Acredita que até semana passada eu ainda não tinha assistido a nenhum dos Creeds? Meu colega Cyrino cobriu os dois lançamentos anteriores, e a pura falta da tradicional combinação interesse + oportunidade fizeram com que eles passassem em branco para mim. Pois veja só, a necessidade de ter uma crítica Creed III geraram o interesse e eu fui atrás da oportunidade. Assim, é com alegria (e um pouco de tédio) que comunico aqui que fui assistir a Creed III tendo muito recentemente visto os anteriores.

CRÍTICA CREED III

Creed III começa com um flashback, mostrando uma parte da infância do Adonis Doutrinador e de seu chapa Diamond Dame. Quando voltamos ao tempo presente, encontramos Adonis aposentado do boxe. Ele agora assumiu uma academia onde o atual campeão treina sob sua equipe. É neste cenário que Dame (Jonathan Majors, o Kang de Lovecraft Country) retorna depois de um bom tempo no xilindró.

Ele se manteve em forma, e ainda sonha com ser um lutador profissional. Mais do que isso, ele quer ser um campeão. E vê no amigo de infância um atalho para atingir estas ambições antes que a cruel passagem do tempo cobre seu preço. Esta é a pegada inicial, e vou dizer, é bem interessante. A primeira metade do filme é bem legal, mostrando um aspirante a lutador que passou boa parte do seu ápice físico atrás das grades. E a relação entre ele e Adonis, neste início, é muito bem desenvolvida.

AZEDO

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“Corrales, se eu fosse você, pensaria muito bem nas minhas próximas palavras”.

É óbvio que a coisa ia azedar, já que toda a divulgação de Creed III mostra que os dois vão acabar lutando. A questão é como. E essa curiosidade carrega boa parte do peso. Como tamanha amizade vai virar uma rivalidade, ou algo pior? E aí que tá. Depois de a primeira luta do Dame, que acontece quase na exata metade do filme, a coisa muda. Mas não de forma desenvolvida.

O cara simplesmente passa de um amigo de longa data a um verdadeiro vilão, daqueles que vai à TV falar mal da família do Adonis. O cara basicamente vira o Ivan Drago, literalmente de uma cena para outra. Sim, há algumas sementes plantadas na primeira metade que mostram que Dame pode ser um grande babaca. Mas convenhamos, o próprio Adonis é mostrado desde o primeiro filme como um babaca cheio de atitudes repreensíveis (como quando ele bate no cara que pediu para tirar foto com ele porque não gostou da demonstração de carinho).

Daí a virar vilão precisava de algum desenvolvimento. É um problema de roteiro, certamente, mas também pode-se dizer que o ator Michael B. Jordan – que estreia aqui como diretor – deveria ter percebido que faltava algo na narrativa.

CRÍTICA CREED III: 20 MINUTOS VALEM UMA VIDA

Vou dizer aqui com todas as letras. Com uns 20 minutos a mais de desenvolvimento entre a luta do Dame e a separação dos dois, este filme poderia ser muito bom, mesmo que tudo que vem antes e depois disso continuasse igual.

Sem este desenvolvimento, no entanto, a coisa fica vazia e gratuita. Este é um filme sobre o relacionamento de dois caras que se conhecem a vida toda. Um deles virar vilão do nada só porque Hollywood é incapaz de fazer um filme sobre esporte sem vilanizar o adversário apenas demonstra a fraqueza do cinemão estadunidense em contar histórias.

E O ELEFANTE?

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America. Fuck yeah.

Isso sem falar no enorme elefante da sala. Onde está Rocky BalboaSylvester Stallone é creditado como um dos produtores, mas seu personagem não recebe qualquer menção. Ele morreu? Por que ninguém comenta isso? Se não morreu, poderia fazer uma pequena participação ou pelo menos ser citado com uma desculpa do tipo “está visitando o filho no Canadá”. Nada disso é feito, o personagem que um dia deu nome para a franquia simplesmente desaparece dela. Caramba, até o Viktor Drago e o Rocky Conlan aparecem aqui e o Rocky não!

Mas a verdade é que o que realmente matou Creed III é o fato de ele querer ser um filme sobre o relacionamento de dois caras, mas não se comprometer a elaborar o que os separou de forma apropriada e satisfatória. Isso faz com que o filme falhe como uma história independente, e também como parte de um todo (sendo o todo uma longeva série de filmes que começou em 1976). Roteiristas não são muito valorizados no cinema, e Creed III é tão prejudicado por um roteiro ruim que não me espantaria se ele finalmente fizesse a sétima arte valorizar esses profissionais. E digo isso rindo para não chorar.

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