Minha relação com a música não é uma relação. Meu corpo é feito disso, além de tudo aquilo que ensinam os livros de anatomia. Quando era apenas uma guriazinha, adorava cantar, dançar e ouvir música o tempo todo. Ah, meu Walkman vermelho… Bem, ao menos cantar e ouvir permanecem até hoje.
PRIMEIRAS INFLUÊNCIAS
Até os meus 10 anos, consumia muito do que a mídia colocava na minha cabeça, isso inclui muita porcaria musical como É o Tchan e coisas do gênero. O bacana é que ao mesmo tempo em que eu era bombardeada com porcarias de duplo sentido, minha família contribuía ampliando meus horizontes de maneiras subliminares. Meu padrinho (já falecido) adorava cantar I Should Have Known Better dos Beatles, mesmo sem saber a letra, enquanto se declarava para minha madrinha durante o café da manhã em família. Sim, era extremamente fofo, embora a letra se resumisse a “tchu dju dju love you dju”. 🙂
Nessa mesma época, um dos meus primos tentou me apresentar o Led Zeppelin. Colocou uma fita k7 (hoho) do álbum IV, tocando Misty Mountain Hop, e perguntou o que eu achava. Infelizmente, achei horrível. Não entendia o que eles diziam e isso me desapontou um pouco. Quão tolinha eu era! Só bem mais tarde, ou seja, alguns anos atrás, é que eu tive curiosidade de conhecer a banda de verdade e acabei me apaixonando por todo o trabalho dos caras.
Embora eu não tenha gostado por causa da letra, o som me agradou e de alguma forma abriu minha cabeça para coisas novas. Foi aí que algumas músicas que meu pai e meu tio ouviam me pegaram também. Comecei a conhecer o rock nacional das décadas de 80 e 90 e simplesmente caí de amores por Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii, detentores das músicas mais “pesadas” que eu conhecia na época: Faroeste Caboclo e Era um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones. Poxa, elas falavam sobre morte, guerra, perdas e tinham até palavrão! E eu não fazia ideia do que era um “bítou” ou um “olistôn”.
TOMANDO GOSTO PELA COISA
A partir daí, fui conhecendo o produto regional aos poucos. Bandas como TNT, Os Cascavelletes e Garotos da Rua começaram a ganhar espaço nos meus ouvidos. Aos 13, conheci o punk rock do Tequila Baby, o grunge do Nirvana e a amizade de uma gurizada que considero irmãos até hoje.
Dessa época em diante, caí com tudo em bandas como Acústicos & Valvulados, Bidê ou Balde, Cachorro Grande, Blink 182, Sum 41, Green Day, Foo Fighters, The Offspring e CPM 22. Costumava dizer que o melhor show da minha vida foi o do CPM 22 em Veranópolis (minha pequena cidade natal, na serra gaúcha). Pode rir, delfonauta, mas na época aquilo pareceu um milagre! Aí me apaixonei por Sex Pistols, Os Replicantes e Ramones, e tive a honra de assistir ao Marky Ramone em sua turnê junto com Tequila Baby na minha cidadezinha, em 2006. E o show do CPM 22 foi colocado de escanteio, e se tornou apenas uma lembrança carinhosa.
O cinema teve muita importância na formação do meu gosto musical e, por consequência, no que eu sou hoje. Grease e The Wonders me fizeram pesquisar sobre o rock dos anos 50 e 60, e então Elvis, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, a nossa Jovem Guarda e mais uma turma entraram no hall dos favoritos da Tis.
Ao mesmo tempo, desenvolvi um certo gosto por música clássica. Que mistureba, né? O Fantasma da Ópera de Andrew Lloid Webber foi o responsável por isso. E Sarah Brighman passou a ser minha musa. Lembro-me de tê-la visto se apresentando no programa da Hebe, enquanto eu babava na frente da TV sonhando em um dia ser como ela. Outro momento que carimbou o canto lírico em mim foi este aqui ó:
O CHAMADO
O Metal entrou na minha vida lá pelos 13 anos, quando uma prima me mostrou um CD que tinha na capa um monstro que parecia ser feito de tronco de árvore, dizendo que aquilo era pesado e era melhor eu não ouvir se tivesse medo. Era nada mais, nada menos que o Fear of The Dark, do Iron Maiden. Como minha cidade era minúscula e a internet era cara, discada e mirrada, não pude pesquisar muito e acabei conhecendo melhor a Donzela só mais tarde.
Aos 14, conheci o Shaman e a tremendona Fairy Tale, que me arranca suspiros até hoje. E, sim, conheci graças àquela novela que passava na Globo. Mais tarde, um amigo emprestou o CD Ritual. Adorei a voz do Andre Matos, o experimentalismo, a vibração e a força da música. Finalmente havia encontrado um estilo que preenchia quase toda a minha necessidade musical. Era complexo como a música clássica e agressivo como o punk. Mas ainda faltava alguma coisa.
Um maldito dia, meu computador deu problema e tive que mandar para a manutenção. Quando o velhinho voltou para casa, notei que havia algumas músicas a mais na minha lista, e tinha um tal de Rhapsody. Isto, caro delfonauta, foi um verdadeiro achado. A mistura escancarada de música clássica com heavy metal, com direito a vocais extravagantemente líricos, poesia, solos eternos e muita pompa. Era isso o que eu estava procurando o tempo todo.
Então eu entrei em um mundo maravilhoso, cheio de unicórnios, arco-íris, mitologia e homens musculosos besuntados em óleo vestindo sungas de pelúcia. Eu recebi o chamado do Deus Metal e fui abençoada pelo Vento Preto. Descobri o Nightwish, e por mais mariquinha que ele seja considerado pelos trües, é um dos principais responsáveis pelo meu amor ao heavy metal.
O vocal feminino era meu padrão de busca, e descobri Epica, Within Temptation, Tristania, Lacuna Coil, Arch Enemy, Therion e várias outras. Cada uma de um estilo diferente, e assim fui descobrindo outras vertentes. Interessei-me por guturais e descobri o Sepultura, banda que protagonizou meu primeiro show de Metal, ao lado de Korzus e Massacration Hail!. Korzus por sua vez me apresentou o Thrash Metal e ao lindo mundo que se escondia em uma tal de Bay Area.
A mistura de cultura local com o metal foi outro achado histórico. Sempre tive muita curiosidade sobre povos antigos e por isso ganhei uma certa bagagem de conhecimento e paixão sobre o assunto o que me ajuda muito em jogos como o Age of Mythology. Eluveitie, Corvus Corax, In Extremo, Korpiklaani, Tierramystica, Shaman e Arkona são algumas das bandas que eu conheci, e aceito mais sugestões. 🙂
LADO B
Ei, calma! Ainda não acabei. Você deve lembrar que eu posto uma quantidade considerável de notícias sobre rock alternativo, certo? Pois bem. Sob a influência do blues, rockabilly, rock de garagem e do punk, eu adquiri gana por feeling e improviso em palco. Coisas que eu encontro com mais frequência no alternativo do que no metal.
Jack White é o grande nome nesse “setor”, para mim. Até hoje, tudo o que ele fez caiu nas minhas graças. The White Stripes, The Dead Weather, The Raconteurs e agora em carreira solo.
Nem só do senhor Branco vive o resto do mundo alternativo! The Kills, The Hives, The Strokes, She & Him, Pato-Fu, Móveis Coloniais de Acaju e Shivaree são algumas das bandas que figuram na minha playlist diária. E não, eu não sou hipster, apenas gosto de variar um pouquinho.
FINALIZANDO
Acho engraçado o fato de que bandas como AC/DC, Motörhead, Guns N’ Roses e Black Sabbath sempre estiveram lá. Não consigo definir em que período eu comecei a ouvir, é como se elas sempre estivessem por perto, tocando de vez em quando e me fazendo viciar em pequenas doses.
Hoje sou uma fã de rock em muitas de suas vertentes. Não sigo apenas um estilo, gosto da música em si e o rock é a minha paixão maior. Isso não exclui o fato de admirar a bossa nova, ouvir uma moda de viola com meu pai e me derreter ouvindo uma milonga. Não conheço todas as bandas e estilos do mundo, mas quem sabe um dia eu chego lá?
NÃO DEIXE DE LER O RESTO DA SÉRIE “DELFIANOS E O ROCK”:
– O Bruno e o Rock: o texto que deu origem à série.
– O Corrales e o Rock: heavy metal,hard rock e mamãe.
– O Cyrino e o Rock: guitarras dissonantes e alternativas.
– O Guilherme e o Rock: só os elementos mais pesados da tabela periódica.
– O Allan e o Rock: alternativo e MTV.
– O Pscheidt e o Rock: mais conhecido como o “cara, você é muito poser”.
– O Daniel e o Rock: ele diz que curte metal, mas só ouve bandas estadunidenses.
– A Joanna e o Rock: música de menininha sim, e com orgulho
– O Flávio e o Rock: seduzido pela Donzela.