The Gunk. Divulgado nessas apresentações de marketing de grandes eventos como um exclusivo da Microsoft (saindo apenas para Xbox e PC), se destacou para mim sobre os outros “jogos de serviço” que a empresa do tio Gates anda querendo fazer. Não por acaso, aliás, ele não é publicado pela própria Pequenomole, mas pela Thunderful. Introdução feita, comecemos nossa análise The Gunk, essa delicinha que vem encerrar o ano com gostinho de sobremesa.
E3 2021: Apresentação da Microsoft mostra o lado negativo do Game Pass
ANÁLISE THE GUNK
The Gunk é um jogo de exploração e aventura, que coloca duas moçoilas explorando um planeta aparentemente deserto e aprendendo sobre ele. É o tipo de história comum, tanto no cinema (Prometheus) quanto nos games (Journey to the Savage Planet). Eu adoro esse tipo de história e considero que funciona perfeitamente na mídia interativa. Afinal, os games permitem que você ativamente explore um novo planeta e aprenda sobre ele. Aquela velha história do turismo virtual, sabe?
The Gunk é altamente narrativo. As duas protagonistas conversam o jogo inteiro através do rádio, comentando sobre tudo que encontram. Uma delas, o avatar do jogador, se fascina com tudo, sempre comentando “uau!”, “que lindo!” ou “olha só isso!”, enquanto a outra, que fica na base, é altamente negativa e pentelha.
Apesar de todo o roteiro, conversas e atuações, o sabor principal de The Gunk não vem de sua história, mas de sua deliciosa exploração. O jogo traz influências de level design de metroidvanias e de Dark Souls, mas é bem mais linear do que esses. Você sempre tem um caminho correto e um único objetivo. É possível usar fast travel e voltar para áreas anteriormente visitadas, mas não há muito incentivo para isso, uma vez que dá para explorar tudo completamente na sua primeira visita. Particularmente, prefiro assim.
No final das contas, você usa o fast travel apenas para voltar à base, onde pode comprar upgrades e conversar com outros personagens. É uma decisão curiosa. No menu de pausa, você pode ver todos os upgrades disponíveis e os recursos que eles custam, mas só dá para comprá-los de fato na base. Provavelmente o jogo te obriga a voltar lá só para você ter a possibilidade de conversar e elaborar mais a história mesmo.
ANÁLISE THE GUNK E O GAMEPLAY
O gameplay de The Gunk é o de um puzzle plataforma em 3D, com leves temperos de combate. Assim como Kena e tantos outros, aqui você explora um mundo corrompido e deve limpar a corrupção. Ao fazê-lo, plantas nascem, plataformas aparecem e seu caminho se abre. Você sabe como funciona.
A corrupção é representada pelo titular The Gunk, uma meleca que impede a vida e o verde de tomarem conta desse mundo. Pelo menos até você a limpar com seu aspirador. Ou por outras formas. Aí entra o lado puzzle do puzzle plataforma. Em geral você pode só chupar a meleca com sua luva/aspirador. Mas em alguns casos você precisa pensar em como fazê-lo, carregando bombinhas, sementes e outras ferramentas que possibilitam abrir seu caminho.
O COMBATE DE THE GUNK
O combate não é o foco aqui. Existem apenas quatro tipos de inimigos. Dois comuns, que você encontra com frequência, e dois especiais, que você provavelmente vai encarar como chefes. Vencê-los envolve usar seu aspirador de forma específica. O mais simples exige apenas chupá-lo e depois jogá-lo fora.
Em geral mesmo o combate é parte do puzzle. Por exemplo, o segundo inimigo tradicional fica plantado, atirando em você. A única forma de vencê-lo é chegando perto para chupá-lo com sua mãozona. Para fazer isso, você precisa resolver o puzzle, abrir o caminho, e daí vencê-lo é perfeitamente banal. Ele acaba sendo mais um obstáculo tático do que um inimigo, assim como os turrets de Portal.
Os dois chefes são mais envolvidos, mas mesmo assim não chegam perto do que encontramos em jogos semelhantes mais focados na ação, como o próprio Kena.
ANÁLISE THE GUNK E OS PROBLEMAS TÉCNICOS
Apesar de ter uma boa performance, e um visual lindo (é incrível pensar que este jogo foi feito pelos criadores de Steamworld Dig, dado o enorme aumento de escopo), há problemas técnicos graves. Mais de uma vez eu atravessei o chão ou plataformas onde deveria pular, o que causou uma má impressão nas minhas primeiras horas.
Normalmente quando recebemos códigos antes do lançamento, a editora manda uma lista de problemas que serão resolvidos até o lançamento, e The Gunk não é exceção. Porém, os problemas que encontrei na minha campanha não estão na lista de pendências enviadas.
Apesar de isso ter causado uma negativa impressão inicial, acabou se tornando um problema pequeno, resolvido restaurando um save. E o bom é que os autosaves são bem frequentes, e ainda dá para salvar manualmente a qualquer momento.
O TERCEIRO ATO FRACO
The Gunk não é um jogo longo. Na verdade, ele é tão gostoso que eu até queria que fosse mais longo. Trata-se de um game relaxante, e o fato de eu tê-lo jogado depois do extremamente intenso Serious Sam 4 o deixou ainda mais agradável.
Mesmo assim, seu último ato é bem chatinho. Envolve visitar um lugar chamado “Jardim”. Porém, apesar do nome, o Jardim é totalmente cinza, sem o charme e cores do restante da campanha. E você faz todo o caminho por ele duas vezes. O level design e puzzles são diferentes, então é quase como se fosse uma outra fase que passasse pelo mesmo caminho. Porém, é triste que o jogo perca tanto tempo justamente no local menos inspirador do planeta.
Devo dizer que foi o Jardim, e apenas o Jardim, o responsável por eu não dar a nota máxima a The Gunk, pois todo o resto do jogo é nada menos que delicioso.
The Gunk é o tipo de jogo single-player e narrativo que eu morro de medo que serviços como o Game Pass acabem matando. Ele é, porém, um raio de esperança. Afinal, é um “exclusivo de console” de Xbox, disponível no Game Pass desde o primeiro dia. Se este for o futuro dos games, eu estarei feliz com isso.
Uma coisa que vale falar é que The Gunk e Kena ocupam o mesmo espaço de jogos lindos focados na exploração e plataforma. The Gunk tem mais puzzles, Kena tem mais combate. Porém, se você gosta de um, há de gostar do outro também. E, se você só tem acesso a um Playstation ou a um Xbox, não deixe de jogar o que está disponível. E se tiver os dois, jogue os dois, ora bolas.