Exatos quatro anos atrás, joguei e amei Mulaka. Aquele foi um jogo que colocou totalmente a desenvolvedora Lienzo no meu radar, tendo sido uma das melhores experiências que eu tive com jogos independentes. Assim, acompanhei com muito interesse o desenvolvimento de seu próximo jogo, ficando empolgado com cada novo vídeo e informação que eles enviavam. Hoje deu o embargo, e você sabe o que isso significa não? É hora da nossa análise Aztech Forgotten Gods.
ANÁLISE AZTECH FORGOTTEN GODS
A Lienzo até agora lançou três jogos bem diferentes. Hunter’s Legacy é 2D. Mulaka é um Zelda-like em 3D. Aztech Forgotten Gods é um boss rush em mundo aberto, que lembra em filosofia, mas não em gameplay, Shadow of the Colossus.
Pois é, em gênero, os jogos não poderiam ser mais diferentes. Mas mesmo assim, eles têm semelhanças temáticas, que fazem você sacar que são jogos da mesma empresa. Em especial, todos têm histórias relacionadas ao passado do México, país natal da galera.
Em Aztech Forgotten Gods, a Lienzo imagina um mundo em que os astecas não foram exterminados e se tornaram a cultura dominante. Com isso, eles foram capazes de evoluir sua cultura e tecnologia até criar grandes cidades. E, assim, as histórias de deuses e criaturas mágicas tão presentes nas lendas passaram a ser encarados como apenas isso… lendas. Legal, né?
A HISTÓRIA DE AZTECH FORGOTTEN GODS
Apesar de a ambientação me agradar MUITO, a história não é assim tão boa. Você controla uma moça que mexe em um artefato desconhecido em uma escavação arqueológica. Isso lhe concede poderes, mas acaba liberando seis gigantes malvados. Agora você deve vencer cada um deles, em uma sequência de batalhas contra chefes.
Ao contrário de Shadow of the Colossus, que também pode ser descrito como um “boss rush em mundo aberto”, Aztech Forgotten Gods tem um grande foco na história. Mais do que deveria, aliás. O principal problema é que não há vozes e quase não há animações nas cutscenes. Basicamente, você fica lendo um texto enquanto a câmera se alterna entre os personagens da cena. A coisa fica bem chata bem rápido.
O começo da aventura, por exemplo, tem vários de pequenos tutoriais de movimentação, intercalados com um monte de texto entre cada ação. E isso dura um bom tempo, mais de uma hora, até você encontrar o primeiro chefe. Durante todo esse tempo, fiquei pensando “ok, quando terminar esse tutorial, o jogo vai ser muito legal”. Mal sabia eu que aquele era o jogo.
COMO ASSIM?
Aztech Forgotten Gods funciona assim. Você deve ir a um ponto do mapa e ler os textos da cena que está lá. Daí voa até outro ponto e lê mais. Repita ad infinitum. Em seis intervalos desse vai e volta cheio de textos, você encontra chefes.
O jogo durou oito horas para mim, lendo toda a história. Porém, há um troféu de speed run que manda acabar em menos de duas. E isso me parece um tempo bem generoso. Na verdade, se você pular todas as cutscenes e for direto de um ponto a outro, vencendo os chefes, tenho a sensação de que dá para acabar o jogo em menos de uma hora, com tranquilidade. Isso porque quase não há gameplay.
O GAMEPLAY DE AZTECH FORGOTTEN GODS
O mapa pequeno e a movimentação, que permite voar rapidamente de uma ponta a outra, são os pontos positivos do mundo aberto. Porém, Aztech Forgotten Gods não tem o polimento do gameplay de Mulaka. Aqui tudo, dos controles à câmera, parecem meio quebrados. Simplesmente não é um jogo gostoso de controlar quando exige maior fineza.
Os chefes pelo menos são bacanas, tanto em design como nas batalhas em si. Em geral, você precisa fazer algo nos arredores dele para aparecer o ponto fraco. Daí, enquanto ele está atordoado, você se aproxima e martela o quadrado até o bichão se recuperar. O soco tem mira automática, e lembra bastante o homing attack do Sonic. Basta estar próximo do inimigo quando apertar o botão que não dá para errar.
O MUNDO ABERTO DE AZTECH FORGOTTEN GODS
E daí temos o mundo aberto. A história é linear, sempre com um único ponto do mapa que a avança. Mas há algumas missões secundárias sem história. Coisas como corridas ou arenas de combate e, claro, colecionáveis. Nada disso é realmente muito divertido, e estão lá basicamente para justificar o mundo aberto. Quem fizer todos eles ganha um troféu, e essa é basicamente a recompensa para completá-las.
Há upgrades, perucas e roupinhas a serem destravados com as duas moedas que você ganha em todas as lutas. E há também alguns inimigos comuns espalhados pelo mapa, que estão lá caso você queira dar uns soquinhos entre uma cutscene e outra. Mas eles não oferecem perigo para quem passa voando ao lado deles, e não afetam a história de forma alguma.
O que eu achei mais triste é que temos aqui os fundamentos para um jogo de mundo aberto que podia ser interessante. A movimentação é bacana, e poderia ser excelente com um pouco mais de polimento. Os chefes são bons, mas as atividades de mundo aberto não justificam o gênero, e há história demais, especialmente se considerar que não tem vozes nem animações mais detalhadas.
Eu consigo ver Aztech Forgotten Gods sendo um jogo muito bom. A história precisaria de muitos cortes, e cada chefe poderia ser precedido de uma fase de plataforma mais linear, mais ou menos como o tutorial. Isso talvez o tornasse tão bom quanto Mulaka. Mas este não é Aztech Forgotten Gods. E, do jeito que ele é, e considerando seu conteúdo, fica difícil recomendá-lo apenas para alguns chefes legais.