Quando eu fiquei sabendo que o novo Darksiders, série da qual gosto bastante, seria uma prequência isométrica de orçamento mais baixo, fiquei decepcionado. De fato, eu sei que Darksiders III decepcionou bastante, a mim inclusive, tornando o futuro da série incerto. Então fazia sentido tentar continuar com algo mais simples e mais barato. Para a minha surpresa, o jogo final é simplesmente fantástico. E você vai ficar sabendo de tudo na nossa análise Darksiders Genesis.
ANÁLISE DARKSIDERS GENESIS
Vamos começar com o óbvio. Darksiders Genesis visualmente parece Diablo. Mas o jogo é incrivelmente diferente. A porradaria aqui é mais impactante, mais forte, mais real time, manja? Além disso, este tem muito de exploração, escalação, plataforma, e todos os outros gêneros com os quais os primeiros Darksiders flertavam – e que ficaram de fora no terceiro.
Digo mais, se tanto, Darksiders Genesis é o mais parecido com Zelda desde o primeiro. E isso é ótimo. E, claro, o visual isométrico acaba aproximando este dos Zeldinhas clássicos.
Pela primeira vez na série, temos aqui dois dos cavaleiros do Apocalipse. War retorna depois de protagonizar o primeiro jogo, e traz consigo as mesmas armas, movimentos e combos já conhecidos. A novidade é Strife, o único dos quatro que ainda não havia estrelado seu jogo. Ele é totalmente o oposto de War. War é sisudo, com uma dedicação cega a sua missão. Strife é brincalhão e questiona tudo. Ele parece uma criança e, juntos, eles formam uma dupla muito divertida.
Apesar de ser interpretado por Chris Jai Alex, Strife parece muito o tradicional personagem que o Nathan Fillion sempre faz. Liam O’Brien volta ao papel de War, e os dois atores contribuem para manter o roteiro sempre divertido, engraçado e interessante, ainda que as cutscenes sejam todas contadas com imagens estáticas.
CURTA BÔNUS
A exceção é a abertura, um curta em CG deveras estilizado e com um visual impressionante, mas que não tem nada a ver com a história do jogo. Está aqui mesmo só para impressionar logo de cara, mas acaba decepcionando quando você percebe que a história principal não será contada com o mesmo valor de produção.
Se as cutscenes não são especialmente produzidas, pelo menos o jogo é inteiro falado, e traz de volta todos os atores cujos personagens retornam, como Vernom Wells como Samael e Phil Lamar como Vulgrim.
O som é um dos destaques. Não só os atores estão ótimos, mas a trilha sonora é a melhor que a série teve desde o primeiro jogo.
A GUERRA DO CONFLITO
Eu já falei que controlar o War é exatamente como controlá-lo no primeiro jogo da série, com os mesmos combos, golpes e poderes. Mas e o Strife? Este, meu amigo, é bem diferente. Seu foco é em combate à distância, e ele tem uma pá de munições diferentes. A que você vê na imagem acima, por exemplo, atira eletricidade e faz com que os raios atinjam vários inimigos ao mesmo tempo.
Ele tem golpes de curto alcance também, mas em geral, quando você está com Strife, o foco será no tiroteio. Jogando sozinho, é possível trocar entre os dois a qualquer momento, e isso tem alto valor estratégico. Afinal, depois de um certo upgrade, o cavaleiro que não estiver sendo controlado vai recuperar vida. Assim, trocar é vital para manter os dois em forma. E também é necessário nos puzzles, onde os poderes de cada um são necessários em momentos diferentes.
O bacana é que dá para jogar em coop e, assim como naquele jogo isométrico tremendão da Lara Croft, os puzzles mudam quando você está jogando em duas pessoas. Dá para jogar coop de sofá com tela dividida, ou então online com amigos. Infelizmente, não há matchmaking para jogar com desconhecidos. A coisa funciona apenas através do convite mesmo.
Ao contrário dos outros Darksiders, que têm um mundo contínuo, este é dividido em fases. Porém, as fases seguem o estilo do Nioh, manja? Tipo, são enormes e cheias de segredos, cada uma um mundo separado dos outros. Sem exagero, eu cheguei a passar cerca de três horas em várias delas. E alguns segredos, especialmente nas primeiras, exigem habilidades que você só vai adquirir nas posteriores. Então para pegar tudo é necessário jogar alguns capítulos novamente (depois da minha primeira jogada, ficaram três estágios com algum tipo de item não coletado).
RPG
Como não poderia deixar de ser em um jogo moderno, há traços de RPG por aqui, mas a coisa é bem mais leve do que em Darksiders II. Não há loot, mas há um criativo sistema baseado em Creature Cores.
Funciona assim: quando você vence um montro, ele tem chance de soltar uma core. A core de cada bicho tem um poder específico. Ela pode, por exemplo, aumentar sua vida ou seu ataque, ou então aumentar um em detrimento do outro. Quanto mais vezes você pega a mesma core, melhor ela fica. E daí você a equipa em uma skill tree.
As cores são de três tipos e, se você equipar uma core em um slot do mesmo tipo, os benefícios serão maiores. E daí há as cores de chefes, que são as laranjas na imagem acima. Estas trazem melhorias maiores, mas só podem ser equipadas em lugares específicos.
Durante boa parte da sua campanha, você vai simplesmente equipar tudo que pegar, tomando apenas o cuidado de combinar os tipos. Porém, eventualmente a skill tree vai ficar cheia, e daí vem a parte mais complexa: você vai abrir mão de um benefício em função de outro recém adquirido?
As melhorias nas estatísticas fornecidas pelas cores são refletidas nos níveis. E eu fiquei apreensivo quando, lá pela terceira fase, meus personagens estavam abaixo do nível recomendado. Pensei que ele exigiria que eu ficasse repetindo as fases anteriores para upar, exatamente como este jogo também desenvolvido pela Airship Syndicate. Felizmente, não é o caso, e antes do final da campanha, eu estava com personagens 200 níveis acima do recomendado.
DIABLO
E este é um aspecto em que ele funciona como Diablo. Há diversas opções de dificuldade, mas o que elas fazem é alterar o nível recomendado de cada missão. Ficou underleveled, dá para baixar os requisitos, e vice-versa se ficar overleveled. Eu consegui me divertir bastante, com o nível certo de desafio, jogando sempre no modo normal, o que é mais uma melhoria em relação ao frustrante clone de Dark Souls que virou Darksiders III.
O ponto fraco no combate são os chefes, o que é uma pena, visto que estes costumavam ser momentos bacanas da série. Aqui os chefes basicamente são inimigos com vidas bombadas, que demoram um bocado para morrer. Não há estratégia ou variações durante a luta. Basicamente, é só atirar até eles caírem – e eles demoram bastante para cair.
Tirando este aspecto, é realmente digno de louvor o que a Airship Syndicate conseguiu fazer com Darksiders Genesis. Eles criaram um jogo mais digno do nome Darksiders do que o próprio Darksiders III, que abre mão das características da série para copiar Dark Souls.
Darksiders Genesis é mais uma grata surpresa deste início de ano, e eu diria que tem chances de estar na minha lista de melhores de 2020. Bora agora esperar sair o jogo estrelado apenas pelo Strife?
CURIOSIDADE:
- Phil Lamar, que dublou o Vulgrim desde o primeiro jogo, também fez a voz do Strife em Darksiders III. Aqui, embora ele ainda esteja no elenco como Vulgrim, cedeu o papel de Strife para o novato Chris Jai Alex.