É engraçado como Hollywood gosta de fazer filmes de terror com tema de amigos imaginários. Eles fazem parecer que isso é algo assustador ou bizarro quando, na verdade, é super comum e muito bonitinho. Por exemplo, minha filhinha já tem um amigo imaginário. Ele chama Nenezinho e cabe na mão dela. Ela cuida dele, o carrega para lá e para cá e, quando vai sair de casa sem mim, diz que vai deixar o Nenezinho comigo para cuidar de mim. Não é uma fofura? Ah, sim, mas essa é nossa crítica Amizade Maldita.
CRÍTICA AMIZADE MALDITA
Amizade Maldita conta a história de um casal com um filho. O moleque tem um amigo imaginário chamado Z. Antes mesmo de qualquer coisa bizarra acontecer, os adultos já discutem como vão fazer para acabar com essa amizade que acreditam ser fictícia. Mal sabem eles que ela é… Maldita! Bwa-haha!
Agora falando sério. Você já viu esse filme. Você conhece a história. Coisas estranhas vão acontecendo. Lentamente de início, com momentos de “será que eu vi isso”; e finalmente ficando mais hardcore. Ele segue todas as formulinhas de terror sobrenatural e não cria absolutamente nada. Chega ao ponto – e isso não é um exagero retórico – que eu sabia exatamente o que os personagens iam dizer.
O CORRALES TEEN
Eu gostava de filmes assim quando tinha uns 13 anos, e os sustos ainda eram novidade. Eu ainda sou um cara imaturo. Ainda gosto de South Park e de Testosterona Totais. Porém, ao contrário de ação e comédia, terror é algo que sofre com familiaridade.
Você pode pegar filmes de ação semelhantes. Por exemplo, O Exterminador do Futuro 2 e True Lies. Os dois têm o mesmo diretor (James Cameron), o mesmo ator (Arnold Schwarzenegger) e são do mesmo gênero. Porém, os específicos, as coisas que levam às explosões em si, são diferentes e empolgam não interessa quantos filmes do gênero você já viu. O mesmo pode ser dito de comédias. A história pode ser semelhante, mas desde que o específico, as piadas, sejam diferentes, ainda pode divertir.
Já terror? Bem, você pode se assustar na primeira, segunda, décima vez que você vê um vulto com aumento de trilha sonora e corte de câmera rápido. Mas eventualmente, a fórmula se torna familiar, e o medo se esvai. Familiaridade mata o terror.
É por isso, por exemplo, que eu sempre digo que um bom game de terror deve ter algum perigo, mas se for difícil demais, e obrigar a ficar repetindo as mesmas coisas várias vezes, ele elimina o clima que quer criar.
O COVER DO COVER
Até o próprio GTA 5 já tirou sarro do fato de que Hollywood fica contando sempre as mesmas histórias e cobrando ingressos de novo. E é verdade. Mas no caso de filmes como esse, de terror sobrenatural, em especial com o tema “amigo imaginário”, eu sinceramente fico estupefato que eles continuem sendo feitos.
Para mim, um diretor/roteirista querer fazer um filme assim, sem ter nenhuma ideia ou motivação que o diferencie do resto, é como se ele intencionalmente escolhesse fazer um filme nada. Com a diferença de que um filme nada costuma ser melhor do que um desse gênero.
Convenhamos, você se lembra de algum filme recente nessa linha que seja bacana? Babadook, talvez? E mesmo esse eu não acho nenhuma maravilha. Especialmente se comparado a filmes de terror realmente excelentes, como Abismo do Medo ou [REC].
E sim, eu sei que no caso deste último você pode argumentar que Zumbis também já deram o que tinham que dar. Mas é inegável que o medo primal causado pela intensidade do filme espanhol é absurdamente diferente do que as críticas sociais dos filmes Z do Romero, por exemplo. Tipo, ele tinha um diferencial. E um forte.
O AMIGO Z
Aliás, me chamou a atenção o título original de Amizade Maldita ser Z, uma vez que essa letra é designada mundialmente na sétima arte para se referir a obras com temática de zumbis.
Mas isso é o de menos. O fato é que Amizade Maldita é extremamente comum, sem nenhuma razão de existir. Algo do gênero ter sido somente a segunda sessão de imprensa desde que os cinemas voltaram a reabrir, embora seja a terceira a ser publicada aqui (a primeira foi o ótimo Bill & Ted) mostram a saturação do gênero. Tipo, demorou duas ou três semanas para algo assim voltar a estrear no cinema.
Se você está a fim de algo nessa linha, é bem mais negócio zapear pelos canais de filmes da sua TV, pois com certeza você vai achar algo parecido – e provavelmente melhor.