Cemitério Maldito, de 1989, foi um filme que marcou a minha infância. Na época, ele fez um tremendo sucesso entre os colegas da minha escola, e muitos dos meninos o usavam como demonstração de trueza. Algo tipo: “acha que é macho? Quero ver você assistir a Cemitério Maldito“. Lembrando disso agora, eu acho até bonitinho. É como um coelhinho fazendo cara de mau. E agora que o remake está chegando aos cinemas, já sabe: é hora da nossa crítica Cemitério Maldito 2019!
CRÍTICA CEMITÉRIO MALDITO 2019
Eu assisti ao original quando era criança (pois é, contemple minha macheza!), e depois não vi de novo. Assim, lembro-me das pinceladas brutas, mas não dos detalhes de sua história, a ponto de que não consigo apontar exatamente em quê o remake se diferencia do original.
Tirando uma mudança radical, que vai surpreender todo mundo que tenha visto o de 1989, a história se mantém largamente inalterada. É a história de um casal e seus dois filhos, que se mudam para um casarão no interior que tem um quintal de 20 hectares de mato. Já pensou que legal ter um quintal desse tamanho? O que eu aprontaria lá não está no gibi! Eu provavelmente passaria as tardes correndo pelado de uma ponta a outra.
Mas voltando ao filme, o problema é que na cidade em questão os caminhões de uma determinada empresa dirigem sem cuidado e vivem atropelando pessoas e bichos. Quando o gato da família tem a oportunidade de admirar o pneu de pertinho, o novo vizinho (John Lithgow), conta para o pai sobre uma terra onde presuntos enterrados voltam à vida. Para não ver sua pimpolha triste, o que partiria o coração de qualquer papai, ele resolve enterrar o bichano ali. E pá! O gatinho ressuscita. E nem demora três dias, mostrando como a tecnologia das ressurreições evoluiu nos últimos 2000 anos.
Obviamente, a história não termina por aí, e você até deve saber o que mais rola. Mas minha sinopse para agora. Afinal, se você não sabe ainda o caminho pelo qual as coisas vão caminhar, é melhor assistir sem saber.
SKELETONS DANCE, I CURSE THIS DAY
E sabe, a história é bem legal. Eu tenho um fraco por histórias de ressurreição, e esta aqui tem bons predicados. Mas tem também um monte de gordura. E se eu não gosto de gordura nem na minha picanha, que dirá nos meus filmes de terror?
Tem toda uma subtrama em flashback sobre a irmã deformada da esposa, culminando naquela que provavelmente é a cena de morte mais ridícula (no mau sentido) do cinema. E não se preocupe que isso não é spoiler. É revelado que a irmã morreu no passado logo no início do filme, muito antes da gente saber como.
Além disso, tem uma quantidade absurda de cenas envolvendo pesadelos (completas com pessoas acordando deles) e uma enorme e desnecessária quantidade de sustos do tipo “bu”, com aumento de trilha sonora. Nenhum desses pesadelos, e mesmo a subtrama da irmã, tem algo a ver com a história principal. Então a impressão que dá é que só foram colocados aqui para estender a duração do filme – que mesmo assim não é muito longo.
O problema é que estas cenas, além de ridículas, tiram o foco do que Cemitério Maldito tem de bom. Este é um filme cujo objetivo é muito mais deixar aflito do que gerar sustos. E isso mostra a fraqueza da decisão de seguir por este caminho. E olha só, mesmo tendo um gato zumbi na história, nenhum destes sustos envolve um gato pulando do armário quando alguém o abre. Não consigo decidir se isso me deixa decepcionado, pois parece uma oportunidade perfeita para fazer a cena mais clichê do cinema de medo com algum contexto.
THIS AIN’T A DREAM, I CAN’T ESCAPE
E isso fica ainda mais grave pelo fato de que, se não fosse isso, eu recomendaria Cemitério Maldito sem ressalvas. A única coisa que ele precisava ter feito era contado uma única trama, sem desviar do caminho.
Até o final me agradou bastante. Não sei dizer se ele termina da mesma forma que o original, mas considerei um final bem criativo. É o tipo de coisa que Hollywood só tem coragem de fazer em um filme de terror, mas mesmo no gênero é difícil seguirem por este caminho.
Cemitério Maldito é legal, mas funcionaria bem melhor na TV, especialmente se assistido com um grupo de amigos. Daí dá para ficar trocando ideia quando a história desviar do principal. Mas não faça isso no cinema. Se você resolver ficar conversando no meio de uma sessão de cinema, não poderemos mais ser amigos.