Eu estava mais animado para jogar Sonic Superstars do que quase qualquer outro lançamento do ano. Muito mais, aliás, do que costumo ficar para novos jogos do ouriço, mesmo gostando deles. E por um tempo, bastante tempo, Sonic Superstars entregou. Tive aqui alguns dos momentos mais delicinhas de 2023. E daí ele começou a dar raiva. Acabou que, antes de escrever isso, larguei o jogo com raiva e sem terminar, depois de perder a maior parte da tarde repetindo a primeira fase do último chefe.

ANÁLISE SONIC SUPERSTARS

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Faz muito tempo que a Sega tenta reviver a magia que o Sonic carregava no Mega Drive. Tivemos Sonic ManiaSonic Generations. Até um literal Sonic 4, dividido em parte 1 e parte 2. Sinceramente, eu gostei de todos estes. Mas ao começar minha campanha de Sonic Superstars, eu senti que estava jogando o verdadeiro Sonic 4. Ou seja, uma continuação dos jogos de Mega Drive, sem repetir ou referenciar a maior parte do conteúdo clássico.

E olha, que deleite foi! As fases eram novas e traziam um monte de mecânicas diferentes. Tinha sensação de que, a cada nova fase, uma ou duas mecânicas extras eram apresentadas. Coletar as esmeraldas era divertido, pela primeira vez na história da franquia. E talvez mais importante, era um jogo 2D do Sonic com gráficos e funcionamento moderno, algo que Sonic Mania, apesar de suas muitas qualidades, não foi.

SONIC SUPERSTARS É O VERDADEIRO SONIC 4

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Até as coisas que eram referências diretas ao passado, como as fases bônus que imitam as especiais de Sonic 1, tinham um funcionamento moderno. Mais agradável, divertido, conveniente.

Quando jogava Sonic Superstars, senti que voltei a ser criança, e tinha voltado para casa com um novo cartucho do meu jogo preferido. Fazia comentários frequentes, coisas como “que lindo” e “pô, mancada”, exatamente como quando tinha menos filtro ao jogar. Cada nova mecânica ou novo inimigo me arrancava sorrisos, quando não gargalhadas de alegria. Minha filha, em determinado momento, olhou para mim e falou “que foi, pai?”. “Eu adoro Sonic“, respondi.

QUERIA TER TEMPO PARA PEGAR TODOS OS TROFÉUS

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Eu estava me divertindo tanto que, embora ainda estivesse no início do jogo, já estava triste ao pensar que ele acabaria. Não tenho muito interesse em jogar um Sonic sem ser com o próprio Sonic, mas para Superstars provavelmente abriria uma exceção, e faria uma campanha completa com cada um dos heróis. “Poxa”, pensava, “queria ter tempo para poder jogar até pegar todos os troféus”.

Até a fase da água, tradicionalmente uma das mais chatinhas nos jogos do ouriço, foi legal. Todos os atos terminavam com um chefe e, pasme, eu estava gostando de todos eles. Algumas fases específicas só podiam ser jogadas com personagens pré-estabelecidos, e fazê-las foi um prazer. Afinal, são fases criadas para potencializar as habilidades de cada herói, e me davam oportunidade de experimentar os outros, já que na campanha só queria usar o Sonic.

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E cada um deles é bem diferente. Você já sabe quais são as habilidades, claro. Tails voa, Knuckles plana, Amy martela. Na real, o Sonic talvez seja o pior deles, pois não faz nada que os outros não façam. Mas o jogo é dele, pô. É com ele que eu queria jogar. E agora chegamos ao final do build up mais longo da história.

A DECEPÇÃO

A decepção começou devagar. Tinha uma fase em que você precisava encontrar e apertar um botão a cada X segundos ou morria. Ideia de jerico. Mas provavelmente é só essa fase, e depois o jogo vai ficar bom de novo. Mal sabia eu, era o começo do fim. Não do fim do jogo, mas do fim da minha diversão com ele.

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A verdade é que esta fase talvez tenha sido a mais chatinha do jogo mesmo. Mas meu sofrimento, como é tradicional, passaram a ser os chefes. Eles começaram a ficar longos demais, a ponto de que morrer e ter que reiniciar parecia pura perda de tempo. Este problema se iniciou com o chefe que era uma raposinha roxa – ou pelo menos eu acho que é uma raposa. Ele começa bem, mas depois de acertar algumas vezes, você precisa passar por um labirinto desviando de fogo. Daí encara a raposinha de novo. Outro labirinto, e daí luta contra ela mais uma vez. Perder na última fase exige não apenas fazer as duas fases anteriores novamente, mas mesmo os labirintos. Este chefe durava mais do que a fase que o precedia, e não tinha checkpoints durante a batalha. Minha paciência começou a se esvair.

METAL SONIC

E daí veio o Metal Sonic, com uma batalha interessante que remetia à primeira aparição do vilão, lá no Sonic CD. Pô, legal, pensei. Mas comecei a morrer. Morri, morri e morri. Depois de um bom tempo, dezenas de tentativas, venci. Mas havia uma segunda fase. Eu sinceramente não acreditei que tinha outra fase depois de uma primeira tão difícil. Mas pelo menos deve ter um checkpoint, né? Não tinha.

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Dica: o Metal Sonic fica relativamente banal jogando com o Tails.

Depois de muito insistir, resolvi tentar com o Tails. Pensei que o voo da raposinha facilitaria. E facilitou. Muito. Matei de primeira. Porém, os chefes ficam no final das fases e só dá para trocar de personagem voltando ao mapa, o que exige jogar a fase toda de novo. Um saco. Ainda assim, foi bom que fiz isso, ou ainda estaria travado tentando vencer o Metal Sonic com o ouriço. Perdi tanto tempo nessa luta que nem a ótima fase do gelo que vem depois, ou a divertida referência a Fantasy Zone, recuperaram a alegria que senti na primeira metade. A essa altura, só queria acabar, e ficar livre de Sonic Superstars.

A ZONA DA FANTASIA

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A referência a Fantasy Zone foi bem inesperada para mim.

E daí veio o último chefe, que repetiu o truque que jogos japoneses tanto gostam: chefe com dois estágios sem checkpoint entre eles. Passei a maior parte da tarde repetindo este último chefe. Em mais de duas horas e dúzias de tentativas, consegui passar para a segunda fase apenas quatro vezes.

Na segunda fase, cada vez que ele fazia um novo ataque, eu morria. A tolerância a fracasso é mínima, pois mesmo que você tenha argolas, tomar uma porrada nessa fase provavelmente te derruba no abismo. Eu precisava treinar e aprender a desviar dos ataques, o que é padrão em chefes de jogos de plataforma. Porém, a primeira fase era tão difícil, e era tão raro eu conseguir passar para a segunda, que simplesmente não conseguia aprender.

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Pensei se o chefe ficaria banal com outro personagem, como aconteceu com o Metal Sonic, mas não me parece que a habilidade especial de nenhum deles facilitaria muito a batalha. Quando a tarde chegou ao fim, o mesmo aconteceu com meu tempo com Sonic Superstars. Eu desisti do chefe, e abandonei o jogo em raiva. Tenho certeza, se tivesse um checkpoint depois da primeira fase, eu conseguiria passar, pois teria mais possibilidades de treinar. Mas da forma que está, parece impossível para minhas habilidades no momento. E é uma batalha sinceramente muito chata.

SONIC SUPERSTARS: O MELHOR JOGO DO ANO, O PIOR JOGO DO ANO

Não me lembro de outro jogo que tenha me levado a altos tão altos e a baixos tão baixos antes. A gente pode pensar em Elden Ring ou algo nessa linha, mas estes jogos costumam trazer diversão e raiva ao mesmo tempo. Sonic Superstars foi claramente dividido em duas metades. Uma com euforia quase total, a outra com frustração ininterrupta.

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Nem a fase do gelo trouxe minha alegria de volta.

Não é nem que o jogo é longo demais. Se eu não tivesse tido que repetir tanto os chefes, creio que Sonic Superstars duraria umas quatro horas. Então não é um caso de um game que dura mais do que deveria. Mas sim que ele parece ter sido feito por dois times diferentes: um que entende o prazer tradicional do Sonic, com fases que são praticamente parques de diversão lindos e coloridos. E outra cheia de erros básicos de gamedesign, com fases feias e mecânicas punitivas.

Nunca foi tão difícil para mim dar uma nota para um game. Deveria fazer uma média entre a maravilha e a porcaria, o que o tornaria um game nada, de 2,5? Ou deveria dar mais peso para uma de suas metades. No final das contas, fui com meu sentimento atual, e a raiva da segunda metade afetou consideravelmente a alegria do início. Então dois Alfredos parece de bom tamanho.