“Durante uma pandemia, uma jovem descobre o segredo sombrio de seu par­ceiro possessivo, desencadeando uma luta desesperada por liberdade”. Esta é a sinopse oficial de Carcaça. Pô, interessante paca, diz aí? Eu normalmente não cubro filmes que são lançados apenas digitalmente, mas este eu realmente quis ver. Delfonauta, meu camaradinha, meu amigo do peito… eu preciso de um abraço. Como eu preferia não ter gastado 70 minutos da minha vida com isso.

CRÍTICA CARCAÇA

A expectativa é que teremos um suspense claustrofóbico que acontece durante a temível pandemia de 2020. A realidade é uma sequência de pesadelos, literalmente. Tem apenas dois personagens aqui, mas acredito que nunca vi os mesmos atores acordando de pesadelos tantas vezes. Basicamente, se uma cena é tensa, pode ter certeza que vai terminar com a vítima acordando.

Apesar de ter apenas 70 minutos, mais da metade do filme se passa sem absolutamente nada acontecer. Tipo a forma como tudo é filmado, com closes e músicas tensas, faz pensar que coisas banais, como uma mão no sofá, são assustadoras. Mas não são. O marido conversando com sua esposa enquanto aperta a almofada do sofá é tão banal quanto esta descrição e nenhuma mulher que optou por morar com um cara ficaria com medo de algo tão mé. Ou pelo menos não deveria.

Carcaça, Paulo Miklos, Delfos
O pôster é colorido, mas o filme é em preto e branco.

A SEGUNDA METADE

Na segunda metade você pode considerar que coisas começam a acontecer. Mas de novo, tudo que valeria citar é pesadelo. A fins de evitar spoilers, não vou dizer com todas as letras que o filme inteiro é apenas um pesadelo, mas pensa comigo: se for, você vai querer perder seu tempo aqui?

Algo muito bom poderia ser feito com esta proposta. Mesmo que não fosse um filme de fato tenso, mas apenas uma exploração das neuras e paranoias que vêm à mente quando você fica 24/7 preso numa casa com a mesma pessoa. Mas daí o filme opta por fazer tudo ser um sonho, e este é o maior dedo do meio que um roteirista pode mandar para seus expectadores.

Carcaça, um filme inexplicavelmente em preto e branco, mesmo com um pôster colorido, simplesmente não tem características que o salvem, ou mesmo o justifiquem. Fico pensando nas sessões de brainstorming para isso aqui: o sujeito fala pros outros “e daí tem uma cena de violência, mas se liga só: era um sonho”, e os outros, que nunca viram um filme antes, falam “ooooh”. Infelizmente, esta fantasia só pode ter acontecido mesmo nesta fictícia cena de brainstorming, pois se um filme é capaz de dar raiva em quem o assiste, este é ele. Eu não paguei para ver, e mesmo assim me senti roubado. Roubado do meu tempo, da minha sanidade, e do meu tempo livre, que poderia ter sido usado para brincar com minha filha ou ver a tinta da parede secar. Evite como o Cascão evita a chuva.

Carcaça está nas plataformas de aluguel a partir de 3 de março de 2025.

REVER GERAL
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
critica-carcaca-habemus-um-wotyDireção: André Borelli<br> Elenco: Paulo Miklos, Carol Bresolin<br> Gênero: Suspense Psicológico<br> País: Brasil<br> Ano: 2024<br> Duração: 70 min<br> Classificação: 18 anos<br>