Eu estava com muito medo desse filme. Não por ser um filme de terror (até porque não é), mas porque o longa anterior do diretor M. Night Shyamalan foi uma das grandes bombas de 2004. Eita, filminho ruim, sô! Isso, somado ao fato de que a única coisa do cara que realmente tinha gostado foi o tremendão Sexto Sentido, me deixou com uma sincera impressão de que o indiano seria uma versão cinematográfica dos One hit wonders musicais e não um “novo Hitchcock” como gostam de dizer por aí.
Como se isso não bastasse, este novo projeto ainda me deixou bem cabreiro por aparentar ser quase um plágio da história do Rei Arthur. Ou vai dizer que você nunca reparou que A Dama na Água é um título bem parecido com “a Dama do Lago”, famosíssima personagem que “consertou” a Excalibur quebrada e devolveu-a para Arthur?
Pois nem uma coisa nem outra. Não se trata de um filme Hitchcockiano como o do guri que via pessoas mortas e muito menos de uma fantasia mitológica como a do rei dos bretões. Talvez a forma mais correta de se descrever A Dama na Água seria como uma mistura entre ambos. Lembra aquela série de TV chamada Histórias Maravilhosas (Amazing Stories no original), que apresentava pequenos contos fantásticos (algumas vezes de terror, mas na maior parte das vezes, apenas mágicos), mais ou menos no molde do Além da Imaginação? Pois este longa é basicamente uma daquelas histórias esticadas para a duração de um filme. E isso causa sérios problemas de andamento, principalmente no início, que é deveras chato e o impediu de levar para casa o Selo Delfiano Supremo.
Mas como assim, Corrales? Quarto parágrafo e nada de sinopse? Pois é, delfonauta. Acredite em mim, quanto menos você souber, melhor, pois, assim que passa a chatíssima introdução de personagens, as informações vão sendo reveladas pouco a pouco, sem grandes surpresas, mas muito satisfatoriamente, principalmente se você, como eu, tem uma queda por situações mágicas. Mas vamos combinar assim: no próximo parágrafo, darei informações gerais sobre o filme, uma sinopse bem básica. No seguinte, serei um pouco mais específico, mas tentarei não falar nada além do necessário. Pode ler sem medo, mas se quiser manter todas as surpresas, sugiro que você leia apenas o primeiro para ter uma idéia da história e, depois que assistir, volte para o segundo, ok? Vamos lá.
A trama é baseada em uma historinha que Shyamalan contava para fazer suas filhas dormirem, sobre seres mágicos que vivem na água e que, em algumas situações, podem ter a necessidade de emergir para ajudar ou pedir ajuda aos moradores da superfície. Uma dessas criaturas, chamadas de “narf” aparece na piscina de um prédio. Mas o que ela está fazendo lá? Qual é a sua missão?
Bom, essas criaturas são basicamente musas e, logo no início da história, ela avisa Cleveland, o cara que a encontrou, que está procurando por um escritor que está escrevendo algo muito importante. Os escritos desse indivíduo terão grande influência no futuro do mundo e ele vai sofrer por isso. Mas para terminá-los, precisa ter um encontro com a Narf. Assim, Cleveland começa a procurar por essa pessoa entre os inquilinos do prédio. A partir daí, veremos que muitos dos indivíduos que moram ali têm a sua importância para que tudo corra bem e, aos poucos, vamos descobrindo o papel de cada um.
Embora tenha, é claro, momentos de perigo e até alguns sustos, no geral, A Dama na Água é uma história mais família que os outros filmes do diretor. Tem humor, tem lição de moral, tem até um pouquinho de filosofia (qual é o nosso propósito? Por que estamos aqui?). Eu diria que lembra um pouco até os filmes do Harry Potter. Na verdade eu até fiquei em dúvida se não seria baseada em alguma mitologia oriental que realmente exista (é assim que é apresentado no filme) e fiz uma pesquisa para me certificar que passaria as informações mais corretas neste texto.
Dito tudo isso, dou uma dica: não vá assistir esperando um filme de terror ou suspense, pois isso não será encontrado aqui. Ao invés disso, vá com a mentalidade de uma criança, de alguém que ainda acredita que o mundo no qual vivemos pode ser mágico e fazer algum sentido apesar de tudo. Quem sabe, no fim da sessão, você não é tocado por essa magia, que no fim das contas, acaba sendo o grande objetivo do cinema. Objetivo que foi, aliás, muito bem realizado em A Dama na Água. Shyamalan voltou a subir no meu conceito. E vamos torcer para que não caia de novo. E para, quem sabe, o mundo voltar a ser mágico como era quando éramos crianças. Quando a esperança ainda parecia ser possível.
Curiosidades:
– Shyamalan volta a fazer uma participação neste filme mas, ao contrário dos anteriores, dessa vez interpreta um personagem com bastante tempo de tela e importância vital para a história.
– Quando eu for contar uma historinha para os meus filhos, ela provavelmente também vai envolver piscinas mágicas de onde saem ruivas peladas.