Tem um monte de filme que visa adaptar videogames, imaginando como estes jogos seriam na linguagem cinematográfica. Curiosamente, as melhores adaptações de games que eu já vi são filmes que não trazem uma marca específica, mas adaptam gêneros. É o caso de Mandando Bala, Hardcore Missão Extrema e deste Contra o Mundo. Claro, não podemos esquecer da versão fictícia que meu colega Guilherme Viana matutou para o videogame Contra que certamente é também uma das mais legais.
Curiosamente, o título original de Mandando Bala é justamente o nome do gênero (Shoot’em Up). Seria muito legal, portanto, se Contra o Mundo se chamasse Beat’em Up e fosse, sei lá, uma continuação espiritual. Pois sinceramente parece. Mas o título original aqui também é legal, e poderia ter sido mantido em português. Menino Mata Mundo. Não é legal? Tem aliteração tripla e tudo. Contra o Mundo é o mesmo título do filme do Scott Pilgrim, então não me parece uma tradução apropriada. Mas vamos a ele.
CRÍTICA CONTRA O MUNDO
Contra o Mundo tem uma sinopse simples e deliciosa, como um Double Dragon ou Hotline Miami. Basicamente, o Menino do título (um dos Skarsgård, são tantos que já perdi a conta de quem é quem) foi criado para ser uma arma com um único objetivo: matar a Fênix Negra. Para isso, ele se enfia na base da família vilã e sai na porrada com todo mundo que aparecer na sua frente. Lindo! E, sinceramente, não precisa de mais.
O filme é um espetáculo visual, basicamente uma cena de luta após a outra. O maior dos elogios que posso fazer é que as brigas não são filmadas no estilo Hollywood, em que cada soco é um corte. Não há planos-sequência realmente longos, mas os planos são suficientemente longos para você entender o que está acontecendo e admirar a coreografia, o que claramente foi uma decisão estética intencional. E muito bem-vinda, diga-se!
DOOM GUY
Como em um videogame, o Menino sai na porrada com bandidos estilosos e cada vez maiores, usando armas diferentes e criativas, como uma cenoura e um ralador de queijo. E, como em um videogame, a maioria dos inimigos tem o corpo totalmente coberto. A exceção é a “chefa de fase”, que é totalmente coberta, mas tem uma janelinha para mostrar a barriga sarada, exatamente como o cara do Doom.
A luta final, então, parece saída de Mortal Kombat, com os dois lutadores sendo tão absurdamente machucados que já estariam mortos antes do round 1 terminar. Sim, a violência é extrema, mas é tudo tão cômico que em nenhum momento impressiona ou dá medo. Apenas arranca risadas.
Complementa o estilo “absurdamente cool” a voz do protagonista. Ele, na verdade, é surdo e mudo, mas durante todo o filme acompanhamos o que acontece com a sua narração. E ele se deu a voz mais legal que conseguiu pensar: a de um narrador de videogame. Sério, antes mesmo de essa piada ser feita, eu já tinha pensado com meus botões “cara, que voz legal”.
MENINO MATA MUNDO
Esta pegada do protagonista ser surdo e mudo e entender o que as pessoas falam através de leitura labial rende algumas excelentes piadas. Tem um personagem que não move a boca adequadamente, então a gente ouve o que o herói entende, e são as coisas mais absurdas. Eu gargalhei muito.
Se há um defeito em Contra o Mundo é que tenho a impressão que os roteiristas ficaram com vergonha da história simples. Eles colocaram um twist totalmente desnecessário, que deixa o filme bem mais previsível e sem graça. Isso trai a própria proposta de ser um filme baseado em um videogame de porrada antigo. É como se no final de Double Dragon a gente descobrisse que a Marian era a esposa do cara da metralhadora. Só tira toda a graça e propósito do que veio antes, sem nada a acrescentar.
Felizmente, isso não é o suficiente para tornar Contra o Mundo um filme ruim. Pelo contrário, temos aqui um Testosterona Total divertido, engraçado e que, assim como Mandando Bala, é uma das melhores adaptações de videogame que existem. Mesmo sem ter sido baseado em nenhum videogame específico.