2017 está chegando ao fim. Enquanto o ano acaba e nos aproximamos inevitavelmente do especial de natal do Roberto Carlos, das uvas passas socadas até no champanhe e das comemorações em família com requintes de tortura, podemos também olhar para trás e sorrir. Sim, sorrir. Porque este foi um excelente ano para as produções televisivas.
Elegi meus melhores e piores do ano de maneira bem instintiva, sem racionalizar muito, para que esta lista de fato refletisse meu gosto pessoal. E me surpreendi com minhas próprias escolhas. Eu, uma criatura saída das trevas opressoras de Curitiba, que tive um 2017 pra lá de bad vibes, montei meu Top 5 essencialmente com séries de comédia. Tudo bem, uma delas você pode até dizer que não é tão comédia assim, mas a quantidade de humor-negro presente nela é inegável.
Se alguém me parasse na rua e perguntasse se gosto de séries engraçadas, provavelmente eu diria que não. Porque nem eu mesmo tinha essa consciência. Mas, pelo visto, eu curto me acabar em risadas. Então, sem mais delongas, vamos ao que interessa, começando pelo que rolou de pior na minha telinha nestes últimos 12 meses.
D&D – Decepção Delfiana: TWIN PEAKS (Terceira temporada)
Twin Peaks é sempre referenciada como a série que mudou o jeito de fazer séries. Mesmo que suas temporadas originais sejam inconstantes (especialmente a segunda), há muita coisa ali que merece ser admirada. Como o personagem de Kyle MacLachlan, o cafeinômano detetive Dale Cooper, que sustentou a série mesmo em seus piores episódios.
A terceira temporada de Twin Peaks, feita mais de duas décadas após o término da segunda, foi uma aula de como subverter as expectativas. Além de entregar um detetive Cooper em estado vegetativo, acabando com a graça do personagem, o retorno trouxe mais perguntas do que respostas, e não se preocupou em fechar praticamente nenhuma das pontas soltas da temporada anterior. David Lynch fez um trabalho admirável em alguns episódios, é verdade, mas o saldo geral não foi muito mais que decepcionante.
Menção Horrorosa – o pior do ano: OS DEFENSORES (Primeira temporada – e por mim seria a última)
Eu me recuso a entrar nesse assunto de novo. Se você quer saber o que achei de Os Defensores, pode ler este tratado de 250 páginas que escrevi sobre a série. Reconheço que pesei a mão na resenha, e teria sido um pouco menos cruel (e mais sucinto) se fosse escrevê-la hoje. Mas só de lembrar do IMORTAL Punho de Ferro e de todas aquelas cenas de lutinha mal coreografadas eu já sinto vontade de… Não, não. Eu disse que me recuso a entrar nesse assunto de novo.
Menção Honrosa: FEAR THE WALKING DEAD (Terceira temporada)
As primeiras duas temporadas do spin-off de Walking Dead foram bem mais ou menos. Tanto que eu já não tinha fé de que algo bom pudesse sair da série. Entretanto, a AMC parece ter percebido que estava indo pelo caminho errado e deu uma boa revolucionada em seu produto, tanto estética quanto narrativamente.
A série deixou de usar aquele filtro escroto que deixava todo mundo com a pele amarelada, começou a fazer uso de uma câmera mais criativa e entregou alguns dos melhores episódios de todo o universo Walking Dead até agora. Tudo bem que a segunda metade da temporada não foi lá essas coisas, mas só a ousadia de terem matado um dos protagonistas logo no início do segundo episódio já fez valer essa menção honrosa.
5 – THE GOOD PLACE (Segunda metade da primeira temporada e primeira metade da segunda – que foi o que saiu este ano)
Eu demorei para ouvir falar dessa série, e gostaria de tê-la descoberto antes. The Good Place acompanha a experiência pós-morte de Eleanor Shellstrop, uma mulher que é enviada por engano ao Paraíso e precisa fazer de tudo para que a administração do lugar não perceba que cometeu um engano. Com boas atuações e um roteiro filosófico na medida certa, The Good Place também ganha pontos por seus episódios rápidos e certeiros, com pouco mais de 20 minutos de duração cada. Sem contar que o final da última temporada rearranja completamente a série, levando-a para outro caminho – uma decisão tão arriscada quanto genial.
4 – DESVENTURAS EM SÉRIE (primeira temporada)
Eu tinha um pé atrás com a nova adaptação da série de livros de Lemony Snicket. Gosto bastante do filme de 2004, aquele com o Jim Carrey, e até hoje fico decepcionado por terem desistido de produzir as sequências. Porém, a Netflix ouviu o meu choramingo e, anos depois, deu à luz uma de suas melhores produções. Desventuras em Série – a série – não apenas conseguiu superar o filme de 2004, como me lembrou de todos os motivos pelos quais a obra-prima de Snicket é melhor do que qualquer Harry Potter. E a atuação de Neil Patrick Harris como Conde Olaf quase me fez esquecer da interpretação de Jim Carrey. Quase.
3 – BIG MOUTH (Primeira temporada)
A Netflix tem produzido excelentes animações adultas, como F is for Family e BoJack Horseman – que por muito pouco não entraram nesta lista. Mas aquela que mais me impressionou por sua qualidade, este ano, foi Big Mouth. Com piadas rasteiras e um roteiro politicamente incorreto, a animação tira seu humor do período mais inglório da vida humana: a puberdade, metafórica e brilhantemente representada pela figura de Maurice, o Monstro do Hormônio (esse demoniozão aí em cima). Se você já foi adolescente alguma vez na vida, será impossível não se identificar com as constrangedoras situações abordadas pela animação. Pelo menos agora podemos rir do inferno que foi aquela época.
2 – HATERS BACK OFF (Segunda temporada)
Sabe quando você odeia algo sem motivo? Era assim que eu me sentia quando cruzava com a capa de Haters Back Off na Netflix. A foto daquela garota de batom borrado e sorriso torto me dava uma agonia, e eu pensava que aquele devia ser o pior seriado do catálogo. Até o dia em que parei para ver o trailer. Não parecia tão ruim assim, e decidi me arriscar a ver o primeiro episódio.
Para resumir a história: Haters Back Off é uma das coisas mais engraçadas que assisti na vida. Todos os personagens, com exceção de um, são completos otários. Eles não se importam com ninguém, são burros como uma porta e não raramente cometem absurdos dignos de um episódio de Family Guy.
A ironia é que descobri, após terminar de assistir à serie, que Haters Back Off é uma das produções mais mal avaliadas da Netflix. Parece que ninguém entendeu a proposta do programa, e acredito que dificilmente veremos uma terceira temporada. Uma pena, porque Miranda (a débil-mental de batom vermelho) alegrou muito os meus dias nos últimos meses.
1 – PREACHER (Segunda temporada)
Se você prestou atenção até aqui, talvez tenha percebido que geralmente coloco umas tantas ressalvas antes de fazer qualquer elogio. E com Preacher não será diferente. A primeira temporada foi insossa, muito aquém do que eu esperava. O último episódio, em especial, me deu uma crise de vergonha alheia como nunca tinha sentido (sim, estou falando daquela cena da teleconferência com Deus).
Mas, assim como fez com Fear the Walking Dead, a AMC investiu pesado nessa segunda temporada e entregou uma avalanche de episódios uns melhores que os outros. Da fenomenal e hilária origem de Herr Starr ao épico confronto entre Jesse e o Santo dos Assassinos, passando por aquela improvável morte do último episódio e todo o arco envolvendo o Cara de Cu e Adolf Hitler, tudo nessa segunda temporada foi absolutamente genial, e minhas expectativas para o terceiro ano não podiam estar maiores.
E para você, delfonauta, quais foram as séries mais marcantes de 2017? E as mais decepcionantes? Teve alguma que fez você querer jogar o controle na TV? Em quais você apostaria suas fichas para 2018? Vamos, vamos. Conte-nos tudo, não nos esconda nada. Esses comentários aí embaixo não irão se escrever sozinhos.