Borderlands 4 resolveu mudar de temática – e de título. Nessa análise Tiny Tina’s Wonderlands, vou elaborar como ele pega a bola do DLC de Borderlands 2, Tiny Tina’s Assault on Dragon Keep, e cria um jogo completo trazendo tudo que o spin off tinha de bom. E assim se torna ainda mais legal do que a série principal. Bora?

ANÁLISE TINY TINA’S WONDERLANDS

Eu sempre gostei mais de Borderlands pelo humor e pelo roteiro do que pelo gameplay em si. E Tiny Tina’s Wonderlands eleva isso ao cubo, com uma pegada narrativa tão legal, e tão óbvia, que acho estranho que não seja mais usada nos games.

É o seguinte: no mundo sci fi e pós-apocalíptico de Borderlands, a conhecida personagem Tiny Tina está relaxando com três amigos. E o que você faz quando quer relaxar? Exatamente, meu auspicioso leitor: você joga RPG. Tiny Tina é a mestre, e ela preparou uma aventura maior legal para seus coleguinhas. Você é um dos três jogadores, chamado pelos outros de Newbie (Novato).

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Como em um bom RPG de mesa, você vai interpretar seu personagem através da aventura criada pela mestre. E essa aventura vai envolver os estandartes de qualquer outro Borderlands: tiros, números subindo e muitas, muitas armas. Mas agora em um cenário de fantasia.

ANÁLISE TINY TINA’S WONDERLANDS E O NARRADOR NÃO CONFIÁVEL

Esse setup permite que Tiny Tina’s Wonderlands use um dos tropos narrativos que me são mais caros – e ainda mais legal em videogames: o do narrador não confiável. Toda a sua aventura acontece conforme a Tina narra para os jogadores. E se você conhece a personagem, deve se lembrar que ela é bem inconstante. Isso se reflete no excelente roteiro de Wonderlands.

Para melhorar tudo, os outros dois jogadores são muito chatos – no melhor dos sentidos. Eles estão sempre questionando as motivações dos personagens, os cenários e basicamente tudo que acontece. E a Tina modifica sua narrativa de acordo com essas conversas. Assim, acontece de os cenários e os personagens serem modificados conforme ela descreve as cenas. E isso é muito legal!

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Em determinado ponto, os jogadores questionam se uma personagem na verdade é malvada. E Tina responde, brava, “não, ela é um doce, vocês realmente deveriam gostar dela”. Ao que o próprio vilão retorna: “ela está forçando muito, é bem claro que vem uma viradinha por aí”.

Em um sidequest perto do final da campanha, o quest giver começa a falar sobre o fim do mundo. Mas os jogadores desconfiam de um NPC aleatório e resolvem torturá-lo. Acaba que a Tina tem que improvisar uma aventura para acomodar os jogadores. Quem nunca? Esse tipo de humor metalinguístico é muito minha xícara de chá, e me deixou com um sorrisão durante toda a campanha. Sem falar que o roteiro me fez gargalhar alto muitas vezes, a ponto de que minha filha, que estava em outro cômodo, vinha perguntar “papai, por que você está rindo?”.

AS MENINAS E OS ATORES

E daí como o jogo tem visual de desenho animado, e é uma história contada por uma menina, cheia de arco-íris, unicórnios e outras coisas fofas, ela acabava sentando comigo para assistir. E vivia falando que adorou o jogo, especialmente a Tina.

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É claro que o Claptrap apareceria nessa história. Todo mundo gosta dele!

O roteiro e o humor são praticamente perfeitos, mas são elevados ainda mais pelas excelentes atuações. E Wonderlands tem uma quantidade enorme de atores hollywoodianos. Temos Andy Samberg (de Brooklyn Nine-Nine) e a comediante Wanda Sykes como os jogadores colegas. Tem Will Arnett (de Arrested Development) como o vilão Dragon Lord. Mas o maior destaque não vai para os atores de cinema e TV, mas para a própria Tiny Tina, interpretada por Ashly Burch, voz conhecida dos games (como a Aloy, de Horizon Forbidden West e tantos outros personagens populares).

A TINY TINA DA ANÁLISE TINY TINA WONDERLANDS

Ashly Burch consegue fazer da Tina uma personagem simplesmente adorável. Ela é empolgada, cheia de personalidade, mas a todo momento o roteiro e a interpretação te lembram de que ela é só uma menininha.

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Imagem meramente ilustrativa de uma goblin de saia rosa.

Ela passa muito bem a frustração de quando os colegas questionam o roteiro, e responde como uma menininha responderia. Ela é brava e fica incomodada com os questionamentos o tempo todo, mas faz isso sempre de forma muito fofa.

CORRALES, E O JOGO, PÔ?

Pois é, tem um motivo pelo qual escrevi 700 palavras falando apenas da narrativa. O jogo em si é exatamente o que você espera de um Borderlands 4. Se encaixa perfeitamente naquela velha descrição de “Diablo com armas de fogo“. O jogo é um FPS/RPG que mergulha o jogador em loot.

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It’s raining loot, hallelujah, it’s raining loot, amen!

Como a imagem acima faz você se sentir? Se ver chovendo equipamentos verdes, azuis, roxos e dourados te deixa feliz e animado, este jogo é para você. Para mim, particularmente, quando rola essa chuva de loot – o que rola A TODO MOMENTO – eu fico estressado pensando em quanto tempo vou ter que passar no menu comparando um milhão de estatísticas e decidindo o que usar e o que jogar fora.

Particularmente, eu realmente gostaria de um Borderlands que fosse exatamente como os jogos são, mas no qual as armas não tivessem prazo de validade. No qual pudesse encontrar uma da qual gostasse e ficava com ela no restante da campanha.

RPG DE LOOT

Se você já jogou qualquer RPG como este, já sabe como funciona. Você equipa seu personagem e se sente muito poderoso. Daí, aos poucos os inimigos vão ficando mais fortes, e seu equipamento vai perdendo utilidade. Aí você PRECISA entrar no seu inventário e trocar sua pistola por outra basicamente igual, mas com números maiores. Em alguns casos, você não terá uma pistola com estatísticas apropriadas e vai ser obrigado a usar – o horror – uma escopeta. Este é Borderlands Wonderlands. Você passa tanto tempo em telas como essa aí embaixo quanto atirando nos inimigos. Talvez até mais.

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Praticamente tudo que você vê à direita é a mesma coisa, só que com porcentagens diferentes.

BORDERLANDS SEM LOOT? ME MANDE OUVIR PAGODE!

Eu queria sinceramente poder curtir um Borderlands sem ter que passar por isso. E eu sei que sugerir isso é ainda pior do que sugerir opção de dificuldade em um soulsborne. Afinal, tem gente que adora isso, e isso é uma mecânica na qual toda a jogabilidade está calcada.

Ele até dá opções. Jogar no easy diminui consideravelmente a importância dessas estatísticas. Mas não as elimina completamente. Você ainda vai ter que analisar o loot e trocar seus equipamentos com frequência. Aliás, eu sinceramente não lembro se já tinha isso em Borderlands 3, mas aqui, além das armas, você precisa também administrar armadura, anéis e talismãs. Há cinco slots em que esse tipo de coisa deve ser colocada. Então dá para diminuir a importância e frequência da administração de inventário, mas não eliminar completamente.

ANÁLISE TINY TINA’S WONDERLANDS E AS NOVIDADES DE GAMEPLAY

Uma coisa bacana é que Tiny Tina’s Wonderlands é menos “mundo aberto” do que os anteriores. Não há mais veículos, todos os mapas são basicamente dungeons. A área que serve de hub é, aliás, a coisa mais charmosa do jogo.

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Um tabuleiro “físico”.

Lembra que o jogo rola em uma partida de RPG de mesa? Então, o hub é um tabuleiro físico, que você explora com câmera isométrica. O tabuleiro é cheio de coisas como salgadinhos e latas de refrigerante, que compõe o cenário e às vezes até afetam os quests. Explorar esse tabuleiro dá à aventura um bem-vindo sabor de Zelda. E isso me agrada muito mais do que ficar dirigindo de um ponto a outro de um enorme mapa vazio. Inclusive, eu gostaria que mais do jogo acontecesse no tabuleiro.

O TABULEIRO E O RUN AND GUN

O tabuleiro é apenas exploração. Se você encostar em um inimigo, será levado a uma arena onde deve vencer dezenas de meliantes antes de voltar à aventura. Tem também alguns colecionáveis que envolvem entrar em pequenos dungeons que são também uma sequência de arenas contra inimigos aleatórios em um punhado de cenários randomizados.

Boa parte dos quests do tabuleiro te levam a esses dungeons curtos e opcionais, e são a pior parte do jogo. Afinal, os dungeons mais elaborados já têm uma enorme quantidade de arenas contra dezenas de inimigos. E, a meu ver, Tiny Tina’s Wonderlands precisa de menos coisas, não de mais. Particularmente, eu adoraria que mais quests envolvessem explorar o tabuleiro, falar com personagens e resolver problemas. E alguns até têm passos assim, mas todos desembocam em arenas onde você tem que atirar até parar de vir gente, e daí coletar um montão de loot.

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Um montão de loot.

ANÁLISE TINY TINA’S WONDERLANDS E OS DUNGEONS PRINCIPAIS

Todas as missões de história te levam a dungeons que são o mais puro suco de Borderlands. São mapas enormes, talvez até grandes demais, com algumas sidemissions (cerca de quatro por mapa). Se você fizer todas as missões, vai explorar os mapas quase inteiros, e passar várias horas em cada um deles.

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Os mapas são enormes. Eu diria que grandes demais até.

Esse é um ponto que achei bem inconveniente no jogo. Cada um desses mapas levava, sem exagero, quatro ou cinco horas para ser completamente explorado. E duas coisas em Wonderlands são especialmente incompatíveis com a vida adulta.

1 – As arenas voltam a ser repopuladas por inimigos alguns minutos depois que você as limpou.

2 – Só é possível salvar a posição quando você encontra um ponto de fast travel.

O EFEITO DISSO NA PRÁTICA

Tiny Tina’s Wonderlands salva sempre que você cumpre um objetivo, faz um upgrade ou mexe no inventário. E tem checkpoints constantes pelo mapa. Porém, se você precisar parar de jogar, vai voltar do último ponto de fast travel ou do início da fase, não do checkpoint. Isso significa que seu progresso será salvo. Mas você vai precisar passar por boa parte do mapa de novo, inclusive por inimigos que já matou antes.

Além disso, o mapa não mostra onde tem pontos de fast travel. Um dia eu estava precisando parar de jogar, e me forçando a chegar em uma área central, de onde saíam cinco ou seis caminhos, onde imaginei que teria fast travel. Fui até lá, explorei a área central e não achei nenhum. Eu precisava parar de jogar, então parei, e quando retomei, voltei ao início da fase. Quando cheguei de novo na área central, vi que tinha um fast travel um pouco à frente de um dos cinco caminhos que desembocavam nela.

Se soubesse da existência dele, teria chegado até lá em alguns segundos e salvado meu jogo. Porém, sem tê-lo marcado no mapa, explorei uma parte e, sem encontrar onde deveria estar (ou seja, literalmente na parte central), acabei abrindo mão de mais de uma hora de progresso.

Por causa disso, Tiny Tina’s Wonderlands é um jogo que deve se beneficiar muito do quick resume do Xbox Series. Mas eu joguei no PS5, e isso atrapalhou bastante, me fazendo parar de jogar antes do que gostaria (pelo medo de não conseguir salvar quando precisasse) ou muito depois. Seria algo facilmente solucionável com um save and quit.

ANÁLISE TINY TINA’S WONDERLANDS E O BANGUE-BANGUE!

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Eu não sei o que tá rolando aí, mas isso é divertido demais!

Eu disse antes que jogo Borderlands pela narrativa, não pelo gameplay. E digo isso especificamente pelo loot e administração de inventário, que não me agradam. Porém, quando as estrelas se alinham, o gameplay é uma delícia!

Eu joguei com a classe de mago, que traz feitiços ao jogo. É algo que nos anteriores seria a ação de classe. Mas como mago, você pode equipar até dois feitiços com cooldown que podem ser usados com L1 e R1. Após alguns upgrades e com os feitiços corretos equipados, dá para eliminar quase completamente o cooldown e usá-los a toda hora.

ANÁLISE TINY TINA’S WONDERLANDS E O ZAP-ZAP!

E mais, cada vez que você usa um feitiço, o mago ganha um buff que pode aumentar coisas como a eficácia das armas de fogo. Então quando você tem o equipamento apropriado para equipar, tudo se junta em uma sinergia deliciosa, que torna o mago uma classe realmente poderosa e divertida de jogar.

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Você deve ter percebido o foco que dei em “estrelas se alinharem” e “equipamentos certos”. Pois aí que tá. Pela forma que Borderlands funciona, você nem sempre estará com o equipamento mais divertido. Às vezes essa sinergia não rola. O feitiço que tem as estatísticas mais apropriadas para o seu nível pode ter um cooldown longo demais, ou não combinar tão bem com o outro feitiço ou com as armas disponíveis no momento. Isso faz com que Tiny Tina’s Wonderlands seja fantástico em seus melhores momentos, mas efetivamente chato em outros. E tudo depende do que você pode equipar naquela hora.

A questão é que tudo nessa série é temporário. Você pode usar equipamentos que te dão munição que recarrega sozinha ou recuperam sua vida. Mas depois de alguns minutos, vai precisar trocar por outros que tenham números maiores, mas talvez não forneçam as vantagens que você gostaria de manter para o restante do jogo.

GRANDES DUNGEONS OPCIONAIS

Também é digno de nota que, além dos pequenos dungeons que são apenas arenas de combate; e dos grandes de história, há também grandes dungeons opcionais. São mapas tão grandes quanto os de história, e você normalmente é levado a ele por uma sidemission que tem um ícone especial. Essa sidemission será a “principal” daquele dungeon, uma missão bem envolvente e com um roteiro bem legal. E daí terá outras sidemissions mais normais e chatinhas, do tipo “colete 15 flores” ou algo parecido.

Mesmo algumas das sidemissions “normais” são bacanas e divertidas. Então não é o caso de fazer apenas as “especiais”, pois daí você pode perder conteúdo legal (como a do NPC suspeito que comentei acima). Particularmente, eu tiraria de Tiny Tina’s Wonderlands todas as sidemissions que só envolvem arenas ou coletar coisinhas, e deixaria apenas as mais elaboradas. Isso deixaria o jogo mais curto, mas com muito menos gordura e, assim, mais divertido em toda sua duração.

Dito isso, é impressionante o cuidado com que esses grandes dungeons opcionais foram feitos. Além de belos e enormes, são histórias legais, com ótimos personagens e piadas. O melhor deles, uma paródia de João e o Pé de Feijão, é melhor até do que os mapas obrigatórios. E tem ótimas missões secundárias além da principal que te leva para o mapa. Entre elas há uma paródia de Don Quixote e uma outra em que você fica pequenininho e explora uma casa enorme.

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Culminando em uma batalha contra um “esqueleto de tamanho normal”.

Eu não diria que vale a pena fazer todas as sidemissions de Tiny Tina’s Wonderlands. Mas vá por mim, o mapa do pé de feijão é um em que você vai querer entrar e limpar, mesmo não sendo obrigatório.

WONDERLANDS É MAIS BORDERLANDS

E digo isso para o bem e para o mal. A essa altura você já deve ter experimentado um Borderlands antes, certo? Com sua narrativa de “narrador não confiável”, tabuleiro e ausência de veículos, eu diria que sim, Tiny Tina’s Wonderlands é o Borderlands mais legal. Tudo que eu gosto da série está aqui, ainda melhor do que era antes (vale ressaltar que o humor é simplesmente fantástico!).

Mas para as pessoas que, como eu, não gostam de missões fillerloot em excesso… bom, isso também está aqui. Como sempre esteve na série. E eu já esperava isso. São coisas que já não me agradavam lá no primeiro jogo, de 2009, e que se mantiveram em todas as continuações. Então acabo encarando essa parte ruim como o preço para curtir as partes boas. E essas são muito boas. Eu sei que muita gente gosta desse tipo de mecânica, com dezenas de sidemissions e centenas de equipamentos equipáveis dropando a todo momento. Se você faz parte desse grupo, simplesmente não há um porém. Tiny Tina’s Wonderlands é muito divertido.

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E eu estou plenamente ciente que esse review explodiu sua cabeça. Cabum!

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