Eu me senti pessoalmente traído com o fato de Call of Duty: Black Ops 4 ter abandonado a campanha single-player. Eu sei que o foco destes FPS militares sempre foi no PVP, mas eu já cheguei a comprar vários deles apenas pela campanha e nunca tocado o multiplayer. Por causa disso, este ano minhas esperanças recaíram fortemente sobre Battlefield V.
JOGANDO SOZINHO, COMO DEUS PLANEJOU
Antes de receber nosso código de review de Battlefield V, eu li sobre ele nos sites gringos, que falavam que a campanha, com apenas três fases, era bastante curta. Esta informação não é exata. O modo para único jogador tem três histórias independentes, mas cada uma delas é composta de três capítulos. Portanto, o modo forever alone de Battlefield V tem nove fases.
Eu levei cerca de duas horas para fazer cada história, então o tempo de jogo total acabou sendo por volta de seis horas. Definitivamente não é uma campanha longa, mas também não é tão mais curta do que a que vemos em outros shooters.
Se esta duração faz valer a pena para aqueles interessados apenas no single player? Bom, eu costumava comprar estes jogos no passado com desconto, alguns meses depois do lançamento. Além disso, jogos de tiro em primeira pessoa, que eram o status quo dos games na geração passada, agora são contracultura.
Para quem, como eu, curte jogar o modo história destes jogos, com a desistência de Call of Duty, Battlefield V se tornou o único exemplar onde você pode curtir um amigável tiroteio sem precisar levar uma surra de nerds de 14 anos.
MAS O MAIS IMPORTANTE…
… não é a duração da campanha, mas o fato de ela ser muito boa. Ela conta três histórias de soldados que normalmente não aparecem nas histórias de guerra. Isso envolve a resistência norueguesa, bem como os soldados africanos que foram obrigados a lutar pela França mesmo sem nunca ter pisado no país.
As histórias em si são excelentes, e saem do lugar comum de soldados estadunidenses heroicos. Deme, o tal do soldado africano, esbanja carisma, o que faz doer no âmago quando as coisas terríveis que rolam a torto e a direito na guerra acontecem com ele. Com isso, boa parte do jogo também não é falado em inglês, pois todos falam sua língua nativa (ou você pode deixar tudo dublado em português).
MATANDO NAZISTAS
Confissão: eu sempre gostei muito mais das campanhas de Call of Duty do que das de Battlefield. As de COD eram mais cinematográficas, mais corredor roteirizado, do jeito que eu gosto. A de Battlefield V é bem o contrário, e beira o mundo aberto. Aliás, ela lembra bastante Far Cry V.
Em geral, você é colocado em um mapa enorme, com uns três objetivos espalhados por ele. Cumpra-os na ordem que desejar. Estes objetivos normalmente envolvem destruir equipamento nazista e têm o stealth bastante encorajado. A sensação de cumpri-los é mais ou menos a mesma de atacar os postos inimigos no mundo aberto de Far Cry V.
Isso conflita com o design visual do mundo, que visa dar a sensação de ser ainda mais aberto do que já é. Você pode, por exemplo, subir uma área mais alta para atacar os nazistas de surpresa, e daí isso acontece.
Com um pouco mais de cuidado, poderiam colocar bloqueios visuais naturais, como pedras ou lagos. Caramba, até mesmo o esquema Assassin’s Creed, de fazer aparecer uma grande parede branca aonde não é para você ir seria mais apropriado. É bem inconveniente você fazer um plano de ataque que envolve passar por uma área do mapa que, ao chegar lá, descobre que não é uma área do mapa.
Curiosamente, isso aconteceu até mesmo no multiplayer. Tinha tiros inimigos vindo da minha frente, mas quando corria naquela direção, recebia a mensagem acima. Vai entender.
MULTIPLAYER
Sim, é claro que eu joguei o multiplayer. Infelizmente, jogar estes jogos em PVP é como eu imagino que seria se eu realmente fosse convocado para uma guerra. Eu entro no campo de batalha, levo um tiro que não sei de onde veio e morro em menos de cinco segundos.
Eu acho estranho que em tanto tempo que este tipo de PVP já existe, ainda não tenham inventado uma forma confiável de juntar pessoas com habilidades semelhantes. Eu até gosto de jogar assim, embora prefira cooperar a competir, mas eu sinto que o jogo está tão contra mim que não vale nem a pena tentar. É como a vida real.
O multiplayer de Battlefield V coloca dezenas de jogadores para se matar (até 64), o que torna suas partidas bem mais povoadas do que o normal. E bem mais rápido de morrer. Os modos de jogo, em sua maioria, envolvem capturar áreas do mapa e segurá-las.
Até há outras modalidades, mas pelo menos no período pré-lançamento em que testei o jogo, é bem difícil achar um grupo para testá-las.
OS APESARES
Apesar de ser um jogo bonito e com um gameplay excelente, curiosamente Battlefield V tem várias arestas técnicas a serem aparadas. Teve uma vez que eu cumpri o objetivo, mas o jogo não detectava isso. Tive que reiniciar o checkpoint e cumprir de novo, daí ele me deixou progredir.
Outras coisas menos graves envolvem presuntos em posições estranhas ou áreas nas quais você fica preso sem motivo.
Também achei curioso que a introdução da campanha permita que o jogador controle tanques e aviões, mas isso não aconteça em nenhum momento da história principal. No multiplayer há veículos. Teve uma vez que eu renasci dentro de um tanque, mas no meu tempo com o jogo não controlei um avião fora da introdução.
BATTLEFIELD V
Dizem por aí que talvez este seja o último Battlefield com campanha. Torço para que não seja. Aliás, torço para que mesmo o Call of Duty veja a luz e volte a criar aquelas intensas maravilhas do single player nos próximos lançamentos.
Despedida ou não, o fato é que a campanha de Battlefield V é boa, e merece ser jogada por aqueles que, como eu, estão carentes do bons shooters com história. O multiplayer também é bom, mas não é o tipo de coisa que vai atrair pessoas que já não são atraídas por jogar contra outros.
