Faz tempo que a gente não fala dos títulos bizarros nacionais por aqui, né? Pois esta crítica A Morte do Demônio: A Ascensão é um bom momento. Acho que todo mundo concorda que Evil Dead (Morto Malvado) é um título bobo. Mas A Morte do Demônio é ainda pior, e nem tem a ver com a história. Mas por causa dessa tradução feita mais de 40 anos atrás, os filmes mais recentes estão presos nesse título.

No caso deste, Evil Dead Rise seria “Morto Malvado Sobe”. Ainda mais bobo, sem dúvida. Mas às vezes os títulos originais são intencionalmente bobos, e não devem ser consertados, especialmente fingindo uma epicidade que não existe no original. Evil Dead, afinal de contas, é um filme B. E ser bobo faz parte da brincadeira. Mas vamos começar a falar então do Evil Dead de 2023.

CRÍTICA A MORTE DO DEMÔNIO A ASCENSÃO

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Essa mulher não parece as fantasminhas do filme Sorria?

A Morte do Demônio A Ascensão puxa bem mais forte para o lado terror sério explorado no remake de 2013 do que para a fanfarronice daquela estrelada por Ash. Mas digo mais. Este filme parece ter sido um daqueles casos comuns em Hollywood, em que um roteiro é escrito de forma não relacionada, daí os grandes estúdios o compram e o encaixam em uma grande franquia. A Morte do Demônio A Ascensão parece um filme de terror sobrenatural bem comum (embora bastante puxado para o gore e o nojento) que, em cima da hora, recebeu alguns temperinhos de Evil Dead. Vamos à sinopse.

Jovens bonitos encontram um livro encadernado com pele humana. Ao manusear o livro, eles liberam entidades malvadas que proclamam que todos vão morrer até o amanhecer. Esta é a parte Evil Dead. E convenhamos, seguir a cronologia de onde esse livro estava desde os anos 80 é mais difícil do que entender X-Men ou The Legend of Zelda. A parte diferente para a franquia é que isso acontece com uma família no meio de uma grande cidade, e não com um grupo de amigos em um acampamento.

A mãezona é a primeira a ser possuída, e daí rola tudo aquilo que você espera do filme. A mãe claramente endemoniada falando com voz calminha para manipular as crianças a fazerem besteiras. Sustos com aumento de trilha sonora (um deles envolvendo uma imagem de nosso senhor Jesus Cristo). A Final Girl que você já sabe quem é desde o início.

CRÍTICA EVIL DEAD RISE

Uma coisa digna de nota é que, pela primeira vez, um longa da série Evil Dead tem uma direção genérica. Escolados em filmes B de terror/terrir, onde sei que você se inclui, saberão que até mesmo o longa de 2013 emanava estilo em todos os planos.

Aqui tem uma cena legal, a do massacre do olho mágico. E essa é bem legal, mas é um único destaque visual em um filme bastante genérico visualmente. Esta parte funcionaria melhor como um curta independente do que no meio de um longa metragem. Daí tem algumas cenas em POV dos deadites, se movendo rapidamente, o que é praticamente uma obrigação em qualquer Evil Dead. De resto, é tudo bem padrão.

Crítica A Morte do Demônio, Evil Dead, Evil Dead Rise, Sam Raimi, DelfosO tom também é bastante indeciso. O filme parece querer ser um terror sério, mas ocasionalmente faz algumas coisas ridículas (como quando a mãe “toca” um vinil com as unhas, com o som saindo por sua boca) que deixam sinceramente em dúvida se isso era humor intencional ou se quem inventou a cena achou que seria assustador. Isso acontece umas quatro vezes no longa. Não é o suficiente para encaixá-lo como o terrir tradicional de Evil Dead, mas causa uma ruptura com o tom do restante do longa. De forma não legal.

CRÍTICA A MORTE DO DEMÔNIO EVIL DEAD RISE

Eu gosto de Evil Dead. Assisti a todos os filmes, séries de TV e até joguei alguns games. De todos, o filme de terror de 2013 era claramente um ponto fora da curva, tanto em tom quanto em qualidade. Mas ele ainda era legalzinho. Se não para ver no cinema, pelo menos para assistir em casa comendo uma pizza. De preferência com muito molho de tomate e queijo derretido. Já A Morte do Demônio A Ascensão não tem essa salvação. De todas as narrativas que Evil Dead produziu, este é sem dúvida o ponto mais fraco.

A Morte do Demônio A Ascensão não funciona como filme de terror nem como comédia (o que, claro, ele nem parece tentar ser). Mas o mais importante é que não funciona como um Evil Dead. Nem como uma interpretação para o terror que Evil Dead foi um dia, como o A Morte do Demônio de 2013 ou o original de 1981.

O que temos aqui é um filme de terror sobrenatural gore sem nenhuma relação com Evil Dead a não ser a origem da maldição. Não há personagens conhecidos, nem nenhuma referência à franquia. E também não é um remake de um dos originais, como o de 2013. Diante de tudo isso, é até estranho que não tenham chamado o longa de A Ascensão – Uma História Evil Dead. Pois afastá-lo do peso que vem com o nome de um dos grandes representantes dos filmes B seria a maior piedade para esta bomba.

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Nota:
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
critica-a-morte-do-demonio-a-ascensao-evil-dead-riseTítulo original: Evil Dead Rise<br> País: Nova Zelândia, EUA, Irlanda<br> Ano: 2023<br> Distribuidora: Warner<br> Duração: 1h37m<br> Estreia no Brasil: 20 de abril de 2023<br> Direção: Lee Cronin<br> Roteiro: Lee Cronin<br> Elenco: Alyssa Sutherland, Lily Sullivan, Morgan Davies<br>