Eu cobri toda a série nova de Hitman, esta lançada a partir de 2016, mas devo dizer que os jogos nunca desceram tão bem quanto este terceiro. Sim, eu gostei deles, e escrevi resenhas positivas para todos (veja links no final deste texto), mas confesso que essa nova edição me empolgou muito mais do que todos os outros. E não necessariamente por ser muito melhor. Na verdade, ela é bem parecida. Acho que a diferença está em mim mesmo. Eu sou, hoje, um cara mais metódico do que era em 2016. Essa é nossa análise Hitman 3.
A PRIMEIRA IMPRESSÃO NÃO É A QUE FICA
Infelizmente, a primeira impressão de Hitman 3 foi péssima. O código de review de PS4/PS5 que recebemos veio no dia do lançamento. E o jogo tem algumas funcionalidades bacanas, como importar seu save de Hitman 2, bem como todo o conteúdo e fases dos jogos anteriores. Na prática, você tem acesso gratuito a remasters de Hitman e Hitman 2 dentro da mesma família de consoles, com os benefícios da nova geração, como resolução mais alta e carregamento mais rápido.
Porém, nada disso estava funcionando no lançamento. Para importar o save, é necessário fazer uma conta da IO Interactive, o que já não me agrada nem um pouco. Porém, ao fazer isso, e conseguir passar pelo processo (o site também estava intermitente no dia do lançamento) ele dizia que eu não tinha um save de Hitman 2, mesmo a conta detectando que eu havia jogado.
A importação do conteúdo do primeiro Hitman foi tranquilo, já que eu tenho a versão digital. Meu Hitman 2 era em disco, e as instruções eram que eu precisava ativar o download através de um link da loja DENTRO do segundo jogo. Porém, este link simplesmente não existia.
100 FUCKIN’ DÓLARES!?
Tentando baixar as fases de Hitman 2 através de Hitman 3, ele me cobrava 100 dólares, o que é um valor mais alto do que o preço pelo qual o jogo foi vendido originalmente (que era 60 dólares).
Nenhum dos dois problemas parecia algo derivado do excesso de jogadores tentando conectar (afinal, um dos links simplesmente não existia). Mesmo assim, resolvi esperar antes de jogar, uma vez que importar o save de Hitman 2 substituiria meu save de Hitman 3. Ou seja, é algo a se fazer ANTES de jogar.
Felizmente, um dia depois do lançamento, tudo funcionou como deveria. O link dentro de Hitman 2 apareceu, e a minha conta da IO detectou meu save. Tudo certo, era hora de começar a jogar.
ANÁLISE HITMAN 3
Hitman 3 é um daqueles casos de mais do mesmo. Se você jogou os anteriores, não há grandes novidades. Cada fase é um enorme sandbox, e envolve um ou mais assasssinatos. Há dúzias de áreas restritas que incentivam a criatividade. Disfarces diferentes dão acesso a áreas diferentes e planos mais elaborados podem te colocar em uma sala sozinho com sua vítima.
A maioria das fases tem “histórias” opcionais, que te guiam em um passo a passo que termina em uma oportunidade de ouro para um assassinato épico. Dá para ativar as histórias pelo menu, ou então encontrá-las organicamente.
Meu MO em Hitman 3 envolvia entrar cego na fase e ir explorando, na esperança de achar uma dessas oportunidades naturalmente. Nem sempre isso aconteceu. Em alguns casos, eu até encontrei minha vítima simplesmente navegando, sem nenhum plano mirabolante.
E, ao contrário do que fiz nos anteriores, aqui eu fiquei com vontade de repetir as missões para ver as outras histórias. E muitas delas são realmente especiais.
MELHORES MOMENTOS
Eu poderia fazer um grande texto simplesmente contando algumas das histórias que vivi em Hitman 3. Para não tomar muito do seu tempo, vou contar apenas uma.
Em uma das fases, eu assumi o papel de um detetive particular, com a missão de desvendar se um aparente suicídio foi de fato um assassinato.
Foi uma investigação absurdamente envolvente, onde eu tive que falar com todos os membros da família, cruzar seus álibis e procurar por provas em seus quartos. Seu objetivo é assassinar a matriarca, e isso não anda de mãos dadas com descobrir o assassino real. Você pode, por exemplo, forjar provas e acusar alguém que sabe que não cometeu o crime, só para ter acesso à sua vítima. Mas eu achei o processo investigatório tão prazeroso que não segui em frente até desvendar o mistério.
UMA DE DÚZIAS
E essa é só uma das histórias desse cenário. Em outra, você precisa se fingir de fotógrafo e matar a senhora com a sua câmera. Não vou falar como, mas a foto de família ali de cima registrou o momento do meu assassinato. Cada fase de Hitman 3 é longa e envolvente (muitas vezes levando mais de uma hora), e todas têm alto grau de replayabilidade e potencial para criar muitas de suas próprias histórias.
O nível de complexidade da coisa toda é impressionante. Hitman 3 tem apenas seis fases, mas isso é até compreensível, considerando o quanto de conteúdo tem dentro de cada uma delas. É possível você cumprir seu objetivo e passar da fase tendo visto só 10% do que ela tem para oferecer.
Na fase de Berlin, por exemplo, não há “história” para te guiar. Você deve cometer cinco assassinatos de forma totalmente livre. Obviamente, o reflexo disso para mim foi um gameplay mais atrapalhado, bem longe do “mestre assassino” que eu fui nas outras. Eu até tentei ser frio e calculista, mas fui avistado muitas vezes enquanto stalkeava minhas vítimas.
Assim, apesar de Hitman 3 não ser especialmente diferente dos anteriores, simplesmente trazendo novos sandboxes para brincar, o fato é que estes três jogos de Hitman são muito diferentes de todo o resto das experiências disponíveis em games. São jogos que incentivam a criatividade sem perder acessibilidade e eu sinceramente fiquei com vontade de aproveitar os “remasters” para jogar toda a trilogia de uma só vez. Se eu pelo menos tivesse tempo para isso…
ME DÁ DINHEIRO
Porém, devo falar de uma coisa que me incomodou bastante. Hitman 3 quer muito o seu dinheiro. O menu é altamente elaborado, com vários modos de jogos, mas quase tudo está travado. Mesmo para mim, que tenho os três jogos da série, tem um monte de coisa à qual não tenho acesso. Até mesmo a campanha de Hitman 2 tem duas fases que o jogo não me deixa acessar.
Hitman foi todo fragmentado em pedacinhos caríssimos. Tem coisa vendida através do jogo que custa 100 fuckin’ dólares! Jim Sterling costuma dizer que 60 dólares é simplesmente o preço para você começar um jogo, não o preço real de venda, e isso nunca foi tão verdade quanto em Hitman 3. Este é um produto totalmente fatiado, típico caso de um jogo que teve seu conteúdo cirurgicamente extraído para ser vendido à parte.
FATIADO
Tem tantos pedacinhos independentes do menu sendo vendidos que eu sinceramente não tenho a menor ideia de quanto sairia o jogo completo.
E isso realmente me incomodou. Hitman tem uma pegada semelhante a Rock Band. Porém, Rock Band não mostrava dentro do meu jogo as músicas que eu não tinha. Elas só apareciam se eu ativamente acessasse a loja. Ver tantas das minhas opções de jogo acinzentadas com botão de “Get Access” é bem incômodo. E isso é intencional, pois ao mostrar O TEMPO TODO o que falta para você ter o jogo completo te incentiva a gastar mais, aumentando o FOMO e a obsessão complecionista.
É uma tática comum em free to play, mas devo dizer que a implementação em Hitman 3 me incomodou mais do que as tradicionais microtransações com cosméticos e time savers. Por um lado, porque é conteúdo real que está travado, não simplesmente roupinhas ou aceleradores de XP. E, por outro, porque eu tenho que navegar um menu enorme e complexo sempre que quero jogar, sendo que pelo menos metade das opções estão travadas para mim. E, devo lembrar, eu tenho os três jogos da série devidamente destravados, e mesmo assim tem partes da campanha às quais não tenho acesso. E Hitman 3, com apenas seis fases, definitivamente é uma campanha curtinha, ainda que sejam fases bem complexas.
O HOMEM DOS HITS
Eu gostaria muito de, na impossibilidade de o jogo ser vendido completo, pelo menos que o menu mostrasse apenas o que eu tenho acesso. Mas não é o caso. Dito isso, o que de fato eu tive acesso, ou seja, as campanhas padrão dos três jogos, são muito legais, únicas e inovadoras.
Hitman 3 é um jogo excelente, um sandbox delicioso, que só poderia ser melhor se fosse menos ganancioso, sem conteúdo cortado para vendas separadas. Afinal, é um jogo premium de console, não um free-to-play de celular.
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