Quando a Microsoft anunciou a compra da Ninja Theory em 2018, a notícia foi recebida com empolgação. Na E3 2019, a first party gigante anunciou Bleeding Edge, o primeiro exclusivo para Xbox e Windows da desenvolvedora. Ele chegou agora, dia 24 de março, disponível também via Game Pass.
Este artigo é sobre a experiência do launch, ou seja, dependendo de quando você estiver lendo este texto, o jogo já pode ter mudado bastante. É bom que Bleeding Edge faça isso para se manter nesse mundo cheio de jogadores gastando internet durante a quarentena!
Análise Bleeding Edge: você sabe o que é um MOBA?
Bleeding Edge é um MOBA (multiplayer online battle arena), com a principal diferença de que o jogo é em terceira pessoa. Com certeza, isso é o suficiente para alguns jogadores saberem do que ele se trata. Caso não seja o seu caso, vou explicar mais abaixo.
Em MOBAs, duas equipes diferentes de jogadores se enfrentam (em Bleeding Edge, são quatro jogadores em cada lado). Os personagens que você pode escolher estão subdivididos em categorias com características similares. Aqui, são três categorias: Suporte, Dano e Tanque.
Ao início da partida, você escolhe um dos 11 personagens disponíveis. Toda vez que morre, pode trocar, se desejar. O importante é que cada tipo pressupõe um estilo de jogar que, se não for respeitado, vai levá-lo ao fracasso. Suportes precisam ajudar os outros com cura, enquanto Danos têm de se arriscar na batalha e conseguir o máximo de kills que puderem.
São dois modos de jogo até o momento (Objective Control e Power Collection). Em Objective Control, seu time tem de capturar bases e defendê-las enquanto ganha pontos (é o tradicional King of the Hill, ou Control, de Overwatch). Em Power Collection, há duas sequências. Na primeira, você deve coletar as Power Cells, depois, entregá-las em pontos específicos no mapa.
Bleeding Edge segue, à risca, todas as principais premissas e tradições do gênero. Vou te dizer que Bleeding Edge está para MOBAs assim como Ori and the Blind Forest está para os metroidvanias. Portanto, é o que você espera do gênero, por mais que tenha seu próprio charme.
Bleeding Edge: hora de falar do seu charme
Você deve ter reparado pelo trailer e pelas imagens, mas vou reforçar. Bleeding Edge é muito bonito, com gráficos cristalinos, leves contornos nos personagens e muita cor. É uma direção de arte acertada para MOBAs, que por vezes confundem os jogadores com tanta coisa acontecendo na tela. Aqui, é tudo muito simples de acompanhar.
O combate em si é muito similar ao que você está acostumado de um jogo de ação em terceira pessoa. Todos os personagens têm um ataque principal, com “X”, que gera um combo de até quatro golpes. Você também pode ter um lock-on em inimigos, esquivar (consome energia) e fazer parries (difíceis de executar).
Dos MOBAs, vêm as três habilidades básicas, que têm cooldown diferentes, além do especial, que é carregado conforme o tempo de jogo. São essas skills que realmente diferenciam os personagens.
Aliás, eles têm designs muito legais – de um morto-vivo controlado por uma cobra mecânica, a um headbanger/punk que usa a guitarra para atacar.
O mais positivo é que o jogo, por enquanto, tem um sistema de progressão que respeita o jogador. Esqueça loot boxes, microtransações e o escambau. Aqui, você avança de níveis ao jogar com os personagens e ganha naturalmente novos equipamentos para melhorar seus status e skills. Além disso, o sistema também premia com roupas diferentes e poses de vitória.
Bleeding Edge: tem muita coisa para melhorar
Algumas das reclamações mais frequentes do lançamento estão ligadas a performance, bugs, etc. A experiência depende muito de uma conexão estável e do jogo rodar sem lags. Do contrário, os seus inimigos mudam de posição “do nada” e, muitas vezes, você aparece morto.
Porém, isso é mais do que compreensível num lançamento desse porte. É a primeira experiência da Ninja Theory nesse gênero e mundo inteiro está absolutamente conectado à internet por causa da pandemia que estamos vivendo. É claro que teremos alguns problemas. Então, não é isso que mais atrapalha o jogo.
O maior problema de Bleeding Edge é que, no momento, ele não é tão divertido assim.
Bleeding Edge: onde o calo aperta
Essa sensação começa pelos modos de jogo. Ao escolher para jogar online (offline, só há o Dojo para treinamento), o jogo automaticamente seleciona a fase e o modo de jogo. Se você não gosta de um deles (meu caso, já que não gosto do Power Collection), é obrigado a jogar.
Nas partidas, chega a ser desconfortável o quanto a estratégia vencedora é sempre a mesma: andar em bando. O time precisa estar junto, ter a combinação correta de personagens e um mínimo de coesão. Qualquer coisa diferente disso é quase garantia de fracasso.
É claro que entendo que este é um jogo de equipe, mas o que sempre gostei em MOBAs é que cada jogador poderia fazer muita diferença para o time, mesmo quando jogasse de maneira mais “autônoma”. Isso é verdadeiro, em diferentes graus, para Dota, League of Legends e até Overwatch.
Aqui, os personagens estão extremamente limitados à sua função. Táticas como a de desviar a atenção dos inimigos ao atacar áreas diferentes, técnicas suicidas para levar um time inteiro (como eu já fiz várias vezes em Overwatch), só para citar duas das minhas favoritas, não são efetivas. Se você estiver sozinho e encontrar dois inimigos juntos, corra. Não há chances.
O que Bleeding Edge não entende bem, que é tão fundamental para MOBAs, é que não só os personagens têm características específicas, mas também os jogadores. Existem os lobos solitários, os oportunistas, os líderes, os mais pés no chão, os provocadores e mais mil tipos.
Por fim, falta também uma curva de progresso e/ou um senso de urgência às partidas. Há várias maneiras de fazer isso. Pode ser uma mudança de objetivos e gameplay nos minutos finais; na música; ou até no sistema de progressão dentro da partida, com a inclusão de level-up em cada uma delas.
Bleeding Edge: o jogo não saiu 100%, mas…
A minha expectativa, ao assistir ao trailer da E3 2019, era de que Bleeding Edge seria uma mistura de MOBA e Hack ‘n’ Slash. Na prática, o jogo está longe disso: os personagens são lentos e todas as mecânicas associadas ao Hack ‘n’ slash (parry, esquiva, combos) são extremamente limitadas.
Mais conteúdos (modos de jogo e personagem) são garantidos e vão ajudar. Porém, a Ninja Theory precisa mexer no metagame. Bleeding Edge precisa ser mais dinâmico, variado, ter mais risco-recompensa, para ser mais emocionante, surpreendente e manter uma grande base instalada de jogadores. Isso é o que vai fazê-lo sobreviver a tantos competidores, sejam eles MOBAs ou Battle Royale (eSports, no geral).
O maior erro agora, se o jogo não performar bem nos primeiros meses, é descartá-lo. Bleeding Edge tem uma base boa, mas precisa de mais tempero. Portanto, a Microsoft e o Game Pass têm de acreditar e investir no jogo. Fazer um bom lançamento é sempre complexo, mas persistir e evoluir um jogo de serviço, esse sim, é o grande desafio.
A Microsoft/Xbox nos enviou um código de review de Bleeding Edge.