Asterix nos Jogos Olímpicos

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Eu não sou um cara preconceituoso. Por causa disso, é muito difícil eu já ir assistir a um filme tendo decidido antes mesmo de vê-lo que eu iria gostar (afinal, preconceito também pode ser positivo). Porém, eu estaria sendo desonesto se negasse a conexão emocional que eu tenho com os gibis da turminha gaulesa, que tanto alegraram a minha infância, minha adolescência e continuam trazendo sorrisos à minha vida adulta. Essa conexão, é claro, se estende aos maravilhosos filmes que vieram antes desse, que ocupam um lugar especial na minha DVDteca e estão sempre entre as primeiras opções quando eu quero rir um pouco ou ver mulheres lindas (Laetitia Casta e Monica Bellucci, mano!).

Por que eu disse isso? Ora pois, porque Asterix nos Jogos Olímpicos talvez seja o único caso nestes mais de quatro anos de DELFOS que eu fui assistir a um filme já decidido a gostar dele. Pô, tem o Obelix. E o Idéiafix. E o Panoramix. E os romanos. E os… enfim… é melhor parar por aqui antes de listar todos os personagens criados pelos tremendões máximos dos gibis, René Goscinny e Albert Uderzo (para mim os dois ganham até do Stan Lee e do Maurício de Sousa!). Ou seja, ao contrário da maioria dos nerds que contavam os dias para a estréia do Cavaleiro das Trevas, eu fazia isso é para este aqui, que para mim era o verdadeiro grande filme de 2008. Então leia esta resenha tendo em mente que eu sou fanboy de Asterix e, se isso te incomoda, vai ouvir pagode.

A história gira em torno de Apaixonadix e seu amor pela princesa grega Irina (Vanessa Hessler – linda, mas não chega aos pés das beldades dos filmes anteriores). O problema é que ela está prometida para Brutus (o filho de Júlio César, manja?) e, diante do dilema, acabam decidindo que a mão da moçoila irá para o mancebo cujo país ganhar os Jogos Olímpicos. Assim, Apaixonadix não vê outra opção a não ser recrutar seus miguxos Asterix, Obelix e, é claro, o essencial fofachorro (um fofo cachorro) Idéiafix.

Pois é, ao contrário do segundo filme, Asterix e Obelix: Missão Cleópatra, este não é uma adaptação literal do gibi de mesmo nome (o anterior repete até os diálogos). Na verdade, eles basicamente pegaram o conceito da HQ de mandar nossos gauleses preferidos para as Olimpíadas e encaixaram isso na tradicional formulinha hollywoodiana de filmes de esporte que passam na Sessão da Tarde, mantendo apenas uma ou outra cena da versão impressa. E isso foi o que arrancou violenta e dolorosamente toda uma metade do quinto Alfredo e impediu que o Selo Delfiano Supremo ilustrasse esta página.

O problema principal é que temos muito pouco Asterix e Obelix por aqui. O vilão Brutus e até o Apaixonadix parecem ter mais destaques do que os heróicos tremendões bigodudos (repare quanto tempo eles demoram para aparecer pela primeira vez, por exemplo). E convenhamos, poucos personagens são mais divertidos, carismáticos e engraçados do que o Obelix. E os filmes anteriores perceberam isso e deram ao cara o destaque que ele merece. Destaque que, infelizmente, ele não tem aqui. E, é claro, as cenas em que aparece são justamente as melhores do longa.

O orçamento de 200 milhões de dinheiros do tio Sam se faz notar. Se nos longas anteriores, em especial no primeiro, vê-se que a turminha conseguiu fazer muito com pouco, aqui a história é outra. O visual é polido como qualquer blockbuster estadunidense. Todos os cenários são lindíssimos e as roupas são exatamente iguais às do gibi, sem tirar nem pôr. Se os outros filmes já eram visualmente parecidos com sua versão literária, aqui o nível de semelhança chega quase ao de um Sin City. E isso é ótimo!

Falemos então das atuações. Gérard Depardieu dispensa comentários. Qualquer um que já viu o cara no papel sabe que ele é o Obelix, sem tirar nem pôr, e consegue captar toda a inocência e o carisma do personagem. Já o novato Clovis Cornillac substitui Christian Clavier no papel de Asterix e até manda bem. Só que visualmente ele me lembra o Bruno Sanchez e, sei lá… eu nunca pensei no Bruno como um possível Asterix. =)

Júlio César também teve um intérprete diferente em todas as suas encarnações. Desta vez, ficou a cargo de Alain Dellon, que talvez seja o mais parecido de todos com o personagem dos quadrinhos. Panoramix e o resto do pessoal da aldeia também ganharam novos atores e todos ficaram melhores do que no passado. O destaque especial vai para a esposa de Veteranix, que não tinha aparecido antes e é extremamente buga-bugueável simpática.

Para deixar o filme mais pop, ele também conta com alguns astros convidados, como Michael Schumacher, Zinedine Zidane e um caboclo que joga basquete que eu não sei quem é. O primeiro até tem um contexto, mas os outros dois estão muito enfiados e o filme ficaria melhor sem a presença deles, que parece mais propaganda do que parte da história.

Contudo, teve uma participação especial que eu achei bem legal, que é o retorno de um personagem de um dos longas anteriores. Não vou dizer quem é para não estragar a surpresa, mas o legal é que ele até faz uma piada com a mudança do intérprete do Asterix. E posso dizer aqui a mesma coisa que disse na resenha do Cavaleiro das Trevas: pegaram o mesmo ator para aparecer em uma ceninha tão pequena e não conseguiram convencer o Christian Clavier a voltar ao papel de Asterix? Estranho, não?

Apesar de toda a minha fanboyice, posso dizer sem sombra de dúvida que Asterix nos Jogos Olímpicos é muito inferior a seus antecessores, principalmente por ter sentido a necessidade de se encaixar em fórmulas hollywoodianas que já eram velhas e desgastadas há 20 anos. A história dos gauleses nunca precisou disso, por que começar agora? Contudo, o que temos aqui ainda tem alguma semelhança com os gibis e o Obelix ainda é representado por Gérard Depardieu. Então, se você gosta dos quadrinhos, é óbvio que não vai ser um bobo, feio e cabeça de mamão e perder, né? Eu sabia que não! 😛

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
asterix-nos-jogos-olimpicosPaís: França/Alemanha/Espanha/Itália<br> Ano: 2008<br> Gênero: Comédia<br> Roteiro: Thomas Langmann, Olivier Dazat, Alexandre Charlot e Franck Magnier.<br> Artista: Livre<br> Elenco: Gérard Depardieu, Clovis Cornillac, Alain Dellon e Vanessa Hessler.<br> Diretor: Frédéric Forestier e Thomas Langmann<br> Distribuidor: Playarte<br>