.
Apesar da linguagem que ligo a um filme B, Kill de forma alguma parece barato ou de baixo orçamento. Suas muitas cenas de porrada são absurdamente elaboradas, tanto no quesito coreografia quanto no de roteiro. Eu sinceramente gostaria de ler o roteiro deste filme para ver a descrição destas cenas. E sim, o serial killer/herói é muito mais criativo do que um Jason Voorhees da vida na hora de matar seus desafetos.
NADA É PERFEITO
Embora tenha amado Kill, tenho alguns problemas com ele. O principal é a escolha dos atores que fazem o herói e o vilão principal. Eles são tão parecidos que parecem irmãos gêmeos. Os dois têm a mesma barba, mesmo cabelo, mesmo porte físico, mesmo formato de rosto e usam roupas parecidas. Quando percebi que eram duas pessoas diferentes, eu só os diferenciava pela cor da sua jaqueta. Mas daí eles tiram a jaqueta e eu precisei prestar atenção no contexto, como um selvagem.
Estamos acostumados com os atores de cinema serem todos muito parecidos. Especialmente em Hollywood, onde além de serem todos iguais, todos se chamam Chris ou Skarsgård. Parece até a obsessão que o heavy metal tem com aço ou com arco-íris (delfonautas de longa data que lembram do Evil Rainbow of Steel deixem um comentário para faturar um high five telepático).
ROTEIRO
A semelhança física entre o protagonista e o antagonista é tamanha que realmente afetou minha diversão com o filme. Mas o roteiro também tem um bagulho que simplesmente não me convenceu. Perto do final do longa, ele revela que tinha um grupo de seguranças/policiais a bordo, responsável por proteger o trem. Mas eles passaram toda a história até então dormindo e morgando em sua cabine, sem ter a menor ideia do que estava acontecendo. As vítimas precisam causar um incêndio para alertá-los. Aí não dá, né?
Também estranhei o filme ser falado em duas línguas: hindi e inglês. Não é dependente do personagem que fala, mas parece uma coisa meio aleatória. Tipo um faz uma pergunta em hindi e outro responde em inglês e vice-versa. Não tenho conhecimento se na Índia eles realmente se comunicam assim – e talvez seja o caso – mas para minha mente brasileira foi estranho.
Este é só um comentário sobre algo que achei curioso, mas que em nada afeta a qualidade geral. Kill é um slasher às avessas travestido de ação. Criativo, divertido e com uma narrativa muito legal, que torna um filme que já seria excelente em algo realmente tremendão. Não perca.
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