Creio que é seguro dizer que hoje em dia o físico inglês Stephen Hawking tomou o posto que já foi de Albert Einstein e posteriormente do Dr. Emmett Brown como o cientista mais famoso do mundo. O cara é tão pop que até em The Big Bang Theory já apareceu.
Por isso é até estranho que ele tenha demorado tanto a ganhar uma cinebiografia. Em 2004, sua vida virou um telefilme, onde ele era interpretado pelo Benedict Cumberbatch. Mas na tela grande, só mesmo com A Teoria de Tudo, que chega agora aos nossos cinemas.
E para ser bem preciso, já que o filme é baseado em um livro escrito por Jane Hawking, esposa do cientista, ele na realidade é mais focado no relacionamento de décadas do casal, desde quando eles se conheceram na faculdade até uma época mais recente, quando o cara ganhou uma medalha e a oferta de título de cavaleiro da rainha.
Por ser mais centrado na relação entre os dois, coisas mais científicas, como as teorias de Stephen a respeito do início do tempo, buracos negros (coisas que nem vou fingir que entendo, visto que física sempre foi a matéria mais incompreensível para mim em meus tempos de escola) e seus livros, sobretudo Uma Breve História do Tempo, o qual fez muito sucesso mundialmente, são tratados de maneira bastante superficiais e de forma bem rápida, o que pode deixar fãs mais nerds bastante decepcionados.
Na verdade, apesar deste filme ser sobre uma figura que acredito ser do interesse de grande parte dos delfonautas, o longa em si não o é justamente por não focar no trabalho do cara ou em seu processo científico, e sim na parte novelona da sua vida. Grande parte tratando de seu já referido relacionamento com Jane. E outra parte considerável mostrando a doença degenerativa que o deixou numa cadeira de rodas.
Nesses dois últimos aspectos, o filme ganha muito com as ótimas atuações da dupla de protagonistas. Ambos acabaram indicados ao Oscar. Mas vale menção em especial para Eddie Redmayne, num trabalho espantoso de linguagem corporal e dicção para retratar Hawking nos mais variados estágios da doença. Sem contar que a maquiagem o deixou mesmo igualzinho ao cara.
Outro ponto de destaque é a excelente reconstituição de época, visto que grande parte do filme se passa na Inglaterra dos anos 1960. E por aí, você já sabe onde quero chegar. Capricho técnico, boas atuações, mas uma história bem quadradinha e sem grandes predicados. É, isso aqui acaba sendo no máximo um filme nada.
Embora alguns aspectos da trama tenham sido até surpreendentes para mim, como o momento em que rola uma espécie de triângulo amoroso na vida do casal com a aproximação de um cara que vira um amor platônico de Jane e praticamente um enfermeiro para Stephen, ainda assim é o tipo de história que não faz minha cabeça e se vale de um monte de lugares comuns para mostrar ao espectador como, através de todas as dificuldades, o casal conseguiu superá-las e fazer de Stephen uma das maiores mentes científicas do mundo. Mas isso tudo você já sabia sem ter de cair em sentimentalismo adocicado.
Assim, A Teoria de Tudo acaba numa encruzilhada. É a história de uma figura de interesse, que sem dúvida merecia um longa-metragem, mas não é a história que eu, e acredito que muitos outros, gostariam de ver. Para mim não valeu a pena, e pessoalmente não recomendo, mas por outro lado, para quem gosta desse tipo de enredo de superação, mesmo sendo o lado menos apetecível de um personagem, pode ser um programa mais atraente.