Quando alguém comenta sobre os gibis do Batman, são sempre três as estórias citadas como clássicos absolutos: O Cavaleiro das Trevas, Asilo Arkham e A Piada Mortal, todas publicadas nos anos 80.
Sobre o Asilo, eu mesmo escrevi a resenha do DELFOS e agora vou falar um pouquinho sobre A Piada Mortal, o confronto definitivo entre Batman e seu algoz, o Coringa.
Antes de comentarmos sobre o gibi propriamente dito, vamos relembrar algumas das mudanças ocorridas com o morcegão nos anos 80. O personagem Batman foi criado por Bob Kane em 1939, mas suas estórias, nas primeiras décadas de existência, nunca foram vistas como algo verdadeiramente sério. O Batman era um personagem divertido e que vivia sempre situações absurdas nas mãos de seus inimigos egocêntricos, tudo recheado de muito humor e diversão. Basta você se lembrar da exagerada série dos anos 60 com o Batman barrigudo (interpretado por Adam West) e vilões totalmente caricatos.
A DC Comics, no entanto, sempre se sentiu incomodada com essa abordagem mais cômica do herói e decidiu por uma reformulação total de suas estórias. Essa grande virada na carreira do morcego ocorreu no começo da década de 80 com a publicação do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, onde o escritor praticamente “recontou” o Batman de um ponto de vista mais realista, dando ênfase no lado humano de uma pessoa que vê seus pais serem assassinados e decide combater o crime por conta própria como uma forma de se vingar do passado cruel.
As estórias deixaram de ser bobinhas e engraçadinhas e passaram a ter uma atmosfera totalmente sombria, com muita violência e contando com uma profunda exploração do lado psicológico dos heróis e vilões (como pudemos conferir em Asilo Arkham).
O sucesso do Cavaleiro das Trevas foi tão grande que Miller foi contratado pela DC para escrever a série Batman: Ano Um, a nova HQ mensal que recontaria, baseado nesta premissa mais séria, as origens do herói e seus inimigos, bem como os primeiros anos na vida do defensor da justiça.
A Piada Mortal pode ser entendida como uma prolongação desta linha mais adulta dos gibis. Escrita pelo renomado Alan Moore, a estória nos apresenta mais um confronto do Batman contra o Coringa, mas desta vez o herói não quer apenas mandar o inimigo novamente para o Asilo e sim entender o porquê da existência de tanto ódio entre os dois.
O que Batman não sabia, é que o Coringa mais uma vez havia fugido do Asilo Arkham, só que sua vingança não estava voltada para o homem morcego, mas para o comissário Gordon e sua filha Bárbara (a Batgirl).
Para se ter uma idéia das atrocidades cometidas pelo palhaço do crime, a Piada Mortal é a estória em que o Coringa humilha Gordon de tal maneira que chegamos a pedir clemência para o vilão a cada quadrinho lido, sem contar que ele deixa Bárbara aleijada em uma cadeira de rodas para sempre.
Paralelamente a essa luta, vemos a conturbada vida de Jack Napier, um jovem artista de circo desempregado com a esposa grávida que começa a se preocupar se poderá dar uma vida decente à sua família. Mas tudo muda quando Jack perde sua esposa em um terrível acidente e se vê envolvido com criminosos da pior espécie. O quê? Mas você não sabe quem é Jack Napier? Bom, então é melhor ir correndo comprar A Piada Mortal porque essa parte da estória eu não vou contar.
Publicada originalmente em 1988 nos EUA, A Piada Mortal, é daquelas estórias que marcam a vida de muita gente e serviu de inspiração para Tim Burton fazer o primeiro e melhor filme do Batman em 1989.
Essa HQ já foi reimpressa várias vezes aqui no Brasil, mas a Opera Graphica, em um trabalho muito competente, relançou a versão em branco e preto (valorizando demais os desenhos) com capa dura e qualidade acima do normal para nosso mercado. Obrigatório para qualquer fã do Batman e de HQs em geral.