Coisas Frágeis

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Indo direto ao ponto, Coisas Frágeis é a nova empreitada de Neil Gaiman, um dos componentes da santíssima trindade das HQs (os outros são Alan Moore e Frank Miller), na literatura sem quadrinhos, que alguns se referem como “literatura séria”, como se as já citadas HQs fossem só brincadeirinha… Mas estou me desviando do assunto.

Seu novo livro é uma coletânea de contos, a segunda do autor (Fumaça e Espelhos, a primeira compilação de histórias curtas de Gaiman, também foi publicada no Brasil) e dão um bom parâmetro de seu estilo literário, que os fãs de sua obra com certeza já conhecem bem, mas em todo o caso não custa relembrar.

Nos nove contos do livro, Gaiman apresenta histórias com sua temática favorita, o fantástico e o sobrenatural, tecendo uma mistura muito bem azeitada de diversos elementos caros ao escritor, como religião, mitologia, folclore e lendas urbanas, deixando todas essas referências bem claras e naturais a quem lê, em nenhum momento ficando confuso com tantos elementos tão díspares costurados juntos.

Somado à criatividade de Neil e seu estilo característico de escrever, de forma onírica e com muito humor negro, tão comum aos ingleses, temos excelentes histórias que variam de 10 a 20 páginas, tornando-se uma leitura leve, rápida, mas tão boa quanto seus outros trabalhos, sejam os romances ou as HQs.

Como destaques, vale citar os contos Um Estudo em Esmeralda, Golias e O Monarca do Vale.

O primeiro é uma típica aventura do detetive Sherlock Holmes, mas com um diferencial: ela se passa no universo de horror do escritor H.P. Lovecraft. Desta forma, temos Holmes agindo numa Inglaterra vitoriana levemente diferente da realidade, povoada por monstros ancestrais e abissais e mesmo assim resolvendo seus casos com sua alta capacidade de dedução. Fora a mistura funcionar muito bem, ainda é uma bela homenagem tanto à obra de sir Arthur Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes), quanto à de Lovecraft.

O segundo, Golias, foi escrita originalmente para o site do filme Matrix, e, portanto, se passa no mundo dominado pelas máquinas criado pelos irmãos Wachowski. E, só para se ter uma idéia do poder literário de Gaiman, suas míseras 12 páginas são melhores que Matrix Reloaded e Revolutions juntos.

Já o terceiro, O Monarca do Vale, revisita o protagonista de Deuses Americanos, o primeiro romance de Gaiman, de 2001, em uma história separada, que pode ser entendida perfeitamente sem o conhecimento prévio do romance, mas ganha em detalhes para quem o leu. Agora, Shadow está na Escócia e aceita um bico de guarda-costas numa festa muito estranha.

Além de retomar alguns personagens e situações de Deuses Americanos, Gaiman injeta no conto uma grande referência/homenagem a Beowulf, uma das primeiras narrativas em língua inglesa de que se tem registro (inclusive adaptada recentemente para o cinema com roteiro do próprio Gaiman).

Coisas Frágeis não chega a ser o seu melhor trabalho no campo dos contos (Fumaça e Espelhos tem contos tão bons quanto e em maior quantidade), mas serve como um bom ponto de partida para os neófitos que queiram conhecer sua obra. Já para os fãs de longa data, as três histórias citadas nessa resenha já valem o livro.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
coisas-frageisPaís: EUA<br> Ano: 2006 / 2008 (Brasil)<br> Autor: Neil Gaiman<br> Número de Páginas: 208<br> Editora: Conrad<br>