Batman: Arkham Origins

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Em muitos aspectos, a excelente série Arkham do Batman lembra a também excelente série Uncharted. São duas séries de gêneros diferentes, mas vejamos. Uncharted começou com um jogo surpreendentemente divertido e que fez um sucesso considerável. O mesmo pode ser dito de Batman: Arkham Asylum. Uncharted 2 melhorou tudo o que o original tinha de bom e aumentou o escopo de tal forma que se tornou um dos melhores jogos da geração. Batman: Arkham City também fez isso, e mostrou que jogos de heróis de HQs podiam, sim, estar entre a nata dos games.

Por fim, Uncharted 3 se perdeu um pouco na sua tentativa de ser um filme e acabou oferecendo um mais do mesmo, ainda divertido, porém bem abaixo da expectativa. Nesta resenha, eu explicarei porque esta mesma descrição também se encaixa em Batman: Arkham Origins.

BATMAN: ANO TRÊS

Arkham Origins acontece antes dos dois jogos anteriores, quando Bruce Wayne ainda estava no seu terceiro ano de se fantasiar como um morcego fetichista. Com isso, a história se dá a liberdade de reimaginar o primeiro encontro do morcegão com alguns de seus principais aliados e inimigos. O Coringa, por exemplo, será encontrado pela primeira vez no decorrer do jogo, e a aliança com James Gordon verá aqui sua gênese.

Na história, o vilão Black Mask coloca uma recompensa de 50 milhões de dólares para que um de oito assassinos mate o Bátima na véspera de Natal. Claro, o herói poderia simplesmente se esconder e esperar a noite passar, mas daí ele não seria um herói, uma vez que os oito psicopatas vão fazer de tudo para atrai-lo para suas armadilhas.

Dentre os oito caçadores, temos alguns personagens conhecidos, como o Bane, e outros que, admito, eu nunca tinha ouvido falar, como Shiva e Firefly. Outros vilões que não fazem parte dos oito caçadores também aparecem, como o Pinguim e, claro, o Coringa, que acaba se tornando, obviamente, o principal bandidão da história.

Boa parte das vozes parecem ser as mesmas dos jogos anteriores, mas as duas mais importantes foram trocadas: Batman e Coringa. O Batman, cá entre nós, não fez diferença nenhuma. O novo ator é bem parecido com o original e faz um bom trabalho. Se eu não soubesse que mudou, acharia que é o mesmo. Já o Coringa não faz feio, mas está muito longe do brilhante trabalho de Mark Hamill, que para mim é o palhaço do crime definitivo.

Mesmo assim, é o Coringa que rouba a cena sempre que aparece. Não posso deixar de comentar um momento próximo ao final do jogo que achei simplesmente sensacional, então se quiser evitar spoilers, pule o próximo parágrafo.

Em determinado momento, Batman vai lutar contra Bane, e o Coringa se prende em uma cadeira elétrica. A cadeira está conectada ao coração de Bane, e a cada batida do músculo, será carregada. Em outras palavras, alguém vai morrer. Ou Bane mata o Batman, ou Batman mata o Bane para salvar o Coringa ou, é claro, se Bane continuar vivo, o Coringa morrerá eletrocutado. O fato de o palhaço ter se colocado nessa situação por vontade própria é exatamente o que deixa tão legal. Em outro momento, o Coringa está caindo de um prédio, Batman o pega ainda no ar para salvá-lo e a primeira reação do palhaço é dar um soco no morcegão.

Momentos assim valem a história, mas Arkham Origins ainda tem muitos outros predicados.

O MELHOR COMBATE DA GERAÇÃO

Cara, eu adoro o combate da série Arkham. É cada vez mais raro um jogo em que as lutas são feitas na mão e não com espadas ou outro tipo de armas e os jogos do Batimão estão anos luz à frente mesmo de outros jogos que fazem isso muito bem, como Sleeping Dogs.

O combate é ritmado e poderoso, com cada toque no botão derrubando um inimigo e, a cada determinado número de golpes bem sucedidos, o jogador tem a possibilidade de desferir um poderosíssimo golpe que derrota de uma vez qualquer um que estiver em pé, todos que estiverem caídos, destrói as armas mais perigosas dos adversários ou simplesmente os deixa tontos.

Parece até covardia, e é mesmo, afinal, você é o Bátima, e quatro ou cinco caboclos não são páreo para você. Porém, em muitos momentos a luta é contra dezenas de inimigos, e se você fizer tudo direitinho, ainda assim pode vencer em um único combo sem tomar nenhum golpe. Ver seu contador de golpes aumentar para mais de 150, com os movimentos em câmera lenta e os bandidos morrendo de medo de você e implorando para sobreviver é uma das sensações mais pintudas da história dos games, e provavelmente o mais próximo que podemos chegar de ser o Batman.

Assim como nos jogos anteriores, tem alguns tipos de inimigos diferentes, que afetam o combate. O artista marcial, por exemplo, sabe contra-atacar seus golpes e faz sequências de ataques. Tem também os enforcers, que substituem os titãs de outrora, e os venom users, que parecem mini-Banes.

PREDADOR – MAS SEM O SCHWARZENEGGER

O outro pilar da jogabilidade é o predador, nome dado a quando você chega a uma sala com vários caras carregando armas de fogo. É perigoso demais sair na porrada, então o jeito é ir para o stealth. Mas aí Arkham Origins traz uma proposta diferente.

Se, nos jogos anteriores, o objetivo era mostrar para os inimigos que você estava lá, caçando um a um, inclusive com bônus de experiência quando eles ficavam aterrorizados, aqui o foco é em um stealth mais puro. Ainda é possível fazer coisas como desativar a arma à distância e aparecer na frente do sujeito enquanto ele tenta atirar em vão, mas o jogo te recompensa (em troféus e experiência) se você conseguir caçar todos sem revelar sua presença.

Particularmente, achava mais legal e mais único da forma anterior. Era muito legal chegar na sala com os caras se fazendo de machões e, quando sobrava só um, o sujeito estar aos prantos, implorando por misericórdia. Aqui, se isso acontece, você ganha menos experiência, o que se reflete em menos upgrades, então vai acabar usando mais o famoso silent takedown mesmo, que derrota os inimigos silenciosamente, ao invés de ficar pendurando eles em gárgulas e deixá-los lá gritando para assustar os outros.

Outra coisa que é muito legal na série Arkham é a movimentação. É extremamente empolgante voar como o Batman pelos telhados de Gotham City. Aliás, eu diria que é a melhor movimentação de um jogo de mundo aberto que eu conheço, mas em Origins parece mais limitado do que em Arkham City.

Parece que aqui o herói não pode mais usar a batclaw para se prender aos telhados mais altos, mas não existe nenhum sinal visual de quais telhados você pode usar, a não ser o prompt de R1 quando você se aproxima. Assim, é comum o jogador ir na direção de um prédio pronto para usar a garra e acabar dando com a fuça na parede. Mas, ei, morcegos são cegos, né?

UM JOGO GORDO

Arkham Origins é uma prequência. E, se isso traz bons momentos, como ver o primeiro encontro do Batman com o Coringa, também traz suas armadilhas. Por exemplo, em determinado momento, o mordomo Alfred corre sério risco, mas o jogador sabe que ele aparece nos jogos anteriores (ou posteriores, dependendo de como você esteja contando), então ele é tão invulnerável como uma criança em Hollywood, eliminando totalmente a sensação de perigo.

O principal problema, no entanto, não é esse. Assim como nos jogos anteriores, Arkham Origins sofre de encheção de linguiça aguda. A campanha principal é excelente, ainda que sem grandes novidades, mas praticamente todo o resto que está no jogo detrai do que poderia ser uma grande experiência.

É desnecessário dizer, mas novamente temos o Charada e suas centenas de colecionáveis pentelhos. Além do número exagerado, ainda rola aquele problema de você passar pelo lugar, ver o trocinho e ficar um tempão pensando como pegá-lo, apenas para descobrir 15 horas depois que você não tinha o equipamento necessário. Isso por si só já é ruim, mas o jogo poderia respeitar o jogador o suficiente para aparecer uma mensagem dizendo “você ainda não tem o equipamento para pegar isso, volte mais tarde”.

Eu sinceramente já estava de saco cheio do Charada quando joguei Arkham Asylum e o fato de o jogo ainda continuar com isso é algo que me surpreende muito. Não consigo imaginar alguém dizendo, com empolgação, que vai rodar Arkham Origins para pegar coisinhas do Charada. Quem se submete a isso são os completistas e obsessivos. Como eu. Mas a gente não se diverte fazendo. =P

O Charada não é a única gordura, no entanto. Em Arkham City, as sidemissions eram todas muito legais, mas aqui elas tiveram um cuidado muito menor. Basicamente, elas envolvem destruir coisas espalhadas pelo mapa, o que acaba colocando todas elas no mesmo naipe da do Charada.

A única que é diferente disso, e é um dos melhores momentos do jogo, é a sidemission do Chapeleiro Louco, que coloca o jogador num cenário 2.5D inspirado no País das Maravilhas. Essa realmente vale a pena.

Para você ter uma ideia do desespero da desenvolvedora em “engordar” o jogo, após terminar a história o Gordon entra em contato para pedir para você capturar 20 caboclos espalhados pelo mapa. Isso é basicamente andar pelo mapa inteiro e lutar contra 20 grupos de inimigos. Não acrescenta nada à diversão ou à experiência, mas acrescenta uma hora a mais de jogo. A questão é por quê?

E já que falamos de coisas incompreensíveis, chegamos ao…

MULTIPLAYER

Eu realmente me surpreendi quando vi na caixinha que tinha multiplayer. Se há um jogo que não precisa de multiplayer, aqui está ele. E admito que eu não tinha interesse nenhum em testar, e o fiz apenas para escrever a resenha.

Depois de cerca de meia hora esperando para começar uma partida, eu surpreendentemente me vi jogando com o Batman. Um outro jogador era o Robin e os seis restantes se dividiam como lacaios do Coringa ou do Bane.

Pelo que entendi, cada um dos três times deve atacar os outros dois. Os heróis devem preencher um medidor de intimidação, mas cada vez que são mortos, o medidor decai muito. Os bandidos, por outro lado, estão em algo mais próximo do mata-mata de um team deathmatch.

Como o Batman, eu conseguia vencer qualquer jogador imediatamente, desde que conseguisse me aproximar dele sem ser visto. Foi bem legal quando eu estava escondido num cano e um carinha passou acima de mim, apenas para ser taken down. Imagino o quanto ele deve ter me xingado. Porém, achei bem difícil fazer isso, e o Batman morre rapidinho com os tiros dos vilões.

Durante a partida, no entanto, apareceu o Bane. Tive a impressão que ele estava sendo controlado por um jogador. Deve ser um power up parecido com o Big Daddy de Bioshock 2, mas isso não ficou claro para mim.

Após a partida, tentei jogar outras vezes, bem como testar o outro modo de jogo, Hunter Hunted, mas não consegui mais encontrar outras pessoas jogando. Obviamente, um jogo focado no single player nunca vai ter o mesmo quórum de um Call of Duty e este foi um dos mais desérticos que eu já experimentei. Não duvido que daqui a uns poucos meses seja totalmente impossível encontrar uma partida.

OU VOCÊ MORRE UM HERÓI OU VIVE ATÉ VIRAR VILÃO

Eu ainda me diverti muito com a campanha de Batman: Arkham Origins, mas a quantidade de gordura diminuiu consideravelmente minha diversão. Fosse um jogo mais em forma, que focasse mais no que tem de bom e menos em colecionáveis e em um multiplayer vazio, teria levado uma nota melhor.

Ainda assim, admito que me surpreendi com as notas baixas que ele tem levado mundo afora. Eu ainda recomendo a compra pelo que ele tem de bom, mas espero que um eventual próximo jogo pare de forçar um aumento de duração. Mais vale um jogo curto, intenso e divertido do que outro em que você fica entediado em 50% do tempo.

CURIOSIDADES:

– A versão nacional de Arkham Origins vem com um código para download em que você pode baixar a roupa do Batman Barriguinha. Legal, né?

– É a primeira vez que eu vejo isso, mas o código em questão funciona APENAS na PS Store brasileira. Normalmente eu uso todos os meus códigos na minha conta principal, dos EUA, mas dessa vez eu precisei criar uma conta brazuca para poder usar o DLC.

– Segundo um adesivo colado na caixa, Arkham Origins é totalmente em português e tem os mesmos dubladores da trilogia do Batman no cinema. No entanto, eu não consegui descobrir como ativar isso. Meu jogo ficou em inglês e nos menus não tinha nenhuma opção para mudar o idioma. Admito que eu fiquei aliviado, pois tinha medo de ser obrigado a jogar a versão dublada, mas se você prefere a dublada, não posso dizer com certeza se ela está presente mesmo no disco ou se aconteceu como rolou com Beyond: Two Souls.

OUTRAS BATMATÉRIAS DE INTERESSE:

Os batfilmes:

Batman: Dead End
Batman Begins
Batman – O Cavaleiro das Trevas
Batman – O Cavaleiro das Trevas, em Imax
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge
Os extras do DVD de Batman Begins

Os batgames, batséries televisivas e batvariedades:

Batman: Arkham City
Batman na TV – Parte 1
Batman na TV – Parte 2
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A batliteratura:

Batman: Asilo Arkham
Batman: A Piada Mortal
Batman: O Cavaleiro das Trevas
Dicionário do Morcego
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Batman Crônicas – Volume Um
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Batman: Terra Um

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
batman-arkham-originsAno: 2013<br> Plataforma: PS3 e Xbox 360<br> Fabricante: Warner Bros. Montreal<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Warner Bros. Interactive Entertainment<br>