O delfonauta dedicado sabe que eu sou um cara dos blockbusters. Não que eu não curta joguinhos indies mais simples e emotivos, pelo contrário. Mas é fato que os jogos que realmente me fazem decorar a data de lançamento e esperar ansiosamente por ela são as grandes produções como Gears of WarGod of WarRaging Justice, no entanto, foi uma exceção.

Este é um jogo cujo desenvolvimento eu acompanhei desde que ouvi falar dele pela primeira vez. Por quê? Ora, porque trata-se de um exemplar do gênero que eu mais joguei na minha adolescência, o beat’em up em 2D. Porém, ao contrário de quase tudo do gênero que vemos saindo hoje em dia, este NÃO me vem com gráficos pixelados.

Raging Justice, Delfos, Beat'em Up
Strike!

Não que ele seja especialmente bonito. Para falar a verdade, ele tem um visual artisticamente bem genérico, com personagens arquetípicos e uma animação bem fraca.

Lembra daqueles jogos digitalizados, com fotos de atores ou de bonecos de massinha, como Rampage World Tour, Clay Fighter ou Pit Fighter? Estes jogos tinham animações mais simples por serem em stop motion, e em movimento são bem parecidos com Raging Justice. Esqueça 60 fps ou mesmo 30. Aqui a animação é tão pouco fluida que é possível perceber frameframe os movimentos. Ainda assim, não é pixelado e o simples fato de a MakinGames ter escolhido ir pelo caminho mais difícil e menos viajado já conquista meu respeito.

FAMILIARIDADE

A jogabilidade também é imediatamente familiar, e remete a três dos grandes clássicos do gênero. Refiro-me, claro, a Double DragonStreets of RageFinal Fight, cada um emprestando alguma característica importante a Raging Justice.

Raging Justice, Delfos, Beat'em Up
Foi impossível não lembrar de Double Dragon quando o cara pegou minha personagem e saiu carregando nos ombros.

Você usa quatro botões. O quadrado dá soco e o triângulo chutes. O X pula e o bolinha agarra. Quando você agarrar alguém, pode dar joelhadas, cotoveladas ou arremessá-lo longe, derrubando todo mundo que estiver no caminho. Por fim, apertando os botões de soco e chute ao mesmo tempo, você tem o seu golpe quebra-combo que te tira de situações cabeludas, mas faz perder vida.

Eu queria saber porque resolveram colocar este golpe apertando dois botões se tem quatro botões inutilizados no controle. Outro problema é que usar o quebra-combo custa muita vida. O objetivo de sua existência no gênero é escapar de uma surra sacrificando um pouco de vida, mas do jeito que está aqui, você acaba perdendo mais para escapar do que esperando a surra acabar.

Raging Justice, Delfos, Beat'em Up
Lembrou da tela de continue do Final Fight? Eu também.

Outra coisa que senti falta, mas aí já deve ter sido uma opção criativa mesmo, é de um botão de defesa. Poucos beat’em ups antigos tinham isso – e nenhum dos três que mais influenciaram Raging Justice tinha – mas serviria bem à jogabilidade. Especialmente porque não há frames de invencibilidade, o que faz com que você continue apanhando enquanto cai no chão e ao se levantar.

A única novidade é a possibilidade de prender os inimigos, agarrando-os quando ficarem tontos. Porém, isso é bem aleatório. Não parece haver um jeito seguro de deixá-los tontos, o que torna os desafios de prender alguns inimigos específicos um tanto sem noção. Por outro lado, não tem motivo para você não prender todo mundo que conseguir, pois além de ser um nocaute instantâneo, ainda recompensa o jogador com um item de cura. Aliás, em uma enormee blasfêmia, o frango assado não renova toda a energia.

Estas são as mecânicas. Use-as para chegar do lado direito do cenário, vença o chefe e avance para a próxima fase. Os chefes seguem o esquema Streets of Rage. Depois que você os encontra pela primeira vez, eles voltam a aparecer como inimigos comuns. Eu vivo reclamando aqui dos jogos que obrigam você a lutar com todos os chefes na última fase, mas devo dizer que esta alternativa usada por Raging Justice me agrada bem mais. Afinal, não rola uma boss rush pentelha perto do final do jogo.

Raging Justice, Delfos, Beat'em Up
Até os chefes que têm um design bem único voltam a aparecer depois.

São nove fases, que duram entre três e 15 minutos cada. Há um número limitado de vidas e continues, assim como nos jogos dos anos 90. Sua energia não é renovada entre as fases, mas o jogo salva automaticamente após cada chefe. Só que ele salva exatamente como você está, com a mesma energia, quantidade de vidas e continues restantes. Então, se jogar mal já na primeira fase, vale mais a pena começar de novo do que continuar e depois ficar bravo quando faltar vidas no estágio final.

CORRALES, O MARIQUINHA

Joguei a primeira fase no normal, mas ao constatar este funcionamento e o fato de que não dá para mudar de dificuldade no meio da campanha, optei por jogar no easy, aqui chamado de wimp (ou mariquinha). No wimp tem nove continues, no normal tem sete e no hard (chamado de tough guy) tem apenas cinco. Isso curiosamente vai contra o funcionamento tradicional dos clássicos, que costumavam dar mais continues quanto maior fosse a dificuldade.

Raging Justice, Delfos, Beat'em Up
É muito legal atropelar a galera de trator.

Como o mariquinha que sou, não tive nenhuma dificuldade para terminar o jogo no wimp. Ainda sobraram uns três ou quatro continues. As nove fases podem ser vencidas sem pressa em pouco mais de uma hora, então eu devo jogar Raging Justice de novo no futuro em dificuldades mais avançadas. Há também um coop local, como manda a cartilha dos beat’em ups.

RAGING JUSTICE

Apesar de não ter gráficos pixelados, Raging Justice é bastante familiar em sua jogabilidade e em seu funcionamento. É basicamente um novo lançamento seguindo a fórmula dos fliperamas nos quais gastei tantas fichas nos anos 90.

Raging Justice, Delfos, Beat'em Up

Porém, ao não trazer nenhuma novidade considerável, ele acaba sendo old-school demais, e não alcança a qualidade dos jogos que o influenciaram, e nem mesmo de outros mais simples, como Turtles In Time.

Eu me diverti com ele, e o fato de ele ser curtinho permite que eu o jogue de ponta a ponta com amigos que vierem me visitar. Dito isso, ele não me empolgou em nenhum momento. Além disso, tenha em mente que eu sou um entusiasta dos beat’em ups, e não dá para negar que existem melhores opções no PS4.