O assunto de hoje é um jogo rodeado por circunstâncias estranhas que alguns podem dizer que são até mais interessantes do que a obra em si. Então antes de começar a análise Aeon Must Die propriamente dita, vou resumir toda a situação para você entender o caso.

O CASO AEON MUST DIE

Oito dos desenvolvedores que trabalharam no jogo saíram da Limestone Games e formaram a Mishura Games. Porém, quando a campanha de marketing de Aeon Must Die começou, essa galera se sentiu lesada. Eles alegam que o trabalho deles que está no jogo final foi produzido sob abuso, não foi pago e foi feito em suas horas livres.

Basicamente, eles dizem que a Limestone Games e a editora Focus Entertainment roubaram o jogo deles. O mais estranho é que um desses oito, Aleksei Nehoroshkin, é um dos fundadores da Limestone, onde ele era o chief creative officer. Ou seja, ele tinha um cargo alto o suficiente para ser um dos opressores, não um dos oprimidos.

Análise Aeon Must Die, Aeon Mut Die, Limestone Games, Focus Entertainment, Delfos

Focus, editora de alguns jogos de médio orçamento muito legais, como o sensacional A Plague Tale e o soulslike The Surge, disse que a marca pertence de forma conjunta a ela e à Limestone, e que as duas são empresas diferentes, unidas apenas para este lançamento.

O povo que formou a Mishura exige que as obrigações legais da dev e da editora sejam cumpridas e que eles sejam pagos pelo trabalho feito. Isso é o resumo da ópera, mas se quiser mais detalhes, este artigo do Kotaku vai mais fundo.

Eu sinceramente não sei nem o que pensar sobre tudo isso. É um caso mais complexo do que os tradicionais devs forçados a fazer crunch, embora isso também faça parte das acusações. Certamente eu vou acompanhar o caso, que provavelmente será resolvido apenas nos tribunais. No restante desse texto, eu vou elaborar a tradicional análise Aeon Must Die, falando como o jogo é, seu gameplay e tudo mais. Me acompanha?

ANÁLISE AEON MUST DIE

Aeon Must Die é um beat’em up cheio de estilo e criatividade. Apesar de fazer parte de um gênero dos mais tradicionais dos games, ele consegue ser único, para o bem e para o mal. Então não pense que Aeon Must Die é parecido com Streets of Rage, pois não é.

Análise Aeon Must Die, Aeon Mut Die, Limestone Games, Focus Entertainment, Delfos

Aeon Must Die é APENAS porrada. Ou melhor, é porrada e história. Não há exploração. Quando tem interatividade é luta. Você não anda para a direita através de uma fase. Vai de uma arena cheia de inimigos para outra arena com mais inimigos.

ANÁLISE AEON MUST DIE: QUENTE E FRIO

O que torna Aeon Must Die único é a forma como ele trata sua vida. Basicamente, seus golpes e habilidades movimentam uma barra que fica embaixo da tela, que representa quão quente ou frio está seu corpo. Tudo que você faz movimenta a barra. Tomar porrada também.

Alguns inimigos deixam o herói mais quente. Outros mais frios. Os mais perigosos sempre levam a barra para o extremo mais próximo. E você quer evitar os extremos. Isso porque você só está realmente vulnerável nos extremos. Quando isso acontece, é necessário usar as habilidades que levam a barra para o outro lado. Porém, se você levar um único ataque antes de equilibrar a temperatura, é morte.

Análise Aeon Must Die, Aeon Mut Die, Limestone Games, Focus Entertainment, Delfos
Nesta imagem eu estou quente demais. É melhor esfriar a cabeça.

Isso deixa Aeon Must Die extremamente técnico. Um jogador muito habilidoso pode ficar completamente invencível, se for capaz de manter sua temperatura sempre equilibrada. A maioria de nós, vai morrer bastante. Eu, pelo menos, tendia a ficar desesperado sempre que atingia um dos extremos. E isso é uma verdadeira receita para o fracasso.

MORRER É APENAS O COMEÇO

A morte também é diferente aqui. Ao morrer, você perde um “propósito”, que é o jeito chique que ele chama as vidas. Quem te matou fica mais poderoso, e você pode desafiar o sujeito depois para recuperar seu propósito. Sim, é bem parecido com o sistema de nemesis do Shadows of War.

Perder todo o propósito não significa game over. Significa que Aeon assumirá o controle (falarei mais disso em breve). Quando isso acontece, você libera todos os upgrades e continua do início da fase em que morreu. Ou então pode escolher “morrer com honra” e voltar até o último chefe que venceu (ou seja, várias horas). Tudo indica que o Aeon assumir ou não o controle afeta o fim do jogo.

PODE VIR QUENTE QUE EU TÔ FERVENDO!

E daí tem a história. E, sem exagero, você vai passar mais do seu tempo com Aeon Must Die lendo do que de fato lutando. Cada arena é precedida por longos e cansativos diálogos. E embora o jogo traga muitas vozes, a história é contada apenas em balõezinhos estilo quadrinhos.

Você é um plebeu que foi possuído por Aeon. Aeon era um imperador que foi traído. Agora ele precisa de você para se vingar da traidora. E você precisa dele para chegar até a sua progenitora, que foi possuída pela traidora. Estar com Aeon no corpo te dá poder, mas exige muita força de vontade para você se manter no controle (medida nos seus “propósitos”).

INTERESSANTE, PORÉM REPETITIVO

O intertítulo acima reflete bem a sensação de jogar Aeon Must Die. O combate é legal, a forma como ele usa a temperatura como vida é única e interessante. E o visual e animações são estilosos pacas, com uma tremenda cara de HQ da Vertigo. Inclusive, movimentação, golpes e o estilo da coisa toda me lembraram um Comix Zone menos colorido. E eu adoro Comix Zone.

Análise Aeon Must Die, Aeon Mut Die, Limestone Games, Focus Entertainment, Delfos
Estiloso paca.

A questão é que depois de um tempo, ele fica entediante. Basicamente, você encara os inimigos até eles pararem de vir. Daí fica vários minutos lendo. Aí começa outra arena onde você distribui sopapos até parar de vir gente. Depois é hora de ler. Daí… você entendeu, não?

A única coisa que quebra essa rotina são os chefes, que certamente são os momentos visualmente mais chamativos. Porém, todas as batalhas com chefes são extremamente longas e arrastadas. Nenhuma delas me deu o prazer que as brigas com os minions me davam. Mas mesmo assim, apesar das mecânicas criativas, Aeon Must Die é um jogo que deveria terminar em umas duas horas. Mas ele dura muito mais que isso.

AEON TINHA QUE ACABAR ANTES

Acaba dando aquela sensação de “caramba, não acaba nunca isso aí, não?”. E isso é algo que você definitivamente não quer em um jogo. Graças à longa duração e a quão repetitivo é, talvez funcione melhor em condições normais. Ou seja, alguém que vai pegar para jogar uma ou duas fases por vez. Definitivamente Aeon Must Die não é um game para maratonar.

Ainda assim, ele é criativo e estiloso o suficiente para que eu o recomende para fãs do gênero dispostos a curtir um que subverta as regras conhecidas, e que pretenda jogar casualmente.