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– Crepúsculo: a resenha do primeiro filme.
Atenção: Vários links do texto abaixo levam a imagens da galeria ilustrando a situação em questão. Divirta-se!
Eu nunca vi ou li Crepúsculo. Tenho certeza, entretanto, de que o delfonauta consegue detestar uma coisa mesmo nunca tendo visto, ouvido ou lido. Diabos, nós aqui no DELFOS temos até uma seção dedicada a isso, inclusive com um texto meu.
Então, que fique claro logo no começo, caso eu não tenha a oportunidade de falar sobre isso mais tarde: eu odeio Crepúsculo. Cresci acreditando que vampiros eram seres sádicos e cínicos que não gostavam de sol e que, definitivamente, não pareciam francesinhos apaixonados e delicados como o protagonista baitolo dessa franquia. Acho até que é por isso que 99% dos fãs desse troço têm menos de 15 anos. Eles nunca viram o Gary Oldman traçando a Winona Ryder ou o Tom Cruise rindo do sofrimento alheio.
Vamos colocar assim: Crepúsculo está para os vampiros assim como Nightwish está para o Heavy Metal. Os dois são coisinhas delicadas supersensíveis para meninas e que não têm praticamente nada a ver com o gênero do qual acham que fazem parte.
Há uns poucos meses, eu estava no cinema para ver algum filme realmente legal (acho que era Arraste-me Para O Inferno) e, sem querer, vi o pôster do Crepúsculo 2. Cara, eu já vi dois caras se beijando, e o pôster era pelo menos 15.138 vezes mais gay do que isso. Era o vampiro francesinho e delicado olhando de cantinho de olho para um moreno parrudo que, por sua vez, olhava com um claro apetite homossexual pro francês disfarçando como se fosse raivinha. A garota, sobrando no meio disso tudo, tava apoiada no moreno e olhava, de forma perdida, para o espectador, como que torcendo para aparecer um homem de verdade como eu por ali.
Há umas semanas, fui assistir a Bastardos Inglórios (melhor filme do ano, a propósito), e, antes, rolou o trailer dessa busanfa aí. Era assim: aparentemente tinha uma galera vampira fazendo uma festinha de aniversário de Barbie, a garota humana se corta, a galera se exalta, ela pula de um penhasco e aparece um lobisomem do nada. Eu não entendi porcaria nenhuma, mas também não me esforcei. Estava muito ocupado rindo das frases tipo “Eu só vivo para você… Se é que posso chamar isso de viver”. Todas as frases do diálogo tinham ‘eternamente’ e ‘para sempre’! Fato: nove entre 10 emos usam frases assim no MSN.
No final de semana do dia 31/10, fui para São Paulo para um show do Kreator e do Exodus. Thrash Metal de primeira com duas bandas realmente boas. Sabe aqueles shows de lavar a alma? Pois é! O setlist do Exodus estava especialmente bom. Para melhorar, quando estávamos eu e o Corrales saindo para o show, entraram duas garotas lindas no elevador, uma vestida de anjinha e uma vestida de diabinha. Quando o elevador chegou no térreo, elas foram pra um lado e nós para o outro, mas fomos até o Via Funchal pensando em vários roteiros de filme pornô que poderiam começar assim. Definitivamente um Halloween e tanto.
No dia seguinte, o Corrales veio pedir minha ajuda para algo um bocado inusitado: cobrir uma coletiva de Crepúsculo. Bem, temos que fazer jus ao salário milionário delfiano que ele nos paga. Minha única condição era poder usar a palavra ‘gay’ quantas vezes eu quisesse. E lá fui eu, emburrado, fazer o meu trabalho de repórter enquanto ele faria o de fotógrafo.
Chegamos ao hotel onde rolaria a coletiva, o Grand Hyatt, mais ou menos às 11h20, que era para garantir que daria tempo de passarmos pela barreira de meninas de 13 anos, pegarmos nossas credenciais e fazermos nosso trabalho. Claro que imaginávamos que haveria fãs no lugar, mas não a quantidade absurda que estava lá. Logo de cara, elas já nos abordaram tentando entrar junto. Ficamos numa pré-fila até o segurança comprovar que não éramos menininhas de 13 anos querendo agarrar algum ator. Felizmente tínhamos o email impresso com a confirmação da assessoria de imprensa de que teríamos acesso à coletiva. Ou era o que pensávamos. Detalhe que no e-mail não dizia nada sobre a necessidade de levá-lo impresso e o Corrales só fez isso por estar com uma má intuição quanto ao evento e sabendo que a Cinnamon é especialista em desrespeitar seus colegas e encher seus eventos de exigências absurdas.
A idéia de fugir do sol e entrar logo não durou muito, pois paramos um pouco antes da entrada do hotel junto com outros repórteres e fotógrafos. Estava um calor de lascar, mas, fazer o quê? Esperamos enquanto pequenas levas de profissionais eram credenciados e despachados pra coletiva. Quando chegou nossa vez de passar pela porta e nos beneficiar da maior invenção desde a roda, o ar condicionado, vimos que a coisa não seria tão simples assim: muitos dos veículos presentes estavam lá fazendo algum rebuliço.
Na nossa vez de passar, entendemos o porquê: havia uma bancada da Cinnamon, a empresa contratada pela Paris Filmes para cuidar deste evento, escolhendo quem passaria ou não para a coletiva, e o nosso nome e o de vários outros não estavam na lista de acesso ao local. Em alguns casos constava o nome do repórter, mas não o do fotógrafo.
Todos os profissionais ali presentes foram obviamente convidados pela própria Cinnamon, e muitos, como nós, tinham o e-mail impresso para comprovar. Nós havíamos inclusive confirmado a presença assim que o convite chegou, assim como tantos outros lá – e vários desses inclusive tinham um e-mail impresso com uma resposta à confirmação.
Pense comigo, delfonauta: se a Paris Filmes tivesse contratado um grupo de macacos para checar uma caixa postal de e-mail e escrever o nome daqueles que confirmaram presença, tudo teria dado certo. Afinal de contas, esse é um trabalho que não exige nenhuma inteligência ou habilidade.
E foi aí que o negócio começou a esculhambar de vez. Ora, pessoas reagem de formas diferentes a situações semelhantes, não é? Se eu, por um lado, comecei a dar graças a Apsu por não ser forçado a assistir provavelmente à coisa mais gay da minha vida, outros repórteres aparentemente achavam que estavam perdendo algo bem importante e começaram a ficar bravos. Alguns MUITO bravos. Um determinado repórter gordinho nervoso, que ficará anônimo porque respeitamos a privacidade dele ou porque não nos lembramos de onde ele era (o que parecer mais realista para você), mas que, nos nossos corações, será para sempre o repórter gordinho nervoso, meteu uma bica no pôster de divulgação do filme, mandando o troço pro chão.
Basicamente, havia três pessoas lá como responsáveis: a senhora Mona ‘eu entendo a frustração de vocês mas paro por aí’ Camargo, a senhora Adriana ‘eu sou peão e só sigo ordens’ Miranda e o senhor Marcos ‘só estou aqui para deixar fãs novinhas passarem’ Brolia, este último assessor de imprensa da Paris Filmes. Ah, também tinha um jagunço com cara de matador, mas esse o Corrales não conhecia e a gente não chegou a saber o nome.
O que mais se ouviu durante uma longa meia hora foram gritos (cheios de razão) de “Só quero fazer meu trabalho!”, “Tem idéia do que é estar aqui num domingo de manhã no meio de um feriado?” e “Se você não é o responsável, então cadê o dito cujo?”. Pô, pelo amor de Marduk ou sei lá de que divindade babilônica, todo mundo lá tinha recebido convite e confirmado a presença! Uma das repórteres até mostrou um email com resposta do Vitor Brasil da Cinnamon (a responsável pelo evento) dizendo ‘Não se preocupe, está tudo certo’ ou algo igualmente tranquilizante e mentiroso.
Agora falemos da gente. Nem o Corrales nem eu somos fãs da série ou dos atores. Definitivamente, preferíamos ter ficado em casa tirando uns pegas no Street Fighter IV. Era um domingo de manhã, extremamente quente e ainda era véspera do aniversário do Corrales. Ah, e depois de um show tremendão de Thrash onde bati tanto a cabeça que meu pescoço ficou musculoso. E eu ainda precisaria voltar para Petrópolis, onde moro, no mesmo dia.
Além disso, nós somos de um veículo que faz entrevistas exclusivas com personalidades muito mais importantes para o cinema e para o nosso público do que os tais Kristen Stewart e Taylor Lautner. Ou seja, definitivamente não precisávamos nem queríamos estar lá. Mas fomos na tentativa de fazer uma matéria legal para você, delfonauta fiel e, quem sabe, atrair um maior público feminino para o site.
Voltando ao relato, numa determinada hora, desceu da direção de onde estava rolando a coletiva uma menininha desconhecida, de provavelmente uns 11 ou 12 anos. A carência jornalística do grupo presente era tão grande que quase todo mundo caiu em cima dela com perguntas como se ela fosse a atriz principal do filme. Era apenas uma fã, e seria patético se não fosse tão triste. Talvez esses pobres jornalistas tenham sido ameaçados pelos chefes: ou eles voltavam com um furo jornalístico ou nem precisavam voltar. Alguns desses jornalistas tinham famílias, Cinnamon sem coração!
Em várias ocasiões, o grupinho da Cinnamon falava algo, mas era sempre a mesma ladainha: não podemos fazer nada, não temos culpa, não está na lista, sentimos muito, somos apenas peões como vocês. Aguardem um pouquinho que vamos ver o que dá para fazer. Aguardem um pouquinho que o responsável vai descer. Já o Marcos Brolia que, pelo que sabemos, era o único representante presente da Paris Filmes, não hesitava em colocar a culpa nos seus colegas da Cinnamon. “Nós contratamos a Cinnamon e eles só me mandaram a lista, eu não vi os e-mails nem tenho nada com isso”, dizia nosso amigo.
Beleza, eu sei como são essas coisas, já que sempre fui peão na minha vida, mas a pergunta principal e nunca respondida era ‘e onde diabos está o tal do responsável?’. Rezava a lenda no dia que o nome dele era Vitor Brasil, ou pelo menos foi de um e-mail com esse nome que vieram os convites e as confirmações. Temos que falar com reverência, já que o Grandioso não pôde descer de Seu Panteão e se fazer Verbo entre os homens para se justificar para nós, meros peões indignos de veículos como a Rolling Stone (que sim, ficou de fora, pois não estava na gloriosa lista de escolhidos da Cinnamon).
Depois de um tempinho, a assessoria simplesmente deu as costas, pegou o saco de crachás de credenciais e subiu. Ficamos apenas nós, o grupinho de repórteres excluídos e uma meia dúzia de seguranças impedindo nosso acesso à coletiva como se fôssemos muito perigosos. Incrível, não?
Um colega até comentou, com toda a razão de alguém com anos de profissão e que nunca foi tão desrespeitado: “jornalistas não precisam de segurança, precisam de assessoria de imprensa”. De fato, não somos mendigos implorando por migalhas, apesar de a Cinnamon constantemente tratar a imprensa dessa forma. Também não somos criminosos truculentos e muito menos fãs histéricas de 13 anos. Aliás, não somos fãs, nem histéricos, nem temos 13 anos. Se fôssemos, provavelmente o Marcos Brolia teria nos deixado passar.
A estas alturas, eu já estava completamente convencido de que não iríamos entrar mesmo, até porque, se a coisa começou no horário marcado, já deveria estar acabando. Foi mais ou menos nessa hora que o mundo, tal como o conhecíamos, começou a mudar.
Confira nos próximos dias, a segunda parte desta matéria, incluindo cópias de todos os e-mails trocados com a Cinnamon sobre o assunto. Se você chegou atrasado, basta clicar aqui.
PS: Obviamente, se alguma pessoa foi retratada nas fotos dessa matéria ou da próxima e não quiser seu rostinho bonito estampado em site de tamanho garbo, basta escrever para nós.