Animais Fantásticos e Onde Habitam

Desde que o bruxinho favorito de todo mundo, Harry Potter, pendurou a varinha, todo mundo andava saudoso do universo criado por J.K. Rowling. Especialmente a Warner, que ficou sem uma de suas franquias mais lucrativas. Pois para suprir a carência dos fãs, e a sede de verdinhas do estúdio, resolveram adaptar para o cinema Animais Fantásticos e Onde Habitam.

Antes um livro complementar ao universo de Harry Potter, sua transição para o cinema aposta na força de uma franquia já bem estabelecida, ao mesmo tempo em que possui méritos próprios para, apesar de ser um spin-off, caminhar com as próprias pernas, angariar novos fãs que não necessariamente acompanhavam as aventuras da turminha de Hogwarts e dar origem a novos filmes dentro deste universo. Eu diria que ele foi bem-sucedido em tudo isso.

Passados 70 anos antes da história de Harry Potter começar, acompanhamos aqui a chegada de Newt Scamander (Eddie Redmayne) à Nova Iorque do ano de 1926. Além de ter um dos nomes mais legais de todos os tempos, Newt Scamander é um colecionador e protetor de animais mágicos e vai até a terra do Tio Sam com o objetivo de ajudar um deles.

Contudo, as coisas andam meio caóticas por lá, pois há indícios de que uma criatura mágica anda atacando a cidade, o que pode causar problemas para a delicada relação entre os bruxos e os trouxas (ou não-majs, como os estadunidenses os chamam) e a chegada de Newt Scamander (vamos lá, diga o nome em voz alta, é divertido!) e seus bichinhos fujões vão colocá-lo na mira das autoridades mágicas locais, fazendo-o viver altas aventuras.

A melhor notícia de Animais Fantásticos é que ele se sustenta por si só. Claro, ele está recheado de referências à saga que o originou. Seja de locais, magias ou pessoas, há muitas citações e os fãs certamente se divertirão com cada uma delas. Para quem nunca viu ou leu nada de Harry Potter antes, ele serve como uma nova porta de entrada, visto que é uma nova história com começo, meio e fim (embora, como todo filme com potencial para franquia hoje em dia, já deixe várias pontas para serem desenvolvidas em futuras produções) e pode ser assistido numa boa por quem não sabe nada sobre esse universo.

Nada melhor do que dar um exemplo: eu já era velho quando os livros de Harry Potter começaram a sair no Brasil. Então não entrei na onda. Quando começaram a ser adaptados para o cinema, só vi os dois primeiros e não gostei. Isso é tudo que sei desse universo. E admito que fui na cabine apenas por obrigação profissional. Eu devia ser a única pessoa presente que não estava ansiosa para que as luzes se apagassem.

Mas o longa me conquistou desde os primeiros minutos. Não a ponto de me fazer querer ver todos os filmes anteriores que eu não assisti ou de querer ler os livros. Mas eu assistiria aos próximos Animais Fantásticos numa boa. Ei, já é uma grande vitória para Newt Scamander!

Visualmente, o filme é lindo. A ambientação na década de 1920, os efeitos especiais e sobretudo o design dos animais mágicos (a maioria deles extremamente fofinhos) é de encher os olhos. E este é um dos poucos longas onde o 3D realmente vale a pena, impressionando a partir da aparição do primeiro animal. Assim, se tiver chance, assista neste formato.

A história é muito bem conduzida, com clima de aventura de matinê, e o fato dos personagens principais serem adultos dá um tom um pouco mais maduro ao filme. A ambientação escolar era algo que não me atraía em Harry Potter. A construção de Eddie Redmayne para Newt Scamander também ficou bem bacana, com um protagonista introvertido, quietão, que não é a pessoa mais popular de lugar nenhum, mas com uma missão nobre.

Até mesmo a trama surpreende, muitas vezes tomando caminhos melancólicos, especialmente no final, bem ousado para um blockbuster, seguindo um caminho mais triste. Só não entendi, e o filme não explicou, porque os bruxos, que se acham tão superiores aos trouxas, consideram os animais mágicos como ameaças a serem exterminadas.

Não sei se isso é algo que já estava estabelecido no universo de Harry Potter e que consideraram não ser importante reiterar, ou se é algo que será melhor explorado nos próximos filmes, mas considerando a soberba e o nariz em pé da comunidade dos bruxos, esta é uma questão que eu gostaria de entender.

Seja como for, é um pequeno detalhe numa produção grandiosa que conseguiu me conquistar desde os primeiros minutos. Animais Fantásticos e Onde Habitam provou-se um dos melhores e mais divertidos blockbusters deste ano que já se aproxima do fim. E de quebra ainda revive uma das mais queridas e lucrativas franquias recentes, com potencial para vida longa por muitos anos. Já está bom demais. Ah, e antes que eu me esqueça: Newt Scamander!