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Depois dos livros, do cinema e da música serem invadidos por temas questionando diversos dogmas religiosos e coisas até então intocáveis sob o risco de você ir parar em uma fogueira, era apenas uma questão de tempo até que algum autor de quadrinhos se aventurasse neste ramo também. Cá entre nós, o conhecido Mark Millar (de Superman: Entre a Foice e o Martelo e Os Supremos) não pode ser considerado o “pioneiro” no campo, pois há anos temos nomes como Alan Moore e Neil Gaiman brincando com esses conceitos mas, verdade seja dita, não de forma tão escancarada.
Jody Christianson é um garoto normal crescido em uma família de classe média e com uma vida comum em uma cidadezinha no interior dos EUA. Até que aos 12 anos de idade, ele sofre um acidente (um caminhão literalmente despenca na cabeça do moleque) e, por milagre, escapa sem nenhum arranhão. E não é só, o cara ainda descobre que tem exatamente os mesmos poderes que Jesus Cristo, como ressuscitar os mortos e transformar água em vinho.
Daí para frente, todos começam a se questionar se ele realmente é a reencarnação do messias cristão. Mas como seus pais irão reagir a tudo isso? E o próprio Jody? Será que ele tem consciência das experiências que está prestes a viver?
Bem interessante e imagino que você se empolgou, certo? Pois esfrie a cabeça, porque na teoria é bonito, mas na prática, a coisa não saiu como deveria. Para começo de conversa, tudo acontece muito rápido e não há tempo para divagações (que enriqueceriam demais o texto se aparecessem com sabedoria). Quando você percebe, já terminou o gibi e a maioria das suas dúvidas não foram respondidas. Ainda por cima, seguindo o clichê máximo desse tipo de obra, temos um final em aberto que deixa a última reflexão a cargo do leitor. Ok, em alguns roteiros isso poderia funcionar, mas não é o caso aqui. Fica claro que Millar quis implementar uma grande reviravolta e perdeu a mão tentando soar “cool”, com um desfecho bem bizarro.
Uma grande prova desse desespero de Mark em parecer um cara antenado é o fato de encher as falas dos personagens principais com palavrões. Tudo bem, no meu dia a dia, uso várias palavrinhas feias, não tenho preconceito, mas espera aí, estamos falando de garotos com 12 anos de idade com uma certa estrutura familiar e não uma geração perdida crescida na periferia em meio a brigas de traficantes como apresentado no brilhante Cidade de Deus. Nesse contexto, os diálogos soam forçados e artificiais demais.
Para complementar o clichê, o artista Peter Gross, enche as páginas com referências religiosas escondidas, desde crucifixos, até o 666 e misteriosas sombras do personagem principal que, quando aparecem, acabam revelando uma grande surpresa antes da hora, basta prestar atenção.
Por falar nos desenhos, o traço de Peter Gross é bom, mas nada de excepcional. No geral, seus personagens são simples, sem muitos detalhes, alguns quadros parecem até que foram feitos às pressas e seu estilo também não é dos mais marcantes.
Mas então Chosen é ruim? Não, ele só não é o clássico absoluto que tanto o autor, quanto a editora alardeiam e este é o principal problema, pois gera uma expectativa falsa que nunca é correspondida. Com tantas histórias legais lançadas em um curto período de tempo, a nova obra de Mark Millar é apenas mais um gibi nas bancas e ainda tem o lance de explorar um tema batido e com desenhos medianos.
Para complementar o salto alto, os caras ainda colocam uma entrevista com Gross e Millar, onde realmente tratam Chosen como algo revolucionário e pior, uma suposta troca de e-mails entre o autor e a Dark Horse Comics que, como tudo nesse álbum, soa forçado. Tem também um posfácio escrito por um pastor que chega a ser cômico.
A edição brasileira da Mythos também irrita em vários aspectos. O papel e a encadernação são péssimos. Em três dias, minhas folhas já estavam descolando e não sou daqueles caras descuidados com HQs, basta dar uma olhadinha na minha coleção com exemplares bem velhos.
Não sei se foi idéia da editora brasileira ou da original estadunidense, mas a história está cheia de referências e notinhas que subestimam a capacidade do leitor. Maldita mania de entregar tudo mastigadinho! Basta um dos personagens citar (sempre de forma artificial, lembre-se) algum programa dos anos 80 ou alguém como Muhamed Ali, que já colocam uma nota de rodapé pentelha explicando detalhadamente quem ou a o que se refere tal citação e lógico, isso quebra o ritmo da narrativa, além de, na maioria das vezes, tratarem de informações absolutamente inúteis.
Se você curte temática religiosa e não está saturado do assunto, talvez goste de Chosen (vá sem grandes expectativas para não se frustrar), mas se já não suporta mais a exploração do assunto, busque outra coisa. O mercado está cheio de outros produtos de qualidade, mesmo que sejam reedições.