Olha o pôster aí do lado. “Uma ficção científica, política e apocalíptica”. Viu lá? E saca só a sinopse oficial: “Tiros em um baile black na periferia de Brasília ferem dois homens. Um terceiro vem do futuro para investigar o acontecido e provar que a culpa é da sociedade repressiva”.
Pô, parece legal, não? Uma versão brasileira de filmes que usam a ficção científica para abordar temas sócio-político-econômicos. Pensei em algo tipo O Preço do Amanhã, bem na linha daqueles filmes que a gente tanto gosta aqui no DELFOS.
Pelo bigode da lontra mutante, delfonauta! Nunca, na história do cinema, um filme se vendeu tão mal quanto este. Eu fui esperando uma coisa mais nerd, uma diversão inteligente, por assim dizer, e fui recebido com um filme obtuso daqueles que costumam ser estudados em faculdades de comunicação. Pense em Glauber Rocha e o seu Terra em Transe para ter uma ideia. E se você nunca ouviu falar em Glauber Rocha, considere-se um abençoado entre os nerds, pois é tudo que a gente não gosta no cinema.
Quer saber do que se trata? Pois bem, aqui conhecemos dois personagens principais. Um deles é cadeirante, e o outro não tem uma perna. Há também um terceiro, que é o tal do viajante do futuro, mas ele mal aparece.
Não espere diálogos, helicópteros explodindo e nem mesmo o tal tiroteio que a sinopse nos promete. Nada acontece aqui. As cenas são planos longos do personagem olhando para o nada. O cadeirante passa boa parte das suas cenas falando em um microfone, enquanto o outro faz muita narração em off.
São pouquíssimas as cenas que envolvem mais do que um ator. E um tema se repete com frequência: o cadeirante tem dois daqueles elevadores para cadeira de rodas, um para subir até sua casa e um para a escada de dentro da residência. Você sabe do que falo, são aqueles elevadores extremamente lentos e bastante barulhentos. Pois pelo menos 1/3 dos 90 minutos do filme envolve o sujeito subindo e descendo dos elevadores. Tem hora até que estamos acompanhando o outro personagem, daí corta para o elevador, sem falar ou acontecer mais nada e corta de novo para o outro sujeito. Por que tanta repetição? Por que mostrar todo o tempo que ele passa em cada viagem no elevador? Por que eu faço tantas perguntas?
Pois é, o filme tem apenas 90 minutos, mas são 90 minutos intermináveis. Temos aqui uma nota zero diferente dos filmes que costumam receber esta honra. Normalmente o que leva zero por aqui são aqueles longas extremamente comerciais, comumente estrelados pelo Jim Carrey ou Jack Black.
Branco Sai, Preto Fica não é comercial. É totalmente o oposto. É nada mais do que um espetáculo de tédio. Um filme que finge ter muito a dizer, mas que termina sem dizer nada. Não tenho dúvidas que existe um público para longas como este, mas este público é formado quase que exclusivamente por professores de semiótica. Se você não se encaixa nessa descrição, fuja dele como o Cascão foge de chuva!