Gears of War

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Já há algum tempo venho falando aqui no DELFOS sobre como os jogos deixaram a ação de lado em nome de coisas pentelhas como ter que ir até as fases para começar a jogar (maldita síndrome GTA), empurrar caixas e sidequests sem graça. Até abri um tópico na comunidade delfiana do Orkut para que a gente pudesse se indicar jogos que focam na ação. O problema é que a maior parte dos jogos sem essas características irritantes citadas acima eram ruins mesmo e não podiam competir com os bons jogos com caixas.

Vendo o quanto os gamers (principalmente os mais old school) estavam carentes de ação, eu mais de uma vez previ que, quando fizessem um jogo de ação pura, com uma fase atrás da outra e sem nenhuma caixa para empurrar se tornaria um dos jogos mais vendidos da história. E meus poderes messiânicos se confirmaram, pois veio Gears of War e pirou o cabeção de muita gente, tanto dos gamers antigos quanto dos novos, já da geração pós-GTA.

A essa altura, o delfonauta sem dúvida já ouviu falar desse game, provavelmente até já leu resenhas dele, mas caso um ou outro não saiba nada, Gears of War é um Shoot’em Up completamente Arcade, exatamente como eu e milhares de pessoas com saudade da época do Mega Drive/Super Nes sonhávamos há anos.

Admito, eu estava com um certo receio de não gostar do game. Normalmente, quando se trata de Shoot’em Ups, eu gosto mesmo é de dar uma de Rambo, ficar com a boca torta, gritar que nem um idiota e sair correndo e atirando em tudo que se mexe. Em Gears of War isso não é possível, pois você precisa passar a maior parte do tempo em cobertura e eu achava que isso poderia estragar o jogo, já que séries como Call of Duty e Medal of Honor já utilizavam esse sistema antes e era meio chato ter que se esconder, sair andando para atirar e depois voltar a se esconder.

Gears of War, felizmente, se aproveitou dessa idéia, mas melhorou o sistema de forma que jogá-lo é uma sensação única e, ao mesmo tempo, instintiva e fácil de aprender. Quando você sentir que uma batalha vai começar, basta ir em direção a uma parede – ou a uma pedra, uma coluna, um sofá, enfim… qualquer coisa que sirva de proteção – e apertar A. Pronto, você está protegido. Apertando o gatilho esquerdo, você coloca a cabeça para fora do esconderijo e a mira aparece. Daí é só apontar para a cabeça dos futuros presuntos, apertar o gatilho direito e ver o sangue jorrando ou, dependendo da sua arma, as cabeças explodindo. Hell, yeah!

Para completar, o sistema de energia também é muito inteligente. Conforme você leva tiros, vai aparecendo uma mancha vermelha na tela. Quando você estiver prestes a bater as botas, você solta o gatilho esquerdo para voltar a se proteger e espera um pouco. Pronto, o fator de cura de seus soldados é melhor do que o do Wolverine, pois é rápido o suficiente para que você não fique de saco cheio de esperar, mas é demorado o suficiente para deixar o jogador bem desesperado nas batalhas mais acirradas.

E não pense que você estará protegido pelo simples fato de estar em um abrigo. Alguns Locusts (os inimigos) vêm correndo na sua direção, obrigando você a sair do seu esconderijo e sair com eles na porrada (ou na serra elétrica que, literalmente, corta o cara ao meio e enche a tela da sua TV de sangue). O problema é que na porrada você está sempre em desvantagem, já que a serra elétrica é virtualmente inútil nesses casos (ela é boa para quando você vai pegar um inimigo de surpresa) e suas outras porradas são muito fracas em comparação com as dos Locusts.

Tem também uns inimigos chamados Wretches, contra os quais a proteção não serve de nada, já que eles não atiram, mas vêm pulando na sua direção e atacam com mordidas e arranhões. São os bichinhos que mais enchem o saco, principalmente na terceira fase (a única realmente chata do jogo), onde eles começam a explodir quando você os mata. Ou seja, se você matar um deles e não conseguir sair de perto, você morre junto (nas dificuldades mais altas), o que é bem frustrante. Na terceira fase, inclusive, você basicamente só luta contra esses bichos e o jogo vai do clima de um Testosterona Total para um terror mais semelhante a Doom 3.

Como um bom jogo Arcade, você pode selecionar cada uma das cinco fases (depois que você já tiver chegado nelas pelo menos uma vez) e vários segmentos dentro de cada fase. Cada vez que você continua o jogo ou seleciona outra fase, também pode escolher o nível de dificuldade, o que é ótimo, pois, você pode jogar no Insane (o mais difícil) e, ao chegar em uma parte impossível, recarrega o último checkpoint na Casual (a mais fácil).

Na dificuldade Casual, a maior parte dos jogadores não vai ter muita dificuldade de terminar o jogo. Já, na Insane, acredito que a maioria mal vai conseguir passar da primeira fase. Mesmo na Casual, contudo, tem alguns trechos que são muito mais difíceis do que o resto do jogo, o que é meio errado, já que um game tem que ir ficando progressivamente mais difícil, sem grandes saltos de dificuldade como acontece aqui.

Refiro-me, especialmente, a duas partes. Um deles é o último chefe, que beira o impossível mesmo na dificuldade mais fácil. Outra, é um bicho que chama Berserker, que é imune a suas armas. Para matá-lo, você precisa fazer com que ele siga você para um lugar aberto, onde você vai poder usar uma super arma chamada Hammer of Dawn (aliás, essa arma serve basicamente para matar os Berserkers e alguns outros bichos mais poderosos, já que você só pode usá-la em alguns trechos pré-estabelecidos). Na sua primeira aparição, no final da fase 1, você precisa fazer o monstrão ir correndo na sua direção e sair da frente para que ele quebre umas portas. Isso, além de dar um medo do caramba, graças ao maravilhoso som surround (imagine você correndo na direção da porta, sem poder ver o bicho, aí você sente, vinda das caixinhas de trás, a respiração dele no seu cangote e o barulhinho característico que ele faz quando vai começar a correr – acredite, você chega até a dar uns gritos de aflição), é bem difícil e não é tão divertido quanto matar os Locusts genéricos. Você ainda encontra mais dois Berserkers durante o jogo, mas o segundo é consideravelmente mais fácil e o terceiro é facílimo, mais fácil até do que os inimigos normais. Também tem algumas batalhas mais difíceis durante o jogo, mas essas duas partes (o primeiro Berserker e o último chefe) são as mais complicadas.

O jogo também permite que você jogue em cooperativo (online ou em tela dividida), o que é uma adição sempre bem-vinda e, aqui, funciona muito bem. Em primeiro lugar, você pode ressuscitar um amigo falecido (a não ser que ele tenha sido cortado ao meio por uma serra elétrica ou despedaçado por um Berserker), o que deixa o jogo muito mais fácil, pois você só volta para o último checkpoint se os dois morrerem juntos. Mas o mais legal é que, em alguns momentos, vocês se separam e aí é que a palavra “cooperativo” entra em ação, pois tem alguns momentos onde um ajuda o outro. Por exemplo, você fica dentro de uma casa, armado com um Sniper e protegendo seu amigo que está lá embaixo, lutando pela vida. Ou então, em uma fase onde você só pode andar nas partes iluminadas, um dos dois segura um holofote e vai iluminando o caminho para o outro. Muito legal, deveria ter mais partes assim no jogo.

O cooperativo online é um dos mais legais que já tive o prazer de jogar, pelo simples fato de que você não precisa ficar esperando o outro jogador entrar. Você pode começar a jogar e, logo, um outro cara entra no seu jogo (o que normalmente demora menos de um minuto) e pronto. São vocês dois contra alguns milhares de Locusts. O único defeito, na minha opinião, é que, quando o segundo jogador sai, seu jogo também se encerra. Você deveria continuar jogando e abrir espaço para um novo parceiro entrar.

Também tem o modo versus online, que é muito inferior, já que não existe nenhuma opção Deathmatch. Todos os modos são batalhas em times (o que eu acho um saco, eu quero poder atirar em tudo que se mexe!) e tem muito pouca diferença entre eles. Um é o simples “mate todo mundo do outro time”, outro você precisa derrubar os inimigos, chegar perto e executá-los para que a morte seja contabilizada e, no último, você precisa matar um jogador específico do outro time, o líder.

Além de Marcus e Dom (os protagonistas com quem os gamers vão jogar na campanha), você ainda tem sempre mais dois soldados com você, cuja identidade varia durante o jogo. O mais legal deles é Cole, um cara que realmente adora matar Locusts e que responde por algumas das frases mais engraçadas do jogo.

Ah, sim, e os gráficos. Cara, os gráficos são fenomenais. Foi o primeiro jogo de Xbox 360 que eu joguei e admito que realmente me senti na next-gen. Os detalhes dos soldados, dos inimigos e dos cenários são embasbacantes, mas nada me impressionou mais do que a água. E quando você vir a água desse jogo sem dúvida vai concordar comigo (aliás, sempre que eu vejo água no 360 fico impressionado. Li em algum lugar que hoje em dia é muito fácil fazer água, que tem programas que fazem isso, mas é o elemento mais próximo do fotorealismo que já vi em um game). O gráfico de Gears of War é tão bom que, mesmo durante o jogo, parece um animado da Pixar para adultos. O único defeito, na minha opinião, são as cores, que estão meio lavadas, quase preto e branco. No menu de opções, você pode configurar para as cores ficarem “vibrantes”, mas a diferença é mínima. Essa, sem dúvida, foi uma decisão artística estranha da Epic Games, mas deve ter gente que gostou. Afinal, se tem gente que gosta de empurrar caixas, deve ter também quem goste de jogos quase preto e branco.

Tem defeitos, mas nenhum deles é grave o suficiente para fazer com que você não experimente este jogo, principalmente se você também não agüenta mais empurrar caixas ou andar até as missões. Gears of War é a prova de que, muitas vezes, um jogo simples bem feito vale muito mais do que qualquer game cheio de complexidade (e de caixas). É diversão arcade para quem quer diversão arcade (e se você é um de nós, clique aqui e compre) e por isso leva o Selo Delfiano Supremo com louvor. Espero que o console da Microsoft receba muitos outros títulos com esse capricho e essa simplicidade, pois daí sim ficarei bem feliz de ter escolhido comprar o Xbox 360.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
gears-of-warAno: 2006<br> Gênero: Shoot'em Up<br> Preco: 159 reais<br> Plataforma: Xbox 360<br> Fabricante: Epic<br> Versao: Xbox 360<br> Distribuidor: Microsoft<br>