Poucos cineastas podem se gabar de terem feito tantos filmes importantes quanto nosso amigo Robert Zemeckis. São do caboclo dois dos meus longas preferidos, De Volta Para o Futuro e Uma Cilada Para Roger Rabbit. E ele ainda iria fazer outros que, se não estão entre meus favoritos, são sem dúvida muito importantes: Forrest Gump e Náufrago. Assim, absolutamente tudo que o Zemeckão lança, eu quero assistir. Convenção das Bruxas, então, é praticamente uma convenção nerd. Além de Zemeckis, Guillermo del Toro participou do roteiro, que por sua vez é baseado em um livro de Roald Dahl, o escritor de A Fantástica Fábrica de Chocolate.
E com tanto pedigree, é bom? É sim. Não é nenhum De Volta Para o Futuro, mas é divertido, estiloso e bonitinho. Vale a pena ver no cinema. Sinopse?
SINOPSE
Narrado por Chris Rock, Convenção das Bruxas conta a história de um molequinho que perdeu os pais em um acidente de carro. A vovó assume o cuidado do menino, mas ele está muito triste.
O filme já me conquistou nesse início. Se você lê o DELFOS há algum tempo, sabe que eu perdi minha mãe relativamente cedo. Não tão cedo quanto o personagem do filme, graças ao olho furado de Odin, mas para mim foi cedo demais. E foi foda, cara. Eu sofri muito, e demorei muito tempo para me recuperar. E é legal ver o menininho do filme se recuperando de sua tristeza graças aos hercúleos esforços de sua vovó.
Mas isso é só o começo. Porque a história realmente engrena quando nosso tristonho amigo se depara com uma bruxa. Ao contar para a vovó, ela imediatamente leva o rapaz para um hotel chiquetoso. Mal sabia ela que estava para acontecer no hotel uma Convenção de Bruxas.
CRÍTICA CONVENÇÃO DAS BRUXAS
Não cabe falar muito da história além disso, mas vale ressaltar que, a partir de determinado ponto, o filme é quase uma animação. Obviamente, a tecnologia evoluiu muito desde Roger Rabbit, mas é legal ver o Zemeckão dirigindo novamente um longa que mistura de forma extremamente hábil personagens cartunescos com atores em carne e osso.
Convenção das Bruxas é classificado como uma comédia para a família, mas eu o colocaria neste gênero com ressalvas. Ele é bem parecido com A Fantástica Fábrica de Chocolate, tem imagens assustadoras, cenas de crueldade e um jeitão que me faz pensar que Roald Dahl não era muito fã de crianças.
Assim, pense um pouquinho antes de levar um pimpolho ao cinema. Crianças com uns 10 anos ou mais podem se assustar de uma forma legal, mas acredito que menorzinhos podem realmente ficar chocados e com medo.
O ELEFANTE NO CANTO
A maioria das críticas que você vai ler não vai falar disso, então cabe a mim falar. Este filme tem um dos personagens mais ofensivos que eu vi no cinema desde que começou essa onda de diversidade. Mas, é claro, não é um tipo com o qual as pessoas se importam. O alvo de todo esse preconceito é um menino gordo.
Eu não me lembro de ter visto no cinema um personagem tão unidimensional como este. Todas as suas falas e motivações são focados em fome e comida. Ou ele está enchendo o bucho, ou está reclamando que está com fome. A coisa é tão absurda e insistente que eu comecei a involuntariamente virar os olhos cada vez que ele falava.
ANALOGIAS
É como se houvesse um personagem gay que em todas as suas falas fizesse referência a sexo com homens. Caramba, acho que nem esses programas de baixo calão estilo Zorra Total faziam isso. Se é pra ser assim, é melhor nem ter um personagem com essa característica. Mas até aí, a sociedade se importa com gays. Todo mundo odeia gordos, que só servem para serem vilões ou piada.
E, curiosamente, eu coloco a culpa disso em um gordo que odeia gordos: no Guillermo del Toro. Esse cara parece ter uma tara absurda por comida. Por exemplo, em determinado ponto, o moleque gordo vê um pedaço de queijo em uma máquina que o mataria se pegasse (deixando vago por motivos de spoiler) e tem uma tremenda dificuldade para resistir. Ora, falando como um gordo que adora queijo, se eu sei que comer um pedaço de queijo específico vai me matar, não terei nenhuma dificuldade em não comer.
E eu digo que a culpa é do del Toro porque ele já fez esse mesmo erro absurdo de roteiro – e foi criticado aqui no DELFOS por isso – em O Labirinto do Fauno. Talvez o nosso amigo William of the Bull não consiga resistir a uma comidinha gostosa, mas isso não é algo comum na raça humana. Nem mesmo para quem é gordo.
ADENDO À PARTE
Eu resolvi falar sobre isso porque sei que ninguém mais falará. E alguém precisa começar a abordar o assunto se um dia gordos serão considerados gente. Tirando esse personagem específico, no entanto, eu gostei bastante do filme.
Se Roger Rabbit já impressionava com sua mistura cartoon/seres humanos nos anos 80, aqui Zemeckis já faz isso com maestria. Embora os personagens animados sejam iluminados de forma fotorrealista, eles têm traços cartunescos que mostram que não são animais de verdade.
Some isso ao figurino e ao visual das bruxas e, claro, à câmera firme de Zemeckis, e você tem um filme belíssimo, daqueles que dá gosto ver na tela do cinema.
O roteiro podia ser melhor, especialmente mais sensível e mais cuidadoso, mas a história como um todo é suficientemente divertida para valer o ingresso. Provavelmente Zemeckis está com seus melhores dias no passado, mas Convenção das Bruxas mostra que ele ainda é capaz de fazer uma aventura divertida.