Como se tornar um crítico de CDs de Metal

0

Elas estão por todos os lados: nos milhares de sites sobre Heavy Metal, nas suas revistas mensais favoritas, naquele e-mail chato que o seu amigo lhe enviou pra mostrar que sua banda preferida recebeu uma nota baixa. Para onde quer que você olhe, lá estão elas: as sacrossantas resenhas de CDs de metal. Quantas vezes você já não se perguntou se deveria ou não comprar um CD que recebeu uma nota tão baixa? Quantas vezes você, ao final da audição daquele CD nota 10, sentiu vontade de trucidar o cara que deu tamanha nota para uma porcaria como aquela? Pois bem, seguindo alguns pequenos passos, você poderá confeccionar suas próprias resenhas. Completamente imparciais, é claro. Afinal de contas, você será um crítico capaz de analisar exclusivamente a música que ouve, deixando de lado completamente todas as suas crenças e gostos.

Atente para o fato de que é necessário dominar outras áreas do conhecimento além da música. Por exemplo: a culinária e a meteorologia. Termos como: cru, relâmpago, magro, gordo, fritadores, trovão, furacão, tempestade, frio, corar, abafado e altas temperaturas lhe serão de grande utilidade. Ah, sim. Termos relacionados a catástrofes naturais também devem ser assimilados e utilizados sem parcimônia. Por exemplo: terremoto e erupção. Vamos aos itens:

SOBRE A CAPA:

1 – Se a capa for feia: diga que capas não tocam e que importante mesmo é ouvir a música produzida pelo grupo.

2 – Se a capa for bonita: diga que se trata de mais uma magnífica obra daquele renomado desenhista (cite o nome do cara sem erros de ortografia), que fez capas para dezenas de outros grupos de renome.

3 – Se a capa for exatamente igual a dezenas de outras que aquele renomado desenhista fez para dezenas de outros grupos de renome: diga que se trata do traço inconfundível do cara e que contém elementos que são característicos de seu trabalho. Mesmo que a diferença entre as capas de CDs de grupos diferentes feitas pelo cara seja somente o logo do grupo.

No geral, se não gostou, diga que se trata de um trabalho gráfico bastante morno, pois isso é máximo de crítica que os fãs xiitas vão aceitar.

SOBRE A PRODUÇÃO:

Use termos parecidos com os de um bom cozinheiro:

4 – Se achar que o som ficou bom: diga que a produção ficou redondinha.

5 – Se achar que o som está muito agudo: diga que o som ficou fininho.

6 – Se achar que o som está muito grave: diga que o som ficou gordo.

No geral, se gostou, diga que a produção conseguiu capturar toda a alta temperatura das apresentações ao vivo da banda.

SOBRE A PERFORMANCE INDIVIDUAL DOS MÚSICOS:

O vocalista:

7 – Se ele copiar descaradamente o David Coverdale: diga que ele tem influências de David Coverdale.

8 – Se ele copiar descaradamente o Rob Halford: diga que ele tem influências de Rob Halford.

9 – Se ele copiar descaradamente Ronnie James Dio: diga que ele tem influências de Ronnie James Dio.

10 – Se ele copiar descaradamente os três vocalistas citados acima: diga que ele está construindo brilhantemente um caminho com personalidade própria.

No geral, se gostou, diga que o cara tem uma voz bem temperada conseguindo transitar satisfatoriamente entre os graves e os agudos, mesmo que ele só cante em falsete.

O guitarrista:

11 – Se ele conseguir tocar dezenas de notas em frações de segundo: diga que ele peca pelo excesso de técnica e ausência de feeling. Enfim, diga que ele é um fritador.

12 – Se ele não tocar dezenas de notas em frações de segundo: diga que lhe falta técnica, que seus timbres não têm o sabor dos sons tirados por Joe Satriani.

13 – Se for uma dupla de guitarristas: diga que produzem solos e bases cortantes como um relâmpago.

14 – Se houver três guitarristas na banda: jamais deixe claro que é absolutamente desnecessário aquele terceiro carinha que mais parece um malabarista fazendo caras e bocas. Diga sempre que a banda soa exatamente como nos velhos tempos, quando, por sinal, só contava com dois guitarristas e fazia um som bem melhor.

No geral, se gostou, diga que os caras fazem um trabalho de dar inveja a KK Downing e Glenn Tipton, ou solos que fariam Eddie Van Halen corar.

O baixista:

15 – Como baixistas em bandas de Heavy Metal não servem para nada, não perca tempo escrevendo sobre eles. Claro, se ele for o dono da banda e iniciar todas as músicas com um fraseado de baixo, diga que seu instrumento tem a potência de um trovão.

O baterista:

16 – Diga que ele forma uma excelente cozinha junto com o baixista. Sacaram? Eu disse cozinha!

17 – Diga que ele soca seu instrumento com a força de um maremoto.

18 – Diga que ele é o responsável pela condução perfeita do tempo das músicas.

No geral, se gostou, diga que o timbre dos pratos, eu disse pratos, lhe agradaram muito.

SOBRE A NECESSIDADE DE SER ORIGINAL:

19 – Crie sempre novas formas de identificar a música produzida pelas bandas. Por exemplo: “deep throat metal”, “faster dick slower metal”, “monstruous cock rape metal” e por aí vai. Lembre-se que os sons devem sempre ser algo poderoso, então não invente algo como “fofo metal” ou “metal cuti cuti” a não ser que você escreva para um público mais qualificado, como o do DELFOS. Com isso você diferenciará sua redação dos demais críticos musicais e criará uma marca própria.

SOBRE A NECESSIDADE DE DEMONSTRAR QUE VOCÊ AMA O METAL ACIMA DE QUALQUER COISA:

20 – Diga que o Metal jamais morrerá.

21 – Diga que o trabalho que você está resenhando é um clássico que resistiu ao maior de todos os críticos: o tempo (mesmo que tenha sido lançado semana passada); e que por isso o Metal jamais morrerá.

22 – Diga que aquele famoso guitarrista ou vocalista ou baterista assimilaram influências de outros gêneros musicais e que por isso o Metal jamais morrerá. Não fale do baixista, salvo se o caso for aquele citado no item 15. Afinal, baixistas em bandas de Metal não servem para nada.

23 – Se a banda nunca mudou o estilo, diga que ela é fiel aos fãs e que por causa disso o Metal jamais morrerá. Se ela mudou completamente, diga que ela evoluiu musicalmente e que por causa disso o Metal jamais morrerá.

SOBRE AS LETRAS:

24 – Se as letras falarem sobre a supremacia racial nórdica; ofenderem as crenças religiosas de alguém ou quaisquer outros tipos de preconceito ou racismo diga que o que de fato importa é a música que executam. Afinal de contas, como todos nós sabemos, a letra não faz parte da música.

Seguindo as regrinhas acima você já pode escrever as suas próprias resenhas, com imparcialidade, muito amor ao Metal e respeito aos lendários músicos que você tanto admira. Agora se a sua idéia é escrever para o DELFOS, basta fazer completamente o oposto de tudo isso.

Galeria