Quase três anos atrás, eu fiz um texto reclamando como os soulsborne parecem totalmente incapazes de inovar. Desde então, absolutamente nada mudou. Todo jogo que pega alguma característica do gênero, pega todas, como se fosse um evangelho e mudar qualquer coisa fosse traição religiosa. Até agora. Bem-vindo à nossa análise Scars Above, um soulsborne tão diferente que muitos nem vão considerá-lo um soulsborne. Mas eu o classifico desta forma porque ele pega algumas características do gênero. E também de outros. É uma amálgama que o deixa bem interessante.
ANÁLISE SCARS ABOVE: INOVAR É FÁCIL
Até um tempo atrás, era muito difícil inovar. Hoje em dia está tudo tão igual que não é nada difícil. Sabe quais são as maiores inovações que Scars Above traz aos soulsborne? Ele tem opções de dificuldade e pausa. Fácil assim, ele se torna mais amigável, mais acessível e simplesmente mais simpático e criativo do que 95% dos games lançados nos últimos cinco anos. Mas vai além, então vamos começar explicando o que traz dos soulsborne.
Ele tem stamina que afeta a corrida e o combate corpo a corpo. Mas o que mais o aproxima do gênero é a forma como ele aborda checkpoints. Estes são monolitos, mas são exatamente como as fogueiras. Interagir com um recupera vida e recursos, mas também ressuscita os inimigos. Muitas vezes você vai encontrar uma porta trancada e terá a possibilidade de abri-la quando chegar ao outro lado, formando um atalho. Além disso, itens e upgrades que você tiver coletado continuam seus para sempre, mesmo se você morrer antes de salvar.
Felizmente, ele inova em outras coisas, como no fato de que você não perde nada além de progresso ao morrer. Scars Above também permite subir de nível a qualquer momento pelo menu, sem ter necessidade de esperar por um monolito. Também é bem legal o uso que ele faz de XP, aqui chamado de “conhecimento”. Você é uma cientista, então não adquire conhecimento ao matar inimigos, mas ao escanear criaturas, explorar, analisar ruínas. O mais bacana é que você não adquire um número aleatório, tipo 200, e sobe de nível por um preço cada vez maior. Aqui cada XP te dá uma porcentagem e, sempre que atingir 100%, ganha skill point. É uma simplificação linda, pois você sempre sabe quão longe está do próximo upgrade.
GAMEPLAY
Scars Above é um jogo de ação. Seu combate remete a um third person shooter, mas a coisa é muito mais estratégica do que o tradicional no gênero. Cada uma de suas armas tem um dano elemental. E cada inimigo é fraco a elementos específicos, além de terem pontos fracos em lugares diferentes. Então não basta ir atrás de headshots ou de desmembrar, é necessário pensar.
Além disso, você tem itens diversos que potencializam os elementos. Tem, por exemplo, uma bombinha que espalha um líquido inflamável que, quando atingido por um tiro de fogo, acende um fogaréu, capaz de queimar dezenas de inimigos ao mesmo tempo. Da mesma forma, o cenário é cheio de armadilhas que podem e devem ser usadas para vencer os desafetos. Se você lutar sem pensar, Scars Above é quase impossível, mesmo na dificuldade mais baixa. Pensando um pouco, ele continua difícil, mas progredir se torna possível.
ATMOSFERA
Também é legal a atmosfera geral do jogo. Em geral, jogos com essas influências costumam tender a um atmosfera épica ou de terror. Scars Above é totalmente ficção científica, com criaturas, trilha sonora e personagens que remetem diretamente a Mass Effect.
Isso dá à ação um clima gostoso e diferente. A exploração é mais simples do que a tradicional de um soulsborne. Scars Above é mais linear, dividido em capítulos com começo e fim claros, e sem a possibilidade de voltar a áreas anteriores. Mas ele incentiva muito a exploração com uma enorme quantidade de upgrades vitais, mas fáceis de perder para quem for correndo para o final da fase.
Além disso, o foco não é 100% no combate. Tem uma fase em uma instalação alienígena, por exemplo, em que você realmente encarna a cientista, indo atrás de informações e conhecimento, não de perigo ou de aventura.
SCARS ABATMAN
Também é comum a própria exploração dar uma pausa para você analisar pistas e criar uma conclusão. É bem semelhante ao que costumamos ligar aos games do Batman. Isso sem falar em puzzles mais elaborados. Na fase da base alienígena tem um quebra-cabeças estendido em que você deve transportar dois itens de energia para a saída, mas quando você os tira de onde estavam, os equipamentos (como pontes e elevadores) são desligados, exigindo que você encontre outro caminho para levá-los.
Assim como Signalis, Scars Above é um game inteligente, que pega influências de várias outras obras famosas, mas consegue criar uma identidade e um feel só seu com elas. Um exemplo dessa inteligência são as batalhas contra chefes. Ao longo de cada fase, você será apresentado a um monte de mecânicas aparentemente dispersas, como congelamento ou a possibilidade de abrir buracos no gelo. Daí quando encontra o chefe, verá que a batalha usa todas essas mecânicas de forma concisa, e você só conseguirá vencer se aprender a lidar com elas. É um game design impressionante, eu diria.
ANÁLISE SCARS ABOVE: A FORÇA DO DUPLO-A
Scars Above não é um jogo que vai mudar a vida de ninguém. Seus gráficos, por exemplo, são adequados. Não impressionam, mas também não parece tosco ou malfeito. O som se destaca mais, mas no geral, Scars Above é um ótimo representante do AA pride.
É uma diversão bastante recomendada para quem quer sair da mesmice dos games atuais. Você vai reconhecer várias influências diferentes em Scars Above, mas ele as usa de formas inteligentes e criativas, gerando uma aventura que há de divertir bastante. Mas convenhamos, ele não precisava apagar seu save quando você termina o jogo, né?