Eu adoro filmes de terror. Mas qualquer amante do gênero há de concordar que tem muita porcaria nele. Tem também muita coisa boa. E, muito raramente, aparece algo diferente. É o caso de A Substância.
CRÍTICA A SUBSTÂNCIA
A Substância tem uma história bem única, e felizmente sua criatividade não se limita a ela. Mas comecemos pelo começo. Elizabeth Sparkle (Demi Moore) é uma atriz em fim de carreira. Sua emissora e mesmo seus fãs parecem estar em busca de uma “nova Elizabeth Sparkle”. Isso dói! Esta pressão pelo mais novo, mais jovem e mais bonito é algo que afeta todos os seres humanos, mas acredito que é ainda mais doloroso para mulheres. Especialmente mulheres que apostaram todas suas fichas na beleza da juventude.
Mas os problemas da Sparkle acabaram! Ela fica sabendo de uma substância que promete criar um novo eu mais jovem e mais perfeita a partir do seu DNA. Mas tem uma pegadinha: você se divide em dois, e cada um deles fica ativo por sete dias antes de precisar trocar para recarregar.
MEMÓRIAS NÃO SÃO DIVIDIDAS
É uma enorme piração, e espero ter sido capaz de explicar o básico de seus pormenores aqui. Isso, claro, traz um monte de conflitos. Com a atenção que a mais jovem recebe (Margaret Qualley, de Death Stranding), a mais velha passa a se sentir inútil e sem vontade de viver.
O filme deixa claro que não existe “ela e eu”, mas que as duas são uma. A princípio, achei que isso significaria que ambas compartilham a memória, mas não parece ser o caso. Isso porque a versão mais jovem decide ficar sempre um pouquinho a mais, e isso traz fortes repercussões que não convém elaborar nesta crítica.
BODY HORROR
Eu gostei muito da direção de A Substância. Coralie Fargeat faz um excelente uso de lentes grande angulares, closes desconfortáveis e corredores longos demais para maximizar a aflição. E dá certo. Mesmo as cenas supostamente sensuais – das quais há muitas – são filmadas de forma desconfortável.
Acho que também nunca tinha assistido a um filme que se encaixasse tão perfeitamente na definição de um body horror. Tem um monte de cenas aqui que é difícil até de olhar. Normalmente apenas as sugestões já são suficientes para gerar aflição, mas elas nunca param na sugestão.
A PARTE 3
A Substância é um dos melhores filmes de terror em anos, mas é também longo demais para o seu próprio bem. Durante quase toda sua duração, eu pretendia presenteá-lo com o cobiçado Selo Delfiano Supremo, mas infelizmente ele joga a qualidade fora em um final que não sabe se quer causar risos ou medo.
O grosso do filme é dividido em duas partes: Elizabeth e Sue. No final, um terceiro título aparece, e este era o momento perfeito para encerrar a projeção. Seria um final aberto, que me faria sair pensando em tudo que vi. Mas ele continua em uma sequência meio onírica, meio sem sentido, com momentos de humor que eu sinceramente não sei se são ou não intencionais.
As duas primeiras partes me lembraram bastante de A Pele Que Habito, que acho excelente. Mas este final parece Cidade dos Sonhos, e não digo isso como um elogio. É difícil elaborar mais sem spoilerar tudo, mas este final enfraqueceu tanto a obra como um todo que me obrigou a não apenas confiscar o Selo Delfiano Supremo como a diminuir um pouquinho sua nota. Ainda é excelente, criativo e vale ser visto. Só é uma pena que não termine melhor. Ou simplesmente antes.